Mesmo em desaceleração, crédito amplo mantém ritmo de crescimento elevado, diz Comef, do BC

O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central (BC) destacou nesta quarta-feira (27) que, ainda que registre desaceleração na ponta, o crédito amplo segue em ritmo de crescimento elevado, mesmo em um ambiente com taxa básica de juros contracionista e elevado endividamento de famílias e empresas.
“Os sinais de desaceleração do crédito tornaram-se mais evidentes, mas o ritmo de crescimento segue historicamente elevado. Essa desaceleração era esperada e está alinhada às condições financeiras mais restritivas e à moderação do crescimento da atividade econômica. No crédito às pessoas físicas, observa-se desaceleração em todas as modalidades, exceto no crédito não consignado. Para as pessoas jurídicas, o crescimento do crédito bancário desacelerou para empresas de todos os portes, exceto para as médias”, registrou a ata publicada nesta quarta-feira (27).
Na semana passada, o colegiado manteve o Adicional Contracíclico de Capital Principal do Brasil em 0%. O ACCPBrasil é uma parcela do capital a ser acumulada na expansão do ciclo de crédito e consumida em sua contração. O instrumento trata o risco sistêmico cíclico do crédito e dos preços dos ativos.
“A materialização de risco para micro, pequenas e médias empresas tem aumentado e deve continuar pressionada no curto prazo. Quanto às famílias, as modalidades de maior risco continuam crescendo em ritmo superior ao das modalidades de menor risco, enquanto os ativos problemáticos estão em alta, principalmente no crédito rural”, completou o Comef.
O colegiado alerta ainda que o endividamento das famílias permanece elevado, com comprometimento de renda em trajetória ascendente. Isso é ocasionado pelo nível das taxas de juros e pelo aumento da tomada de modalidades mais caras.
“Embora em desaceleração pelo segundo trimestre consecutivo, o mercado de capitais segue crescendo em ritmo significativamente superior ao do crédito bancário. Na visão do Comitê, esse cenário requer cautela e diligência adicionais no mercado de crédito”, completou o documento.
O Comef citou ainda que os fundos de crédito privado mantiveram captação líquida positiva. Na avaliação dos diretores do BC, a combinação entre maior demanda por títulos de crédito privado e a redução na oferta desses instrumentos tem contribuído para manter os spreads em níveis reduzidos. “Apesar disso, o mercado segue diferenciando o risco entre os emissores, e os testes de estresse indicam que o risco de liquidez nesses fundos permanece baixo”, acrescentou o colegiado.
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Concessões no crédito livre sobem 0,5% em julho ante junho, para R$ 571,4 bilhões
As concessões de crédito livre dos bancos aumentaram 0,5% em julho, na comparação com junho, para R$ 571,4 bilhões, informou o Banco Central (BC) nesta quarta-feira (27). No acumulado de 12 meses, crescem 12,8%. Os dados não incorporam ajustes sazonais.
Concessões para pessoas físicas cresceram 4,4% no mês, para R$ 317,6 bilhões. No acumulado de 12 meses, avançam 11,1%. As concessões para empresas recuaram 4,0% no mês, para R$ 253,8 bilhões. Em 12 meses, têm alta de 14,7%.
A taxa de inadimplência nas operações de crédito livre aumentou de 5,0% em junho para 5,2% em julho. A taxa para pessoas físicas passou de 6,3% para 6,5% no período. A de empresas oscilou de 3,1% para 3,3%.
A inadimplência do crédito direcionado, com recursos da poupança e do BNDES, passou de 1,6% em junho para 1,8% em julho.
Considerando o crédito total, que inclui o livre e o direcionado, a taxa passou de 3,6% para 3,8%.
Endividamento das famílias
O endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro ficou passou de 48,9% em maio (dado revisado) para 48,7% em junho, informou o Banco Central. O recorde histórico foi atingido em julho de 2022, com 49,9%.
Descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento passou de 30,6% em maio (dado revisado) para 30,5% em junho.
O comprometimento de renda das famílias com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) passou de 27,7% (dado revisado) para 27,6%. Sem contar os empréstimos imobiliários, passou de 25,6% (dado revisado) para 25,4%.
(Conteúdo distribuído por Estadão)
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