Finanças

Juros do consignado sobem após lançamento do Programa Crédito do Trabalhador

Taxa média praticada no mercado atingiu 59,1% ao ano em abril, ante 44% no mês imediatamente anterior, de acordo com o Banco Central
Juros do consignado sobem após lançamento do Programa Crédito do Trabalhador
Segundo o BC, impulsionado pelas contratações do crédito do trabalhador, facilitado via Carteira Digital de Trabalho, as concessões de crédito consignado para o setor privado cresceram 148,7% | Foto: Adriano Machado / Reuters

Brasília – Os juros do crédito consignado para trabalhadores do setor privado subiram 15,1 pontos percentuais (pp) em abril, passando de 44% ao ano em março para 59,1% em abril. Em 12 meses, o aumento é de 20,6 pp. Os dados são das Estatísticas Monetárias e de Crédito, divulgadas nesta quinta-feira (29) pelo Banco Central (BC).

A alta ocorreu em meio ao lançamento do Programa Crédito do Trabalhador, do governo federal, para facilitar e baratear os juros do empréstimo consignado a trabalhadores registrados com carteira assinada (CLT). O programa foi instituído em março e, naquele mês, o aumento nos juros foi de 3,1 pp. Até então, as variações na taxa dessa carteira de crédito chegavam a até 1 pp.

Segundo o BC, impulsionado pelas contratações do crédito do trabalhador, facilitado via Carteira Digital de Trabalho, as concessões de crédito consignado para o setor privado cresceram 148,7% em abril, com 7,4% de aumento no saldo da carteira.

Em abril, nas novas contratações de crédito para as famílias, a taxa média de juros livres atingiu 57,4% ao ano, com altas de 1,1 pp no mês e de 4,6 pp em 12 meses. De acordo com o BC, além do incremento no consignado para o setor privado, outro destaque foi o aumento de 2 pp no crédito pessoal não consignado.

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Nas contratações para as empresas, a taxa média do crédito livre ficou em 26% ao ano, com aumento de 2,4 pp no mês e de 4,7 pp em 12 meses. Nesse caso, se sobressaíram as elevações nas taxas médias de cheque especial pessoa jurídica (30,8 pp) e de conta garantida (24 pp).

A taxa média de juros para as famílias e as empresas chegou, em abril, a 45,3% ao ano nas concessões de empréstimos no crédito livre. O resultado representa um aumento de 1,1 pp em um mês e de 4,6 pp em 12 meses, segundo o BC.

A elevação dos juros bancários acompanha um momento de alta da taxa básica de juros da economia, a Selic, definida em 14,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

Custo

As estatísticas mostram que a taxa de captação de recursos livres dos bancos – o quanto é pago pelo crédito – também vem subindo, variando 0,2 pp no mês, para baixo, mas com alta de 3,2 pp em 12 meses, chegando a 14% em abril.

Já o spread bancário nas operações com recursos livres, que mede a diferença entre o custo de captação e as taxas médias de juros, alcançou 31,3 pp, com incrementos de 1,9 pp no mês e em 12 meses.

Direcionado

No crédito livre, os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes. Já o crédito direcionado, com regras definidas pelo governo, é destinado basicamente aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao microcrédito.

No caso do crédito direcionado, a taxa para pessoas físicas ficou em 11,1% ao ano em abril, com redução de 0,3 pp em relação ao mês anterior e alta de 1,2 pp em 12 meses. Para empresas, a taxa caiu 2,4 pp no mês e aumentou 4,6 pp em 12 meses, indo para 15,9% ao ano.

A taxa média no crédito direcionado ficou em 12,2% ao ano, redução de 0,7 pp em abril e alta de 2 pp em 12 meses.

Concessões somaram R$ 639,9 bilhões

Em abril, as concessões de crédito chegaram a R$ 639,9 bilhões. O incremento foi de 4,3%, resultado dos aumentos de 2,9% nas operações para as pessoas físicas e de 6% para as empresas.

O estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) ficou em R$ 6,597 trilhões, um crescimento de 0,7% em relação a março. Na comparação interanual, com março do ano passado, o crédito total cresceu 11,5%.

Crédito consignado
Custo elevado do crédito e incertezas quanto à economia brasileira resultam em maior cautela por parte do empresariado | Foto: Repodução Adobe Stock

Já o crédito ampliado ao setor não financeiro, o crédito disponível para empresas, famílias e governos, independentemente da fonte que pode ser bancário, mercado de título ou dívida externa, alcançou R$ 18,989 trilhões, com aumento de 0,7% no mês, refletindo, principalmente, os acréscimos de 1,4% nos títulos públicos de dívida e de 0,7% nos empréstimos do SFN. Em 12 meses, o crédito ampliado cresceu 13,5%, com avanços de 13,9% nos títulos de dívida e de 10,9% nos empréstimos.

Endividamento

Segundo o Banco Central, a inadimplência, os atrasos acima de 90 dias, se mantém estável há bastante tempo, com pequenas oscilações, registrando 3,5% em abril. Nas operações para pessoas físicas, situa-se em 4,1%, e para pessoas jurídicas, em 2,5%.

O endividamento das famílias, a relação entre o saldo das dívidas e a renda acumulada em 12 meses, ficou em 48,6% em março, aumento de 0,1 pp no mês e de 0,8 pp em 12 meses. Com a exclusão do financiamento imobiliário, que pega um montante considerável da renda, o endividamento ficou em 30,4% em abril.

Já o comprometimento da renda, que é a relação entre o valor médio para pagamento das dívidas e a renda média apurada no período, ficou em 27,2% em março, redução de 0,1 pp na passagem do mês e alta de 1% em 12 meses.

Esses dois últimos indicadores são apresentados com uma defasagem maior do mês de divulgação, pois o Banco Central usa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Demanda por parte de empresas caiu no Sudeste

Em março, os negócios da região Sudeste registraram queda na demanda por crédito em todos os estados. O maior recuo foi no Espírito Santo, com retração de -55,9 pontos percentuais em relação ao mesmo mês do ano anterior – passando de 28,1% em março de 2024 para -27,8% em março de 2025. O único estado a registrar reversão positiva foi Minas Gerais, que saiu de -6,0% para 2,5%. Os dados são do Indicador de Demanda das Empresas por Crédito da Serasa Experian.

No cenário nacional, a demanda das empresas por crédito registrou uma alta mais moderada em março, com avanço de 0,9%. O crescimento foi impulsionado pelos micro e pequenos empreendimentos, os únicos que apresentaram alta na procura pelo recurso financeiro (1,1%). Já as empresas de médio e grande porte registraram queda, de 4,8% e 4,7%, respectivamente.

“O ritmo mais moderado na demanda por crédito em março reflete um cenário de cautela por parte das empresas diante desafios como o custo elevado do crédito e as incertezas econômicas provocadas pelo ambiente de juros elevado. No entanto, notamos que os micro e pequenos empreendedores continuam buscando financiamento, muitas vezes como alternativa para manter suas obrigações”, explica a economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack.

Ainda no comparativo ano a ano, na análise por setor, a categoria “Demais” registrou alta de 4,7% nas solicitações. O setor de “Serviços” também se destacou, com crescimento de 3,3%, seguido pela “Indústria”, com aumento de 2,9%. Por outro lado, “Comércio” foi o único segmento a apresentar queda, com retração de 2,5% na busca por crédito em relação ao ano anterior.

Em março de 2025, 19 das 27 Unidades da Federação registraram alta na demanda por crédito entre as empresas. O destaque ficou com Santa Catarina, que liderou a expansão com crescimento de 34,9%. Já o Espírito Santo apresentou maior queda, de 27,8%.

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