Finanças

Ouro deve continuar valorizado

Cotação do metal pode ser impulsionada pelo possível movimento de corte nas taxas de juros
Ouro deve continuar valorizado
Cotação do ouro disparou no primeiro semestre deste ano e chegou a atingir US$ 2.055 a onça | Crédito: Toru Hanai /Reuters

Nos primeiros seis meses de 2023, o preço do ouro disparou e atingiu, em 4 de maio, o maior nível em quase três anos, cotado a US$ 2.055 por onça-troy (31 gramas). Neste início de julho, o metal continua valorizado, embora em um patamar inferior, sendo negociado no mercado internacional por cerca de US$ 1.930 a onça-troy. Porém, especialistas consultados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO têm opiniões divergentes sobre qual será o comportamento do ativo no segundo semestre.

Para o sócio-diretor da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, a perspectiva é que o valor do metal aumente seguindo o movimento global de redução de juros. “Estamos chegando ao fim de um ciclo de alta nos Estados Unidos, na Europa e nas economias emergentes. Isso tende a favorecer o ouro, pois o custo de oportunidade de mantê-lo no portfólio diminui”, avalia.

Ainda conforme Oliveira, caso ocorram eventos que aumentem as incertezas globais, como uma nova escalada na guerra entre Rússia e Ucrânia ou na tensão entre China e Taiwan, o ouro terá uma vantagem e poderá ter uma apreciação maior. Ele explica que o preço do metal geralmente se eleva quando o mundo passa por momentos de colapso, o que ocorreu, por exemplo, no início do conflito europeu em 2022 e na falência do Silicon Valley Bank (SVB) em março deste ano.

Essa característica imutável do ouro faz com que ele seja considerado um dos investimentos mais seguros diante de cenários instáveis. Segundo Oliveira, o metal também é a principal reserva dos bancos centrais e tem como outra peculiaridade: a baixa correlação com os demais ativos.

Estabilidade

Por outro lado, o especialista e sócio da Valor Investimentos, Gabriel Meira, acredita que o ouro não deve ter uma grande alta nos próximos meses. “A tendência é que se mantenha e chegue, no máximo, a US$ 2.000 por onça-troy, e não muito mais que isso. Não temos visto nada que traga essa volatilidade para o papel e que possa trazer uma corrida para algo mais seguro”, afirma.

Segundo ele, essa baixa oscilação na cotação do metal tem sido observada há algum tempo. Isso ocorre porque os movimentos globais estão mais “calmos” em comparação ao que ocorreu na época da pandemia de Covid-19 e na escalada da Rússia na Ucrânia. Meira menciona que a cotação do ouro, inclusive, parece já ter se acostumado com a situação de guerra entre os países.

Ainda de acordo com Meira, o que basicamente vem impactando o preço do metal atualmente é a inflação nos Estados Unidos, que tem se mantido resiliente, levando o Federal Reserve (Fed), o Banco Central do País, a aumentar a taxa de juros. Conforme ocorra esse aumento, segundo ele, a rentabilidade dos treasuries – títulos públicos do governo norte-americano – também aumenta, o que faz com que parte do capital que seria destinado ao ouro seja direcionado para esses títulos.

Alta volatilidade e incertezas

Já o diretor de câmbio da Ourominas, Mauriciano Cavalcante, destaca que os preços do ouro estão mais instáveis devido à situação econômica global, que não vem apresentando indícios de recuperação. Ele exemplifica mencionando que a China continua a “patinar” no pós-Covid-19 e a inflação norte-americana não mostra sinais de recuo, o que leva a prever um aumento maior nas taxas de juros, tanto dos Estados Unidos quanto da Europa.

Ainda segundo Cavalcante, no mercado interno, com viés de baixa, a influência mais significativa está na valorização do real, onde o governo brasileiro está conseguindo aprovar as reformas necessárias para o crescimento do País, mesmo com os juros em um patamar elevado.

Por fim, em sua avaliação, a tendência da cotação do metal para o segundo semestre é de bastante incerteza. “O ouro não está demonstrando para onde caminhar, mas com os acontecimentos que vêm se arrastando desde o começo do ano, como a crise bancária, guerra entre Rússia e Ucrânia e os fatores acima mencionados, corroboram para um viés de muita volatilidade e incertezas”, diz.

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