Recuo do IBC-Br era esperado, de acordo com especialistas

O Banco Central divulgou dados que mostram que a atividade econômica do Brasil recuou 2% em maio em relação ao mês anterior. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) registrou a maior queda em pouco mais de dois anos. Porém, os especialistas ouvidos pela reportagem, alegam que a retração era esperada.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, culpou a política contracionista do Banco Central, que mantém as taxas de juros elevadas, como culpada pelo resultado negativo e apontou a necessidade de um corte. Mas de acordo com Guilherme Almeida, economista da Suno, esse é o propósito dessa política monetária restritiva. “Desaquecer e desacelerar a atividade econômica para controlar a inflação e manter ela embaixo dos patamares”, explica.
A mesma observação faz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. “A gente sabe que a alta dos juros serve como um freio de mão para a economia e ela foi necessária no Brasil. A taxa está em 13,75% desde o mês de agosto para combater o processo inflacionário que já estava chegando na casa de dois dígitos”, diz.
De acordo com Abdelmalack, a expectativa é que o IPCA ao final do ano seja maior do que está agora e atinja 4,95%, mas registrando uma melhora significativa da inflação. “Dessa forma, o Banco Central, deve encontrar espaço para iniciar o corte de juros. Além do quadro mais positivo do arcabouço fiscal ser aprovado e as discussões sobre a reforma tributária. Tudo isso gera um ambiente mais confortável para o corte dos juros”, analisa.
Redução da Selic e expectativas
Ela espera que a redução da taxa Selic seja num ritmo de 25 pontos percentuais, num primeiro momento, e depois de 50 pontos percentuais. “O consenso do mercado é uma taxa de juros ao redor de 12% a 12,5% no final de 2023. E ao final de 2024, podendo atingir um patamar de um dígito, chegando a 9%”, diz. Ela explica que não é só a leitura da inflação corrente, mas sim um conjunto de projeções para 2024 e 2025 que o mercado foi corrigindo para baixo as expectativas que, agora, será melhorado e influenciará a decisão do Banco Central para iniciar o ciclo de cortes da taxa de juros.
Guilherme também percebe que quando o horizonte para 2024, 2025 e 2026 é analisado, o mercado espera uma inflação dentro da meta, que é próximo aos 4%. Então, isso é positivo. E explica o porquê dessas expectativas dos agentes serem tão importantes. “Toda a precificação da economia se dá com base nas expectativas. O empresário tem ali um comércio com alguns produtos, e quando vai praticar o reajuste dos preços, considera a matriz de custos e o esperado para a inflação nos próximos 12 meses”, explica. E, de acordo com ele, já tem evidências nos comunicados do Banco Central que haverá cortes já no segundo semestre, iniciando, inclusive, na próxima reunião. “Eu acredito que o Banco Central já possua alguns insumos que permitam iniciar esse ciclo de corte da taxa de juros, já agora em agosto”, avalia.
De acordo com o economista da Suno, se isso não acontecer já nas próximas duas reuniões, o problema começa a ser endereçado, mas para períodos posteriores. “A política monetária, que é esse movimento que o Banco Central faz com a taxa Selic, tem uma resposta defasada na atividade econômica. Ela se dá com atraso, não é de forma imediata. O mercado se adapta, avalia o cenário, os efeitos. Então, se o Banco Central continuar mantendo essa taxa de juros elevada, vamos supor até o final do ano, é possível que essa desaceleração se prolongue, atingindo, inclusive, o primeiro trimestre de 2024”, analisa. Mas ele não acredita nessa possibilidade, “senão, entraremos em um cenário recessivo, que pode gerar outros problemas”, observa.
Ele lembra ainda que o BC foi um dos primeiros a iniciar a política monetária mais restritiva quando o nível de preços começou a acelerar não só no Brasil, mas no mundo. “Hoje os bancos centrais no mundo inteiro ainda estão nesse movimento de aumentar taxa de juros, e nós já estamos no patamar de reduzir”, lembra. “Então, eu considero um movimento importante que o Banco Central faz, a despeito de todas as críticas que ele recebe. É assim que funciona o mecanismo da taxa de juros”, ressalta.
Camila Abdelmalack observa que se a taxa não reduzir, podemos sim entrar numa situação de recessão, mas não acredita que o Brasil passará por ela. “O nível de endividamento e a inadimplência aumentaram e alguns setores já estão muito prejudicados, como o industrial”, comenta.
Inflação dos alimentos
Em relação à inflação de alimentos, Camila Abdelmalack observa que houve uma desaceleração muito relevante nos últimos meses. Ela explica que a inflação de alimentação, por exemplo, nos Estados Unidos estava transitando no patamar de dois dígitos e, agora, já está abaixo de 5%. Assim como no Brasil. “Agora, a gente também tem uma inflação de alimentação em domicílios ocorrendo ao redor de 4%, principalmente, por conta do processo de desvalorização das commodities”, diz.
A desvalorização das commodities agropecuárias influenciou os preços no varejo e proporcionou esse movimento. “Agora, com o fim do acordo da Rússia com a Ucrânia de grãos, não deve haver um quadro de revisões relevantes para os preços ou uma influência que possa necessariamente impedir um corte na Selic”, acredita.
Ela explica que ao analisar as cotações, por exemplo, do milho ou da soja, já com a notícia do fim do acordo, não é possível perceber uma influência de supervalorização nessas commodities. “Então, não parece ser um assunto que irá interferir nesse início de ciclo de corte de juros”, comenta.
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