Mais de 40% dos brasileiros estão negativados

São Paulo – Faltando poucos dias para o fim de 2024, uma parcela dos consumidores deve colocar a quitação das dívidas na lista de metas traçadas para o próximo ano. De acordo com uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), feita em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), quatro em cada dez brasileiros adultos (41,51%) estavam com os nomes negativados em novembro de 2024. O número representa 68,62 milhões de consumidores e é 1,48% maior quando comparado ao mesmo mês do ano passado.
Os bancos e cartões de crédito aparecem no topo dos motivos que levaram aos endividamentos, representando 65,26% das dívidas. O comércio está em segundo lugar, com 10,46%. Na sequência, vem o setor de água e luz, com 10,01%. Outros tipos de dívida concentram 8,35% das pendências financeiras.
A CNDL explica, ao longo do levantamento, que a inflação dos alimentos impactou a renda, agravando a situação de endividamento. A expectativa da entidade é que com a entrada do 13° salário e da renda extra do final do ano os consumidores priorizem o pagamento das dívidas.
A poucos dias da virada do ano, especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo dão dicas de como os consumidores podem se reorganizar e sair do vermelho no próximo ano. Elaborar uma planilha com os detalhes dos gastos e da receita que entra e sai no orçamento é o primeiro passo para quem deseja se organizar financeiramente, afirma Bolivar Godinho, professor na Escola Paulista de Política, Economia e Negócios/Unifesp.
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“Quando você relaciona as despesas, consegue ver o que pode ser cortado. É possível cancelar um serviço de streaming que não está sendo utilizado e reduzir as refeições fora de casa, por exemplo”, sugere. O consumidor também pode negociar descontos com um determinado prestador de serviços. “No caso dos planos de celulares, é possível trocar um mais caro por outro mais barato”, ressalta.
A Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar) recomenda que 50% da renda seja destinada às despesas essenciais. Outros 30% podem ser reservados para lazer e estilo de vida, enquanto 20% devem ser direcionados aos investimentos ou quitação de dívidas. Caso o consumidor tenha dívidas mais altas, as porcentagens podem ser ajustadas temporariamente para acelerar a quitação.
O professor da Unifesp aconselha que, além de reduzir as compras no cartão de crédito, os consumidores não parcelem as compras: “É melhor esperar ter o dinheiro em mãos”, pondera.
Os juros do rotativo, cobrado quando a fatura não é paga até o vencimento, são um dos mais altos do mercado. O percentual variou de 438,4% ao ano em setembro para 438,9% em outubro, aponta o Banco Central (BC).
Já a taxa do parcelado caiu de 185,8% para 178,1%.Nos tempos em que se pretende economizar, a orientação é que o consumidor tenha apenas um cartão de crédito.
Ao pensar na organização financeira, a pessoa pode encontrar uma segunda fonte de renda. Um trabalho extra ou vender objetos que estejam sem uso surgem como opções, lembra Godinho.
Outro passo importante na organização financeira envolve a pesquisa de preços antes da realização de uma compra. Segundo Godinho, isso pode ser aplicado em supermercados, onde é possível avaliar a substituição de marcas por outras mais baratas. “Também é importante evitar compras por impulso, especialmente de itens muito caros, como roupas de grife”, destaca o especialista.
Metas
O consumidor pode criar uma meta de valor a ser poupado todos os meses. “Nem que seja um valor pequeno”, afirma Godinho. A economia se estende aos hábitos. É importante economizar água e energia elétrica, evitando deixar luzes acesas ou itens, como televisão e ar-condicionado, ligados em ambientes que não estejam ocupados.
O dinheiro economizado pode ser investido na sequência. Alternativas como Tesouro Direto, CDBs e fundos de investimento podem ser boas opções para quem está começando, propõe a Planejar.
Para os especialistas ouvidos pela reportagem, pagamentos como o do 13° salário, devem ter como prioridade o pagamento das dívidas. “No caso das com o cartão de crédito, o melhor é tentar negociar com o banco. Quando não há uma proposta interessante, é recomendado pagar o valor mínimo da fatura”, avalia Paulo Jordão, professor do Departamento de Ciências Contábeis da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Para Jordão, o consumidor pode tentar buscar um empréstimo com taxas menores para pagar dívidas com juros maiores. “A economia, no entanto, não está propícia para esse tipo de coisa. A Selic foi para 12,25% em dezembro, o que significa que os juros estão mais altos. Se o consumidor contraiu uma dívida anterior, como um empréstimo, a taxa dessa contratação está melhor do que será futuramente. A não ser que ele seja funcionário público e consiga um consignado com uma taxa menor”, comenta.
Reportagem distribuída pela Folhapress
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