Profissionais de finanças são fundamentais na implementação do ESG

O ESG (abreviação, em inglês, para os aspectos ambiental, social e de governança corporativa) já ultrapassa – pelo menos entre as grandes empresas – o patamar de uma causa para figurar na cultura e fazer parte das estruturas estratégicas e táticas dos negócios. Uma preocupação, porém, continua assombrando boa parte dos negócios: o financiamento para as ações responsáveis. Como ser sustentável e ter governança sem comprometer os resultados da empresa e reverter o que parece custo em investimento e ganhos é a pergunta que não cala.
E para encontrar essa resposta nada simples, um profissional que até agora ficava um pouco à margem da discussão ganha luz e se torna fundamental: o profissional de finanças. Compondo as equipes multidisciplinares tão necessárias ao desenvolvimento da mentalidade ESG, é ele que pode apontar e pavimentar caminhos.
Por isso o Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças – Minas Gerais (Ibef-MG) convidou o sócio e líder de ESG da PwC Brasil, Mauricio Colombari, para participar de um bate-papo virtual com outros executivos da área no primeiro webinar “Encontro de Finanças” deste ano. Com o tema “ESG em 2022: desafios e oportunidades em finanças”, o encontro discutiu o papel fundamental dessa área na mudança do sistema socioeconômico.
De acordo com o presidente do Ibef-MG, Júlio Damião, as empresas são chamadas a se posicionarem em relação às práticas de ESG e esse novo posicionamento reflete diretamente na cultura, nos valores e na tomada de decisões da área financeira das empresas.
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“Os executivos de finanças estão muito atentos e conectados à pauta ESG e também de finanças sustentáveis, estamos observando um crescimento muito grande de linhas de financiamento com taxa de juros especiais para projetos em ESG, o mercado de carbono está em expansão. Todas as ações de ESG impactam os negócios e seus resultados. O executivo de finanças está cada vez mais conectado à estratégia das empresas e também é um grande líder nas organizações, estamos conectados aos impactos dos cenários econômicos nos resultados das empresas”, afirmou Damião.

Para o convidado, as companhias que querem alcançar a liderança precisam acelerar a adoção de iniciativas de ESG, que influenciam não apenas a decisão de consumo, mas também de investimento.
O estudo “PwC Global ESG Survey”, sustenta a afirmação: 79% dos entrevistados consideram que iniciativas socioambientais impactam nas tomadas de decisão de investimentos. Quase metade (49%) deles afirmam que pretendem retirar recursos de empresas sem ações reais nessas áreas.
“O fundamental é como a governança monitora as ações ambientais e sociais e está conectada com a estratégia. Existem desafios claros para o profissional de finanças. No tema das mudanças climáticas, os riscos físicos, com os eventos climáticos extremos; e os riscos de transição, regidos pela pauta regulatória. O impacto financeiro para as empresas nesse quesito já é relevante. No tema finanças sustentáveis, mais uma vez é preciso lembrar que os investidores têm avaliado o ESG para tomada de decisão. Um número cada vez maior de empresas têm conseguido financiar projetos de transição energética, mitigação de emissões e até ações sociais. Já existe o lançamento no mercado de títulos ligados à reciclagem, energia renovável, água e redução de emissões. Existem boas oportunidades nos instrumentos oferecidos pelos bancos”, explicou Colombari.
A descarbonização da economia e as informações não financeiras completam o rol de desafios:
“Ainda têm poucas empresas assumindo programas net zero, mas quando o fazem, assumem valores maiores que as próprias emissões, chegando às emissões indiretas na cadeia de produção. É um efeito cascata positivo. A construção de um plano de descarbonização é complexo e é preciso um investimento. Os compromissos são voluntários, mas existem impostos verdes e quando isso chegar ao Brasil vai passar a ser obrigatório. E, finalmente, o papel dos executivos de finanças no recorte de informações não financeiras. Hoje existe uma série de frameworks de sustentabilidade, mas não existe uma padronização que garanta a confiabilidade. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) já começou a exigir informações mais completas. O Bacen (Banco Central) também fez uma série de instruções que colocou o mercado brasileiro no mesmo nível dos mais importantes mercados do mundo”, continuou.
Na outra ponta, os consumidores exigem práticas sustentáveis do ponto de vista socioambiental. Outro estudo da consultoria mostra que 83% dos consumidores consideram que as marcas precisam investir em melhorias concretas nesses campos.
Dedicação é a regra
Para se tornar esse profissional tão necessário às empresas, não existe segredo. A regra é se dedicar.
“A ordem é ser curioso e ir atrás desses temas. Não falta informação disponível e vontade das pessoas em colaborar. A missão é buscar soluções conjuntas. Tem que falar com concorrentes, governo, clientes e, claro, não tratar temas complexos com superficialidade. Com todo o seu conhecimento sobre os números, esse profissional pode ter maior protagonismo nessa discussão e ajudar a alinhar conceitos, controlar metas e métricas. Criar efetivamente um grupo que cuide dessa temática de maneira transversal e grupos de trabalho para operar taticamente”, pontuou o sócio e líder de ESG da PwC Brasil.
Projeto
O webinar foi apenas o primeiro passo do esforço para a conscientização e formação que o Ibef-MG dá em prol do tema da responsabilidade ambiental e as oportunidades de negócios que podem dele surgir.
Com o projeto Ibef Verde, o Instituto quer, por meio de webinares, palestras, notícias na mídia – promover os investimentos sustentáveis, fazendo da área financeira um articulador de mudanças, promovendo a equidade e o crescimento das empresas de forma responsável e integrada à sociedade.
“Com certeza faremos outros eventos, este é um assunto em constante evolução, temos a responsabilidade de levar as melhores informações para o associado e para quem nos acompanha na mídia”, completou o presidente do Ibef-MG.
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