Finanças

Rentabilidade dos bancos mantém crescimento

Rentabilidade dos bancos mantém crescimento
Crédito: Enildo Amaral/BCB

Brasília – O Banco Central (BC) indicou ontem que a rentabilidade dos bancos seguiu crescendo no primeiro semestre deste ano, com destaque para indicadores recordes entre instituições privadas, contrariando expectativa da autoridade monetária sobre estabilização deste movimento, conforme Relatório de Estabilidade Financeira (REF).

Segundo o documento, o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) do sistema bancário alcançou 15,8% em junho de 2019, elevação de 1,1 ponto em relação a dezembro de 2018 e no nível mais alto desde março de 2012 (15,9%).

Olhando apenas para os bancos privados, o ROE alcançou 16,5% ao fim do primeiro semestre, ante 15,6% em dezembro e no maior patamar da série disponibilizada pelo BC, com início em dezembro de 2011.

Já entre as instituições públicas, a rentabilidade subiu a 14,3% em junho, ante 12,8% no fim do ano passado.

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A título de comparação, o retorno sobre o patrimônio líquido dos bancos brasileiros ganha do observado, por exemplo, na Turquia (14,2%), China (13,2%), Rússia (11,1%) e Estados Unidos (3,5%). Mas perde da rentabilidade dos bancos na Argentina (55,8%) e no México (20,9%), conforme dados disponibilizados pelo BC em coletiva de imprensa.

De acordo com o BC, a melhora no primeiro semestre veio pela recuperação gradual no crescimento da carteira de crédito em mix mais rentável e pelo aumento na eficiência operacional dos bancos públicos. Também foi impactada pela retomada gradual do crescimento da carteira de crédito, com maior participação do crédito às famílias e às pequenas e médias empresas.

Olhando à frente, o BC destacou que há “leve arrefecimento” dessa tendência, em função do “esgotamento da redução das despesas de provisão e da expectativa de retração dos ganhos de eficiência operacional”.

No REF anterior, o BC havia dito que a expectativa para este ano era de que a alta do indicador não fosse mais verificada após os bancos terem cortado gordura em custos e diminuído despesas de provisão.

O diretor de Fiscalização do BC, Paulo Souza, pontuou que a estabilização de fato está acontecendo na análise comparativa anual. “Até 2018, você tinha um ganho a ser realizado em função da redução da taxa de juros. A partir de agora, ou os bancos migram para aumento de volume ou eles alteram o mix das suas operações, ou a tendência é que o resultado que foi observado em 2018 você não vai ter grandes variações para os próximos períodos”, disse.

Questionado se os bancos ainda não poderiam ganhar caso decidissem não repassar a queda no custo de captação com a recente diminuição da Selic, Souza ponderou que a diferença daqui para frente nesse sentido não será vultosa como no passado.

“Não tem grandes espaços (para ganhos) em custos de captação”, disse.

Queda dos juros – Em julho, o BC iniciou o ciclo de afrouxamento monetário e, de lá para cá, reduziu os juros básicos em 1 ponto percentual, à mínima histórica de 5,5%, indicando espaço para novos cortes adiante.

Souza lembrou que a queda da Selic foi muito mais expressiva em anos recentes. A Selic começou 2017 em 13,75% e abriu 2018 em 7%.

Em relação à economia, o BC afirmou no relatório que o ritmo de recuperação da atividade permaneceu gradual. “Nesse cenário econômico pouco aquecido, o financiamento doméstico amplo às empresas não financeiras avançou em ritmo semelhante ao do semestre anterior. O recuo no crédito bancário foi compensado pelo expressivo aumento do financiamento via mercado de capitais”, disse.

“O crédito às famílias, por sua vez, foi pouco afetado pelo desempenho da economia e manteve a tendência de aceleração apresentada nos semestres anteriores”, completou.

Segundo o BC, a dívida bruta do governo e o cenário de riscos não sofreram alterações e o persistente aumento dos ativos problemáticos na carteira das grandes empresas continua sendo o principal ponto de atenção.

“O mercado reduziu sua preocupação com os riscos político-fiscais – embora ainda os considere a maior fonte de vulnerabilidade para a estabilidade financeira –, mas aumentou a apreensão com o cenário externo. As instituições permanecem confiantes na capacidade de o sistema financeiro absorver choques adversos”, frisou o BC.

Tanto a solvência do sistema bancário quanto o nível de provisões e a liquidez das instituições seguem em níveis confortáveis e o BC indicou que, mesmo com a retomada do crédito, a perspectiva é de manutenção da solidez dos índices de capital. (Reuters)

Crédito às famílias não preocupa

No Relatório de Estabilidade Financeira (REF), o Banco Central (BC) também destacou que houve “leve” elevação dos ativos problemáticos no crédito às famílias, que têm crescido no ritmo mais alto desde o final de 2015.

Na avaliação da autoridade monetária, isso não representa um risco pelo fato de esses ativos estarem perto dos patamares mínimos em termos históricos.

“A análise por safra demonstra tendência de aumento de risco apenas para a modalidade crédito pessoal não consignado”, apontou o documento.

Para o BC, o crédito às pessoas físicas seguirá crescendo, “com nível de risco pouco acima do atual”, já que a estratégia dos bancos é de avanço em modalidades mais rentáveis e arriscadas. Mas o relatório ponderou que, se não houver retomada econômica efetiva, essa estratégia das instituições pode mudar. (Reuters)

Ministro defende queda em spreads

São Paulo – O governo está abrindo o setor bancário para competição e pretende reduzir e simplificar impostos, afirmou o ministro da Economia, Paulo Guedes, ontem, frisando que os spreads dos bancos “vão ter que cair”.

“A competição bancária está aumentando não só pelas fintechs, que é a competição que vem do futuro, mas tem a do passado também, as empresas simples de crédito”, disse Guedes. “Isso tudo vai começar a comprimir os spreads”, acrescentou, em referência à diferença do custo de captação das instituições e as taxas de juros cobradas dos clientes no crédito.

Ao participar do Brasil Investment Forum 2019, evento promovido pelo governo, em São Paulo, Guedes disse que os bancos públicos estão sendo desalavancados e que o BNDES vai se desfazer de suas ações e focar sua atuação em saneamento, privatizações, concessões e reestruturação financeira de estados e municípios.

“Para que um banco público tem que ficar com carteira de ações? Só para manter um portfólio grande e poder pagar salários altos para todo mundo, privilégios, benefícios? Tá errado”, disse Guedes. “Ele tem que vender isso e devolver o que está devendo para o Brasil, porque alavancaram os bancos para fazer favores para empresas companheiras e o banco agora tem que reduzir isso e devolver, e é o que está fazendo, começa a devolver”, completou. (Reuters)

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