Dólar pode se desvalorizar ainda mais em meio à cautela

O dólar vem registrando quedas consecutivas ante o real, refletindo a cautela dos investidores diante das decisões de políticas monetárias previstas para esta semana no Brasil e nos Estados Unidos (EUA). Além disso, a continuidade dos desdobramentos das novas tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, também se tornou uma preocupação. A expectativa gira, conforme especialistas consultados pelo Diário do Comércio, principalmente em torno dos próximos passos dos bancos centrais e das implicações econômicas que possam surgir dessas movimentações.
No Brasil, esta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deve divulgar a nova taxa Selic, com projeções apontando para um aumento de 0,5 ponto percentual, elevando a taxa para 14,75% ao ano. No cenário externo, o Federal Reserve (Fed) dos EUA deve anunciar decisões sobre taxas de juros que irão depender de inflação e crescimento econômico. Ambas as decisões poderão interferir nas taxas de câmbio.
Apesar das questões financeiras aguardadas para esta semana, especialistas ressaltam que a desvalorização da moeda americana tem sido uma tendência global desde que Donald Trump assumiu o poder. Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos, ressalta que o dólar tem perdido espaço com relação a todas as moedas, seja de países emergentes, ou países desenvolvidos. “Isso em função das ações do governo Trump, a guerra tarifária e a instabilidade que isso tem trazido para o mercado”, avalia.
A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, vê com surpresa a desvalorização da moeda norte-americana. “A grande maioria do mercado acreditava que a guerra comercial fosse trazer mais pressão para o câmbio e não é o que está acontecendo. Com essa expectativa de recessão nos EUA, o dólar perdeu força e o mercado incorporou isso no preço”, afirmou.
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Na visão de Paulo Duarte, as incertezas geram temor e faz com que investidores desviem seus capitais para opções mais atrativas, desvalorizando a divisa dos EUA. “As medidas que o governo Trump tem tomado são medidas que enfraquecem o dólar até para tentar, de certa forma, diminuir esse déficit comercial que eles têm com o resto do mundo”. Nesse cenário, Duarte acredita que durante o mandato de Trump o dólar deverá permanecer fraco, com o piso girando em torno de R$ 5,30.
Em consonância com Duarte, o estrategista de ações da Genial Investimentos, Filipe Villegas, comenta que o movimento de queda do dólar é resultado do redirecionamento de capital dos investidores para regiões com prêmios de risco atrativo, como Brasil e Europa periférica. De forma que o ouro e o franco suíço têm rompido recordes históricos, reforçando o temor diante das expectativas de menor crescimento e alta da inflação no país norte-americano.
Queda do dólar não garante real forte
Paulo Duarte, da Valor Investimentos, ressalta, entretanto, que o dólar fraco, não quer dizer um real mais forte. Segundo ele, o Brasil também tem seus problemas internos, principalmente, na frente do déficit fiscal que pode vir a trazer uma pressão de alta. “São questões mais internas do que externas”, defende.
Nesse contexto, Duarte espera que o País traga de volta à pauta as dificuldades fiscais, à medida que o Legislativo comece a tramitar os projetos de lei ou, eventualmente, quando o orçamento começar a ser medido. “Na verdade, o Orçamento que foi entregue para 2025 é um orçamento bem fraco do lado fiscal”, afirma.
Já Cristiane Quartaroli afirma que é muito difícil prever o movimento das moedas. “Vai depender muito do que vai acontecer daqui para frente. O governo dos Estados Unidos tem sinalizado uma postura um pouco mais amigável com a China e vice-versa. Então, a tendência talvez, se de fato essa guerra comercial se amenizar, é favorecer o comportamento da taxa de câmbio”, conclui.
No cenário hipotético, Cristiane Quartaroli ressalta que se o Banco Central americano sinalizar queda de juros no curto prazo, o mercado precificaria essa queda com a primeira redução acontecendo em julho. “Mas, se isso acontecer antes, já que os dados de atividade econômica por lá já estão mais fracos, isso talvez possa favorecer mais o comportamento da taxa de câmbio por aqui. Há ainda muita água para rolar até que essas decisões de fato aconteçam. Vai depender muito do comportamento das variáveis macroeconômicas tanto lá de fora quanto daqui do Brasil”, finaliza.
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