Finanças

IPCA-15 registra alta de 0,59% em maio

Índice desacelerou, por outro lado é a maior taxa para o mês apresentada em seis anos, de acordo com o IBGE
IPCA-15 registra alta de 0,59% em maio
Crédito: REUTERS/Sergio Moraes

Rio – O IPCA-15 desacelerou em maio, mas ainda assim surpreendeu com alta acima do esperado e registrou o resultado mais intenso para o mês em seis anos, com a taxa acumulada em 12 meses bem acima de 12% e no maior nível em 18 anos e meio.

Em maio, a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) desacelerou a 0,59%, de 1,73% no mês anterior, de acordo com dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar do número mais baixo, a leitura mensal da prévia da inflação brasileira representa a maior variação para um mês de maio desde 2016 (+0,86%) e fica acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,45%.

Mesmo com o alívio, o índice passou a acumular em 12 meses inflação de 12,20%, o resultado mais alto desde novembro de 2003, quando chegou a 12,69%. A expectativa para o dado em 12 meses era de alta de 12,03%.

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Isso representa quase 2,5 vezes o teto da meta oficial para a inflação este ano, que é de 3,5%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.

“A inflação está agora não apenas muito elevada como também altamente disseminada, com projeção de que a taxa permanecerá acima de 10% até outubro de 2022 e acima de 8% até março de 2023”, avaliou em relatório o diretor de pesquisa econômica para a América Latina no Goldman Sachs, Alberto Ramos.

Reajustes de preços vêm garantindo a persistência das pressões inflacionárias no País, bem como o cenário internacional, com lockdowns na China e sanções contra a Rússia devido à guerra na Ucrânia.

Em maio, o item de maior influência no IPCA-15 foi produtos farmacêuticos, com aumento de 5,24% nos preços após reajuste de até 10,89% autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Isso levou o grupo Saúde e cuidados pessoais a registrar avanço de 2,19%, a maior alta, de acordo com o IBGE.

Também se destacou a alta de 1,80% do grupo dos Transportes, embora tenha desacelerado em relação à taxa de 3,43% de abril. A maior contribuição para o grupo veio do item passagens aéreas, cujos custos dispararam 18,40%.

Os combustíveis também seguiram em alta, de 2,05% no mês, mas bem abaixo dos 7,54% do mês anterior, com aumentos de 1,24% da gasolina e de 7,79% do etanol.

Mas em maio a entrada em vigor da bandeira tarifária verde para as contas de energia impediu um salto ainda maior do IPCA-15, após seis meses de bandeira “Escassez Hídrica”. A energia elétrica registrou queda de 14,09%, levando o grupo Habitação a uma deflação de 3,85% no mês.

Selic

Em sua luta para reduzir a inflação, o Banco Central já elevou a taxa básica de juros Selic a 12,75%, e reconheceu que há uma deterioração na dinâmica inflacionária do Brasil, apesar do ciclo “bastante intenso e tempestivo” de ajuste nos juros.

Uma política monetária mais apertada tende a moderar os gastos dos consumidores e, consequentemente, conter a alta dos preços, mas por outro lado restringe a atividade econômica.

“Dado que as pressões da inflação estão para cima, achamos que não vai ter como o Banco Central para de subir juros tão rápido. Continuamos achando que vai ter que subir pelo menos mais duas vezes”, com cenário de 14,25% para a Selic terminal em 2022, disse a economista para Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho.

Inflação deve perder força, mas vai continuar elevada

Brasília – Para quem olha apenas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o pior parece estar ficando para trás – mas isso não quer dizer que o consumidor sentirá um alívio no bolso tão cedo. Após provavelmente ter atingido o seu pico, a inflação tende a arrefecer de forma lenta nos próximos meses.

“A gente fala muito de desinflação, que é uma taxa de inflação menor. Isso significa preços acelerando menos, mas cada vez mais altos. Para o consumidor, ainda é um período pesado para os gastos”, afirma o economista do Itaú Unibanco, Júlia Passabom.

No acumulado em 12 meses até abril, o IPCA ficou em 12,13%, maior nível desde outubro de 2003 (13,98%). Ontem, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) atingiu 12,20%, com elevação de 0,59% em maio, ante alta de 1,73% no mês anterior, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O que ajudou a segurar o resultado de maio foi a deflação do grupo habitação (-3,85%), puxada pelo fim da cobrança extra na tarifa da conta de luz, com a passagem da bandeira de escassez hídrica à verde a partir de 16 de abril. Transportes e vestuário apresentaram taxas menores, alimentação e bebidas também recuaram.

De acordo com as projeções do Itaú, a inflação deve permanecer no ritmo de 10% até o fim do terceiro trimestre e sair do patamar de dois dígitos apenas em outubro. A expectativa do banco é de que o indicador encerre 2022 ainda pressionado, em 8,5%, refletindo preços administrados (combustíveis) mais elevados e desinflação de bens no segundo semestre.

O economista sênior da AZ Quest, Mirella Hirakawa, vê como risco a uma inflação mais comportada possíveis reajustes nos preços de combustíveis, que impactam rapidamente a renda da população, além de gargalos vindos de industriais, ainda bastante pressionados.

Em suas projeções, o IPCA deve se manter em um platô em torno de 11% a 12% até agosto, recuando para um dígito também no mês de outubro, até fechar o ano em 9,3%.

A disparada da inflação é reflexo de uma série de choques inflacionários sucessivos desde meados de 2020, começando por alimentos (alimentação no domicílio), seguido por administrados (energia), até atingir industriais (bens). “Quem se contamina por último é a parte de serviços, que é muito mais persistente e inercial”, diz Júlia Passabom, do Itaú.

Além de elevada, a inflação está bastante disseminada. A economista Margarida Gutierrez, professora do Coppead/UFRJ (Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro), destaca que núcleos continuam pressionados e que mais de 70% dos preços que compõem a cesta subiram em abril, com índice de difusão de 78,25%.

Reajustes de preços vêm garantindo a persistência das pressões inflacionárias no país, bem como o cenário internacional, com lockdowns na China e sanções contra a Rússia devido à guerra na Ucrânia.

Dado o contexto internacional, o ex-diretor do Banco Central e sócio fundador da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, observa que o mundo ainda não se encontra no pico de inflação, mas que o Brasil está em uma situação diferente.

A primeira razão, segundo ele, é o fato de o País ser exportador de commodities e ter o choque atenuado pela taxa de câmbio, que tende a ficar um pouco mais apreciada. Em segundo lugar, pontua o estágio avançado do ciclo de aperto monetário no Brasil. (Folhapress)

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