Finanças

Real deverá se manter desvalorizado frente ao dólar

Fatores externos, como o comportamento do mercado de trabalho nos Estados Unidos, e internos, como a piora do quadro fiscal do País, devem manter a trajetória de alta de dólar
Real deverá se manter desvalorizado frente ao dólar
Foto: Sukree Sukplang/Reuters

Em 2024, a moeda norte-americana registrou alta em torno de 9,6% frente ao real. Entretanto, de abril para maio, o dólar apresentou uma ligeira redução de 0,76%, mas, ainda assim, o movimento de valorização já era esperado pelo mercado e é visto como reflexo de alguns fatores, como as expectativas de corte dos juros nos Estados Unidos e o quadro fiscal brasileiro.

De acordo com o diretor de Câmbio da Ourominas, Elson Gusmão, para que haja uma reversão nesse cenário de alta do dólar no mercado interno, seria possível apenas se houvesse uma melhor tramitação dos projetos governistas no Congresso Nacional em relação ao quadro fiscal do País. “Hoje o governo arrecada mais, mas não tem cortado gastos,” criticou.

Outro ponto é a dependência, também dos EUA, em começar a baixar os seus juros. “No entanto, olhando friamente, não houve grandes mudanças de conjunturas econômicas. Hoje, por exemplo, o último Boletim Focus prevê o dólar em torno de R$ 5,05, o que pode ser alcançado, sim, conforme forem melhorando as perspectivas econômicas, políticas e fiscais. O aumento também das cotações internacionais de petróleo e de minério de ferro pode contribuir para esse cenário de dólar mais baixo”, avaliou Gusmão.

No caso de um país emergente como o nosso, tanto o cenário interno quanto o externo se somam e empurram a moeda norte-americana para cima. “No mundo todo, o dólar tem ganhado força, já que, com a perspectiva de manutenção da atual taxa de juros e com os treasuries com as taxas mais altas, leva os investidores a protegerem o seu capital. Também com o relaxamento das nossas metas de superávit para 2025/2026, o mercado cria uma certa desconfiança. O real é a moeda que mais tem se desvalorizado frente ao dólar, até mesmo em relação aos nossos pares emergentes”, ponderou o diretor da Ourominas.

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Na avaliação do professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Carlos Primo Braga, existem vários fatores para determinar a taxa de câmbio e, neste ano, podem ser observados uma série deles. “Em abril, o ministro da Economia, Fernando Haddad, quando o dólar começou a subir, disse que dois terços da desvalorização do real frente ao dólar estava vinculado a fatores externos. Tivemos o anúncio do mercado de trabalho nos EUA com 272 mil empregos, mais que os 180 mil esperados, o que mantém a economia robusta. Por outro lado, no mercado interno, o que vemos é a credibilidade do arcabouço fiscal do governo indo para o espaço e a confiança na economia se deteriorando”, destacou.

De acordo com Braga, mesmo com inflação, a maioria dos analistas espera que a taxa de juros nos Estados Unidos comece a sofrer retração em setembro, porém vem aumentando o número de participantes da corrente contrária que acredita que não haverá queda na taxa em nenhum momento de 2024. “Os norte-americanos estão com pleno emprego, nível de salários em alta o que sugere que a inflação também continuará robusta”, analisou.

Desvalorização do real e fuga de dólares

Segundo o professor, na primeira quinzena de abril, quando o real desvalorizou 5,1%, foi o maior índice de recuo entre os países emergentes. “O Brasil vem visualizando essa desvalorização do real frente a outras economias emergentes. E esse cenário já coloca a moeda brasileira entre as dez moedas que mais perderam valor este ano. Mas, falar de taxas de câmbio é sempre uma caixinha de surpresas, pois existem muitas variáveis”, salientou.

Para o professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Hélio Berni, o que também está ocorrendo hoje é o afastamento do investidor estrangeiro do Brasil. “Neste primeiro semestre está acontecendo uma fuga de dólares do País, pois o investidor do mercado entende que existem riscos na economia brasileira. Um deles é o fiscal, pois existe um temor sobre o aumento do endividamento público. E o outro é que parte do capital estrangeiro estava investido na bolsa de valores e existe a expectativa de piora no Índice Bovespa”, avaliou.

Diante desse cenário, o investidor retira os dólares da economia brasileira e os leva para outros lugares com economia mais robusta. “É nesta saída de moeda que a pressão por demanda por dólares aumenta e, consequentemente, seu valor tem alta. Aliado a isso, com a expectativa de manutenção de juros altos no EUA, normalmente acontece a saída de capital do Brasil, contribuindo para o aumento do câmbio. E não é surpresa para o mercado isso acontecer agora”, ressaltou Berni.

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