Queda dos juros, conflitos e proteção elevam preços do ouro

A incerteza geopolítica, um dólar americano provavelmente mais fraco e os possíveis cortes nas taxas de juros americano estão alavancando a corrida global pelo ouro. Com isso, a cotação do metal precioso, que é usado como blindagem de patrimônio, bateu recorde na última semana. A tendência, caso os conflitos mundiais continuem, assim como a economia enfraquecida mundialmente, é que os preços sigam firmes. Porém, caso haja uma melhora do cenário, o preço pode recuar.
O gestor de Negócios da Ourominas, Sandro Francioli, explica que a valorização vista na cotação do ouro, que chegou ao valor recorde de mais de US$ 2.100 por onça na última semana, se deve às incertezas, fazendo com que haja maior busca pelo metal precioso.
A alta do metal ocorre desde o mês de outubro, quando se iniciou o confronto entre Israel e Hamas. A guerra no Oriente Médio e o aumento do risco geopolítico contribuíram para que os investidores optem por ativos seguros, como o ouro. Além disso, a perspectiva de crescimento global baixo, tem aumentado a demanda pela commodity como moeda de reserva nos últimos tempos, trazendo um impacto maior no valor.
“O impulso na cotação do ouro vem do aumento da demanda pela commodity como moeda de reserva (blindagem de patrimônio), isso ocorre devido à baixa perspectiva de crescimento global”.
Demanda
Diante do cenário global, para Francioli, a tendência é que o ouro siga valorizado. “A tendência é de um aumento significativo nas cotações da commodity, reflexo do aumento da demanda pelo ouro no mercado e também pela instabilidade no cenário econômico”.
Para o gestor de Negócios da Ourominas, o nível recorde de preços é compatível com o esperado pelo mercado. “Devido aos últimos acontecimentos no cenário político e econômico, o ouro se mostrou cada vez mais forte e ganhando terreno e notoriedade, assim, segue com projeções ainda mais agressivas para cotações no curto prazo”, disse.
Preços do ouro devem continuar a subir
A tendência de manutenção dos preços do ouro em níveis elevados também é estimada pelo economista da Valor Investimentos, Piter Carvalho. “Sobre a alta do ouro, a gente destaca alguns fatores, principalmente, a queda do juros americano. A gente viu uma previsão dos juros já caírem em 2024, talvez no segundo semestre. A curva de juros longa, de dez anos, também começou a arrefecer e, isso, beneficiou ativos como o ouro”, explica.
Conforme Carvalho, outro fator é o aumento de compras de ouro por países como a Rússia e, até mesmo, a China. “Isso acontece por medo de retaliações americanas. Os países acabam vendendo os títulos públicos americanos e trocando pelo ouro. Então, esse é um movimento que já fala um pouco desse cenário que a gente tem, que é de desglobalização, de guerra comercial e até mesmo os conflitos, que aumentam cada vez mais, dividindo novamente o planeta”.
Guerras afetam cotação
Carvalho reforça que os conflitos, hoje temos duas guerras no mundo, também aumentam a compra de ouro como segurança, principalmente, porque a moeda desses países perdem bastante valor. Conforme ele, o bitcoin entra também como alternativa, mas o ouro é a principal moeda e ativo de valor que vai proteger o patrimônio.
“Então, esses fatores – queda de juros, conflitos, proteção – tem sido uma tendência forte para o ouro, que vem batendo máxima atrás de máxima. Também aumenta a nossa observação para os rumos do nosso planeta. Então, se estão com medo, se querem se proteger, quer dizer que tem a possibilidade, por exemplo, de novas guerras, como a China invadir Taiwan, enfim, então é o mundo já se organizando, pensando em novos conflitos, infelizmente”, disse.
Valorização do preço do ouro é pontual
Já para o economista e CEO da Multiplike, Volnei Eyng, a valorização do ouro na semana passada foi pontual. “Na semana passada tivemos um aumento na cotação de ouro, mas vale lembrar que, durante o ano de 2023, ele vem diminuindo o valor dado o grande aumento dos últimos anos. Então, teve apenas um evento de liquidez semanal”.
Para Eyng, no momento, já há uma previsibilidade melhor para os cenários de conflito em 2024, o que vai frear o avanço do preço do ouro.
“Nesse momento, quando já se fala de paz na guerra da Ucrânia, onde a guerra de Israel não se alastrou e em que há um panorama com uma grande previsibilidade para o mundo em 2024 contar que o ouro vai valorizar parece não ser uma boa medida. Então, não acredito que vai continuar registrando recordes de cotação, que é apenas um evento pontual. Eu acredito que o ouro, hoje, está com um valor acima do que o momento de ambiente tranquilo com previsibilidade se faz no mercado”.
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