Finanças

Mercado aposta em manutenção da taxa Selic em 10,5%

Recentes derrotas de Fernando Haddad aumentaram o risco fiscal e ajudam a explicar um pouco a expectativa das instituições financeiras
Mercado aposta em manutenção da taxa Selic em 10,5%
Crédito: Reprodução Adobe Stock

São Paulo – As chances de que novos cortes na Selic sejam feitos pelo Banco Central (BC)neste ano diminuíram ao longo das últimas semanas, avaliam analistas. As recentes derrotas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em seu esforço para aumentar a arrecadação provocaram uma elevação no risco fiscal e, agora, diversas instituições esperam que a taxa básica de juros seja mantida nos atuais 10,50% nas próximas reuniões.

Algumas, inclusive, não antecipam cortes nem em 2025, como é o caso do Itaú e da XP. A projeção do Itaú Unibanco foi alterada na última segunda-feira (10). Antes, o banco esperava mais um corte na Selic, chegando a 10,25% em dezembro.

Na quarta-feira (12), o Santander mudou sua projeção para a Selic ao fim deste ano de 9,75% para 10%, destacando que a inflação, a expansão fiscal e os preços das commodities pioraram desde a última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, em maio.

“O caminho mais prudente (para o BC) é interromper o ciclo de corte (na Selic) até que os riscos e a inflação projetada melhorem”, diz Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs.

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A estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano aumenta desde abril, se afastando cada vez mais da meta estipulada de 3%. Segundo o último Focus, o mercado espera, em média, uma alta de 3,90% no índice deste ano.

Com o mercado de trabalho aquecido e as enchentes no Rio Grande do Sul, o IPCA acelerou de 0,38% em abril para 0,46% em maio, acima das projeções. “É uma leitura que reforça nosso cenário de que o BC deve interromper o ciclo de corte de juros já na próxima reunião (de junho)”, diz Alexandre Maluf, economista da XP.

Outro fator que deve elevar os preços ainda mais é a alta do dólar, que saltou da faixa dos R$ 5,10 para os R$ 5,40 no último mês. “Caso o câmbio se mantenha nos atuais patamares por um longo período de tempo, diminui a possibilidade de afrouxamento monetário pelo BC no futuro, podendo até subir (a Selic) a depender da magnitude dos efeitos”, afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Reserach.

Os juros futuros apontam para o cenário de alta em 2025. Na última quarta-feira (12), o contrato para julho de 2025 terminou o pregão a 11,07%. Ou seja, uma alta de 0,5 ponto percentual na taxa em um ano.

Segundo Ramos, a desvalorização do real e a alta nos juros futuros são reflexo do aumento da preocupação de investidores com a saúde fiscal do Brasil. “O ambiente, que vem azedando gradualmente, piorou com mais intensidade nos últimos dois meses, com a mudança substancial nas metas fiscais”, alerta.

Apesar do cenário de aversão a risco, o economista ainda vê espaço para dois cortes na Selic este ano, considerado que o Fed (banco central dos EUA) também reduza sua taxa, “mas com convicção cada vez menor”. Seriam reduções de 0,25 ponto percentual cada uma, uma em novembro e outra em dezembro, levando a taxa para 10%.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, compartilha desta visão. “A percepção de risco maior é que o governo provavelmente terá que revisar a meta fiscal, pois não temos mecanismo para controlar (os gastos). Acabou a confiança no arcabouço”, avalia.

Segundo Rafaela, além de as últimas tentativas do ministro Fernando Haddad de elevar a arrecadação terem falhado, os gastos estão maiores do que o previsto no Orçamento. “O gasto subiu muito mais do que o esperado, e esperamos uma atitude (do governo) em resposta que não veio”, ressalta a economista, que alterou sua previsão da Selic ao fim de 2024 de 9,75% para 10,50%. (Júlia Moura)

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