Finanças

Mineiros já pagaram R$ 146 bilhões em impostos este ano; confira o Impostômetro

Brasil atingirá R$ 2 tri em arrecadação e gastos estão prestes a atingir R$ 2,6 trilhões
Mineiros já pagaram R$ 146 bilhões em impostos este ano; confira o Impostômetro
No Brasil, o total arrecadado já está próximo de R$ 2 trilhões, segundo o Impostômetro | Foto: Reprodução Impostômetro

Até o final desta semana os mineiros terão pago R$ 146 bilhões em impostos, taxas e contribuições ao País. O volume representa 7% da arrecadação nacional que chegará a R$ 2 trilhões também esta semana. Os dados são do Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) que simula em tempo real o volume arrecadado pela União. 

Os números avançaram mais cedo este ano. Em 2024, apenas no dia 18 de julho os mineiros atingiram o montante de R$ 146 bilhões em impostos pagos e só no dia 21 de julho os brasileiros superaram os R$ 2 trilhões. Até o dia 1º de julho do ano passado os mineiros tinham pago R$ 133,82 bilhões, volume 8,3% menor que a arrecadação atual. 

A princípio a arrecadação maior em menos tempo poderia significar um reflexo do aquecimento da economia do País, porém, com a inflação acumulada em torno de 6% nos últimos 12 meses em Minas Gerais e 9% no Brasil, a economia demonstra uma certa estabilidade, apesar de ainda aquecida.

Para a responsável pelo setor jurídico da Palegio Consultoria Tributária, Letícia Carolino, a arrecadação mais rápida é reflexo da inflação, mas também do perfil do atual governo federal, que, na visão dela, tem um viés arrecadatório. “Ele tem feito de tudo para custear seus débitos. Tiveram as legislações referentes ao IOF, que não passou até o momento, mas entrou em grande discussão. Tem a possibilidade do aumento do imposto de renda para as empresas, principalmente, a questão dos dividendos de sociedades, que atualmente não é tributado”, diz. 

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Letícia Carolino
Arrecadação mais rápida é reflexo da inflação e do perfil deste governo, aponta Letícia Carolino | Foto: Arquivo pessoal

Reforçando esta hipótese, o professor de economia da Una, Rodrigo de Felippe Rabello, lembra que este ano, a Receita Federal contou com 4 milhões de brasileiros a mais declarando imposto de renda. “Passamos de 52 milhões para 56 milhões de contribuintes. Isso mostra um esforço do governo federal em aumentar a arrecadação”, avalia.

A advogada tributarista e professora na Puc Minas, Polyany Cunha, lembra que desde 2023, quando assumiu o poder, o atual governo criou ou aumentou 24 impostos. “É um aumento a cada 37 dias”, calcula. 

Polyany Cunha
Polyany Cunha afirma que o governo já criou ou aumentou 24 impostos | Foto: arquivo pessoal

Entretanto, mesmo com esse perfil, o governo federal não está conseguindo ajustar as contas e o déficit já é observado. No mesmo período, os gastos públicos já estão maiores que o volume arrecadado no Brasil.

De acordo com a plataforma Gasto Brasil, também desenvolvida pela ACSP (em parceria com a Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil), o governo federal deverá bater esta semana R$ 2,6 trilhões em gastos públicos. Ou seja, os gastos públicos já superaram em cerca de R$ 600 bilhões a arrecadação. Já em Minas, o governo opera no superávit. Conforme a plataforma, enquanto gastou R$ 57,8 bilhões, a arrecadação está em R$ 146 bilhões.

“Minas é um grande contribuinte do governo federal. É um dos estados que mais contribui. Mas, estamos percebendo um aumento de gastos em quase todos as unidades da federação. Já estamos em déficit e o que a gente percebe é que o governo não está atuando na direção de redução de gastos, mas sim no aumento de receitas”, avalia Rabello.

Na avaliação do professor, este cenário é muito perigoso e pode, em um curto prazo, gerar um problema. “Temos uma base onerosa muito alta que é a Selic a 15%. Então, qualquer gasto, qualquer dívida, vai ser onerosa e vai ser cobrada em 15%. Isso traz uma inflação e um aumento de gastos sem trazer efetivamente crescimento econômico”, avalia.

A advogada Polyany Cunha comenta que até uma pessoa simples entende que se você gastar mais do que ganha, você acumula dívida. “A conta não fecha”, diz. Ela defende que a ideia de oferecer benefícios, fomentos e vantagens para os menos favorecidos parece beneficiá-los, mas não é o que ocorre na prática. “Quando você acrescenta imposto em absolutamente tudo, você impacta a vida dessa pessoa na outra ponta, porque ela passa a pagar mais imposto em tudo que consome”.

Polyany Cunha acredita que o correto seria fazer cortes objetivos com responsabilidade fiscal para termos melhorias do gasto-Brasil e aí sim ter um incremento de receita na economia porque o mercado injetaria este dinheiro. “O governo não gera riqueza, aquilo que ele atua é que interfere na geração [de riqueza]. Nesse cenário, o risco é elevado e o mercado não investe”, defende.

Além da retração de investimentos, os especialistas ouvidos pontuam outras possíveis consequências com a manutenção desse cenário de gastos. Entre elas, a retração econômica, a menor possibilidade de expansão, e um possível “calote generalizado”.

“A economia brasileira é vista como volátil no mercado internacional. Então, isso desestimula investimentos internacionais e desaquece o mercado. As pessoas se sentem inseguras para fazer investimentos de grande porte. A longo prazo, chegam as consequências como o desaquecimento da economia, que pode gerar desemprego e a redução do poder de compra. A gente acaba entrando num ciclo em que há uma cadeia de consequências negativas”, analisa Letícia Carolino.

A advogada Polyany Cunha, comenta que para cobrir o déficit o governo acabará tendo que pedir empréstimo, o que aumenta ainda mais a dívida pública, eleva a taxa de juros, a inflação e proporciona a desvalorização da moeda brasileira. “Nós só não estamos pior porque os Estados Unidos estão num cenário ruim. A queda do dólar é atribuída especificamente à confiança da gestão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e não a algo que o governo brasileiro esteja fazendo”, avalia.

Polyany Cunha comenta ainda que há até o risco de um calote generalizado. “Em casos extremos, o déficit fiscal excessivo torna a dívida insolvente. Havendo isso, gera uma crise financeira e a perda de credibilidade. Se o Brasil não fizer o ajuste necessário, o próprio governo já admite que não teremos dinheiro em 2027”, finaliza.

Belo Horizonte é a cidade de Minas que mais arrecadou impostos este ano no Estado

De acordo com o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a capital mineira, Belo Horizonte, é a cidade que mais pagou tributos no primeiro semestre em Minas Gerais. De janeiro a junho, foram R$ 3,2 bilhões. Confira quanto arrecadaram aproximadamente outras cidades do Estado no período:

  • Uberlândia – R$ 451 milhões
  • Juiz de Fora – R$ 414 milhões
  • Contagem – R$ 395 milhões
  • Betim – R$ 209 milhões
  • Uberaba – R$ 199 milhões
  • Nova Lima – R$ 180 milhões
  • Governador Valadares – R$ 141 milhões
  • Montes Claros – R$ 140 milhões 
  • Pouso Alegre – R$ 77 milhões
  • Teófilo Ottoni – R$ 26 milhões
  • Extrema – R$ 19 milhões

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