Finanças

Petrobras chega a perder quase R$ 50 bi em valor de mercado após anúncio de troca de CEO

O anúncio da mudança no comando aconteceu um dia após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre da empresa
Petrobras chega a perder quase R$ 50 bi em valor de mercado após anúncio de troca de CEO
Foto: Divulgação Petrobras

São Paulo – A Petrobras chegou a perder quase R$ 50 bilhões em valor de mercado nesta quarta-feira, após o anúncio de saída do CEO da companhia, Jean Paul Prates, com as ações preferenciais recuando mais de 8% no pior momento, enquanto as ordinárias desabaram perto de 10% na mínima nos primeiros negócios.

O Ministério de Minas e Energia indicou Magda Chambriard, ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), como substituta. Fontes afirmaram à Reuters que a diretora de Assuntos Corporativos da estatal, Clarice Coppetti, é a mais cotada para assumir interinamente.

Por volta das 11:55, as preferenciais caíam 5,97%, a R$ 38,43, e as ordinárias perdiam 7,1%, a R$ 39,88, maiores quedas do Ibovespa, que cedia 0,69%, com os investidores preocupados sobre maior ingerência política na empresa após a mudança, o que poderia afetar seus dividendos.

Na mínima, as PNs chegaram a R$ 37,5 e as ONs, a R$ 38,82, equivalente a uma perda de R$ 49,5 bilhões em valor de mercado. Para analistas do Goldman Sachs, a notícia é negativa.

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“Com base em nossas conversas com investidores, acreditamos que o mercado viu o sr. Prates como um bom conciliador entre os interesses dos investidores e do governo. Além disso, acreditamos que o anúncio poderá reacender preocupações relativamente a uma potencial intervenção política nas operações da empresa”, afirmaram Bruno Amorim e equipe.

Em relatório a clientes, eles citaram que o comando da Petrobras mudou diversas vezes no passado após desentendimentos entre a administração da empresa e o governo, levando à fraqueza das ações nos dias seguintes aos eventos. No entanto, notaram, as cotações se recuperaram, com fundamentos sólidos e uma melhor governança como resultado das mudanças iniciadas em 2016.

“Finalmente, acreditamos que será importante que os investidores monitorem se algum aspecto da governança será alterado após o anúncio. As leis atuais e os estatutos da Petrobras em vigor tornariam um desafio para uma nova administração alterar significativamente a alocação de capital e as políticas de preços de combustíveis.”

O anúncio da mudança no comando da Petrobras aconteceu um dia após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre da empresa, cujo lucro caiu 38% na comparação anual, para R$ 23,7 bilhões. Antes, no entanto, já havia no governo descontentamento com os rumos da companhia e com a própria gestão de Prates.

Os analistas Conrado Vegner e Vinícius Andrade, do Safra, citaram em relatório a clientes que a reação negativa do mercado decorre principalmente da maior percepção de risco de possível interferência política nas decisões da empresa, em vez de uma opinião negativa sobre a própria Chambriard.

“Este anúncio foi inesperado e ocorre em um contexto de elevada pressão política”, reforçaram os analistas da XP Regis Cardoso e Helena Kelm, em relatório enviado a clientes.

“Na nossa visão, a mudança na gestão adiciona incerteza ao caso de investimento e aumenta a percepção de risco dos investidores. Este contexto provavelmente levantará preocupações dos investidores minoritários sobre o possível risco de interferência do acionista majoritário — ou seja, o governo — na gestão da empresa.”

Eles disseram ainda que Chambriard deve assumir o comando da Petrobras em um contexto desafiador de significativas pressões externas. Por outro lado, destacaram que ela encontrará a empresa com uma forte geração de fluxo de caixa livre, um balanço patrimonial desalavancado e um portfólio de investimentos sólido.

A XP explicou que, segundo o estatuto da empresa, o novo CEO da Petrobras precisa primeiro ser eleito como membro do conselho de administração da empresa. O nome deve ser aprovado pelo Comitê de Pessoas do conselho, para cumprimento de várias regras de elegibilidade, antes de ser submetido a uma votação pelo colegiado.

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Jean Paul Prates | Crédito: REUTERS/Pilar Olivares

“O caminho mais rápido para a nomeação é a renúncia de um dos membros do conselho atual, para que o novo nomeado possa ser designado como substituto no conselho e subsequentemente eleito CEO — o que acreditamos que acontecerá neste caso”, afirmaram os analistas.

A Petrobras informou que recebeu na terça-feira solicitação de Prates para que o conselho de administração da estatal se reunisse para apreciar o encerramento antecipado de seu mandato como CEO. A reunião, que pode aprovar sua saída, está marcada para esta quarta-feira.

Em mensagem a amigos obtida pela Reuters, Prates afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu seu cargo, acrescentando que deveria “nomear Magda”. Ele citou ainda que os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, estavam satisfeitos com sua saída.

Conselho da Petrobras aprova fim do mandato de Jean Paul Prates

O Conselho de Administração da Petrobras aprovou, na manhã desta quarta-feira (15), o encerramento antecipado do mandato do presidente Jean Paul Prates. Para o seu lugar, foi nomeada interinamente a diretora executiva de assuntos corporativos, Clarice Coppetti.

No mês passado, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, reconheceu a existência de posições públicas divergentes entre o presidente da companhia e o governo, mas classificou rumores sobre demissão como especulações.   O Ministério de Minas e Energia (MME) indicou a engenheira Magda Chambriard para substituir Prates.

O nome de Magda ainda precisa passar por análises internas da empresa. São investigados potenciais conflitos de interesse e preparo para o cargo. Posteriormente, a indicação de Magda deverá ser aprovada no Conselho de Administração e referendada pela Assembleia dos Acionistas.

Ela é engenheira química e civil e iniciou sua carreira na Petrobras em 1980, tendo sido posteriormente cedida à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em 2002. Ela ocupou a diretoria geral da ANP entre 2012 e 2016, nomeada pela então presidenta Dilma Rousseff.

O diretor financeiro e de relacionamento com investidores, Sergio Caetano Leite, também foi destituído do cargo pelo Conselho de Administração. Ele era próximo a Jean Paul Prates. Para o seu lugar, foi nomeado interinamente Carlos Alberto Rechelo Neto, atual gerente executivo de finanças.

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