Posição líquida de autarquia atinge menor nível desde 2018

São Paulo – O Brasil perdeu dólares pelo nono mês consecutivo em abril, período de intensa pressão no real que forçou o Banco Central (BC) a ampliar intervenções no mercado, movimento que reduziu a posição cambial líquida do BC ao menor patamar em mais de dois anos.
O saldo das entradas e saídas de dólares via câmbio contratado ficou negativo em US$ 1,378 bilhão em abril, segundo dados do BC divulgados ontem.
Mais uma vez, a conta financeira – por onde transitam recursos de empréstimos, remessas e investimentos em portfólio, entre outros – respondeu pelo déficit, com saída líquida de US$ 6,817 bilhões.
As operações comerciais (contratação de câmbio para exportação menos importação) tiveram superávit de US$ 5,439 bilhões. No acumulado de 2020, o fluxo cambial tem déficit de US$ 12,730 bilhões.
Em abril do ano passado, o fluxo cambial havia ficado negativo em US$ 1,625 bilhão. No primeiro quadrimestre de 2019, o saldo fora positivo em US$ 2,819 bilhões.
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As saídas de recursos em abril se deram a despeito de uma melhora relativa nos mercados globais, mas que não foi capturada pelo câmbio doméstico – o dólar subiu 4,69% ante o real no mês passado, elevando os ganhos no ano a 35,51% naquele momento.
A valorização não foi mais intensa porque o BC voltou a fazer venda maciça de dólares no mercado. Em swaps cambiais, foram colocados, em termos líquidos, US$ 6,556 bilhões (considerando a diferença mensal entre o estoque desses contratos ao fim de cada mês, segundo dados do BC).
Em operações de venda “pura” no mercado à vista – ou seja, sem compromisso de recompra -, o BC injetou no mercado US$ 6,590 bilhões.
Isso ajudou a reduzir a posição cambial líquida do BC – uma medida, a grosso modo, do quanto o BC ainda tem de recursos para atuar no mercado de câmbio – para US$ 303,410 bilhões, US$ 11,138 bilhões a menos que em março e o menor patamar desde pelo menos janeiro de 2018.
Ainda em abril, o BC liquidou a venda de US$ 24 milhões em linhas de moeda com compromisso de recompra.
Com as injeções líquidas de divisas no mercado à vista, a posição líquida vendida dos bancos em dólar spot caiu para US$ 29,204 bilhões ao fim do mês passado, ante US$ 33,511 bilhões em março. (Reuters)
Dólar supera R$ 5,70 pela 1ª vez na história
São Paulo – O dólar fechou acima de R$ 5,70 pela primeira vez na história ontem, com o real mais uma vez liderando as perdas entre as principais moedas globais, em uma sessão marcada pelo fortalecimento da moeda norte-americana em todo o mundo.
As operações locais seguiram o viés externo, mas o real tornou a ocupar a lanterna entre seus pares, diante de um combo negativo de notícias para a divisa.
O desânimo com a história do Brasil tem mantido a série mensal de fluxo negativo, contribuindo para a pressão no câmbio. Em abril, o País perdeu dólares pelo nono mês consecutivo. Em 2020, o saldo do fluxo cambial é deficitário em US$ 12,730 bilhões.
“O real não vale mais nada e, devido aos erros de política monetária, vai valer ainda menos”, disse um gestor.
O mercado de câmbio sentiu ainda a notícia, da noite da véspera, de que a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a perspectiva para a nota de crédito do País citando renovada incerteza política. A perspectiva negativa indica maiores chances de novo corte do rating soberano, o que apontaria avaliação pior sobre a capacidade de um país honrar seus compromissos.
O Brasil é classificado como status junk (especulativo) pelas três principais agências de risco, o que, segundo analistas, tem tido peso importante na falta de apetite do estrangeiro pelo mercado brasileiro – que se reflete em menor fluxo e, portanto, menor oferta de dólar.
O dólar à vista fechou ontem em alta de 2,03%, a R$ 5,7035 na venda, nova máxima recorde nominal. No pico intradiário, a cotação foi a R$ 5,7072. Na B3, o dólar futuro tinha valorização de 2,36%, a R$ 5,7220.
Em 2020, o dólar à vista dispara 42,13% ante o real. Além de liderar as perdas globais na sessão, a moeda brasileira tem ainda a pior performance em maio e em 2020, considerando 34 rivais do dólar. (Reuters)
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