Finanças

Minas Gerais é o segundo Estado com mais investidores na Bolsa e o terceiro em valores aplicados

Dados da B3 mostram um crescimento consistente do interesse dos mineiros pelo mercado de capitais; economistas apontam fatores regionais e comportamentais que contribuiram para os resultados
Minas Gerais é o segundo Estado com mais investidores na Bolsa e o terceiro em valores aplicados
Foto: Reprodução Adobe Stock

Com mais de 618 mil contas sob custódia em junho de 2025, Minas Gerais se tornou o segundo Estado com maior número de investidores na Bolsa de Valores do Brasil, ficando atrás somente de São Paulo. O montante aplicado por investidores mineiros soma R$ 47,74 bilhões, o que coloca o Estado na terceira posição em volume financeiro, atrás do Rio de Janeiro e, novamente, de São Paulo.

Os dados da B3 mostram um crescimento consistente do interesse dos mineiros pelo mercado de capitais. Em apenas um ano, o número de contas sob custódia aumentou 4,3%, passando de 592.177 em junho de 2024 para 618.053 em junho de 2025. Desde janeiro de 2021, quando eram 275.619 investidores mineiros, a alta acumulada é de 93,3%. Já o volume sob custódia passou de R$ 42,63 bilhões para R$ 45,17 bilhões no início de 2025, com um acréscimo de mais de R$ 2,5 bilhões no período.

Para o diretor de Relacionamento com Clientes, Educação e Pessoa Física da B3, Felipe Paiva, a expansão em Minas reflete o avanço da inclusão financeira no País. “Há menos de 10 anos, não tínhamos 1 milhão de CPFs investindo na Bolsa. Hoje são mais de 5 milhões. Em cinco anos, o número de investidores mineiros quase dobrou e ainda há um potencial enorme no Estado para ampliar o acesso a investimentos mais diversificados”, avalia.

Perfil do investidor mineiro

Apesar da ampliação no número de contas, o tíquete médio investido em Minas ainda é inferior à média nacional. Enquanto o valor médio por investidor no País gira em torno de R$ 96 mil, em Minas é de aproximadamente R$ 77 mil – cerca de 80% da média nacional.

Para o economista e head de Renda Fixa da Suno Research, Guilherme Almeida, o dado sinaliza um perfil mais pulverizado e popular. “Minas tem muitos investidores com aportes menores. Isso indica um mercado mais democratizado, mas ainda em processo de amadurecimento”, avalia.

Almeida atribui o crescimento ao avanço da digitalização financeira, além do surgimento de bancos digitais e o fortalecimento da educação financeira por meio das redes sociais. “A digitalização reduziu barreiras como taxas e deslocamento físico. Minas tem 853 municípios e muitos deles não contavam com estrutura bancária adequada. O acesso digital ampliou a entrada de novos investidores”, explica.

O líder da Assessoria na Monte Bravo de Minas Gerais, Renato Matos, também destaca o papel da descentralização e da diversidade econômica do Estado. “A democratização das opções de investimentos, com novas corretoras e assessorias, ajudou muito na evolução do número de investidores. Adicionalmente, percebemos melhorias econômicas no estado, o que impulsiona bastante os investimentos”, afirma.

Segundo Matos, o crescimento envolve tanto investidores que já possuem patrimônio formado quanto novos perfis que estão começando a poupar. Ele chama atenção, no entanto, para a necessidade de ampliar a educação financeira. “Ainda temos uma lacuna grande nesse campo, que pode ajudar muito na evolução futura desse mercado.”

Espaço B3.
Foto: Divulgação B3

Fatores econômicos e sociais influenciam entrada na Bolsa

O cenário macroeconômico também contribui para esse crescimento. Em 2025, a taxa de desemprego em Minas ficou em 5,7%, abaixo da média nacional de 7%. “A renda está mais elevada e o desemprego mais baixo do que em outros estados. Esse contexto favorece o surgimento de poupadores que migram para o mercado de capitais em busca de rentabilidade”, avalia Almeida.

Além disso, ele destaca a diversidade econômica de Minas Gerais como fator de estímulo. “O Estado reúne atividades fortes na mineração, no agronegócio, na indústria e nos serviços. Essa diversidade cria bolsões de renda e bonanças setoriais que impulsionam parte da população para os investimentos.”

Disparidade de gênero persiste no Estado

Mesmo com a ampliação da base de investidores, a desigualdade de gênero é expressiva. Do total de contas em Minas, somente 25% pertencem a mulheres, que respondem por 20% do volume financeiro investido. Isso representa um tíquete médio 24% inferior ao dos homens – uma disparidade maior do que a média nacional.

De acordo com Guilherme Almeida, essa diferença é reflexo de fatores estruturais. “A desigualdade de renda e de patrimônio, a menor presença de mulheres em cargos de liderança e a sobrecarga entre tarefas profissionais e domésticas dificultam o acesso das mulheres ao mercado de capitais. Além disso, por muitos anos, a comunicação do setor financeiro foi direcionada quase exclusivamente ao público masculino.”

Matos reforça essa visão. “É uma questão estrutural, mas temos visto um aumento significativo no interesse das mulheres por finanças. Em geral, elas adotam uma postura mais conservadora, com foco na preservação patrimonial, enquanto os homens tendem a correr mais riscos. Em casais que discutem finanças abertamente, esse equilíbrio pode ser benéfico para a diversificação do portfólio.”

Diversidade econômica impulsiona demanda

A composição econômica de Minas Gerais também influencia o comportamento do investidor. O Estado combina setores como mineração, agropecuária, indústria e serviços, o que cria oportunidades de investimento variadas. “Minas é um estado grande, diverso e com forte interiorização. Isso contribui para um mercado de capitais com perfil mais espalhado e menos concentrado na capital, como ocorre em São Paulo”, observa Almeida.

Na avaliação de Matos, essa diversidade econômica se traduz também em alternativas de investimentos fora da Bolsa. “O mineiro investe na própria fazenda, em empreendimentos de amigos ou em projetos locais. Essa característica amplia o leque de oportunidades, mas também demanda atenção para a liquidez e o equilíbrio da carteira.”

Tendência é de crescimento com amadurecimento

Para os especialistas, o avanço da base de investidores em Minas Gerais deve continuar nos próximos anos, com espaço para aumento tanto no número de contas quanto no volume financeiro. A tendência é de que o amadurecimento venha acompanhado da redução de desigualdades e da qualificação dos investimentos.

“O caminho está sendo trilhado. A digitalização, o acesso à informação, o fortalecimento da educação financeira e a capilaridade dos serviços financeiros criam uma base sólida para o crescimento sustentável do mercado de capitais em Minas”, conclui Almeida.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas