Finanças

Ritmo da atividade econômico está no radar do Copom

A passagem da taxa de câmbio para a inflação será um dos pontos em análise
Ritmo da atividade econômico está no radar do Copom
Crédito: Marcello Casal Jr Agência Brasil

Brasília – O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse na sexta-feira (7) que um dos pontos mais relevantes a serem monitorados pela autoridade monetária para o controle da inflação é o ritmo da atividade econômica. O Comitê de Política Monetária (Copom) já vem indicando a necessidade de desaceleração da atividade em suas comunicações. Ele participou da Conference on Monetary Policy Transmission and the Labour Market, promovida pelo Banco de Portugal, em Lisboa.

“Por que olhar para o ritmo da atividade econômica? Porque é fundamental para determinar a inflação, especialmente a inflação de serviços. É por isso que olhamos, nos importamos com a atividade econômica”, afirmou o diretor.

Outro ponto que será monitorado é a passagem da taxa de câmbio para a inflação. “Houve um grande processo de depreciação, especialmente em dezembro. A moeda se depreciou rapidamente em dezembro. Houve volatilidade. Já destacamos que, você sabe, o repasse é não linear, o repasse é assimétrico. Então, todas essas coisas são importantes quando há uma depreciação”, avaliou.

Ele voltou a mencionar as expectativas de inflação, que desancoraram mais, e são importantes para entender o comportamento da inflação no futuro. “Quando você tem expectativas de inflação desancoradas, a razão de sacrifício aumenta, os custos de levar a inflação de volta para a meta aumentam. E quando olhamos para esses vetores inflacionários no cenário atual, quero dizer, eles permanecem adversos, certo? Você tem um hiato positivo do produto. Isso reflete tanto no mercado de trabalho quanto nas outras medidas de atividade. E a depreciação da taxa de câmbio, uma inflação corrente alta e expectativas de inflação mais desancoradas”, disse.

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Desemprego neutro

O diretor de Política Econômica do Banco Central afirmou que é difícil estimar qual é o desemprego neutro no Brasil. “Você vê que o desemprego continuou caindo, e as pessoas pensaram que o desemprego seria estável e continuaria caindo. E é difícil saber qual é o ponto de equilíbrio, porque houve uma reforma no mercado de trabalho, mas acho que não há dúvida de que está forte, e isso tem surpreendido muito nos últimos, digamos, três anos”, avaliou.

Para ele, o cenário mostra um mercado de trabalho forte, mas também que há um apoio ao consumo vindo do crédito forte, dos benefícios sociais e do próprio mercado. Ele também destacou que várias métricas mostram que o mercado de trabalho está apertado no Brasil.

“Uma vez que começarmos a ver os salários subindo, haverá evidências de que o poder de barganha mudou, que o mercado de trabalho está apertado. Acho que isso ajuda a contar a história da nossa mudança de postura na política monetária. Quero dizer, nossa visão de interromper um ciclo de corte de juros e começar um ciclo de aumento está relacionada à visão sobre o mercado de trabalho, sobre os salários, sobre a mudança na visão do hiato do produto”, disse Guillen.

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que é preciso pensar no mercado de trabalho como um mecanismo de transmissão ao comentar o peso do indicador nas decisões de política monetária. “Não é que o mercado de trabalho seja um objetivo em si; você precisa pensar como, para levar a inflação à meta, ele se conecta com o produto e o mercado de trabalho”, comentou.

Aos presentes, Guillen quis explicar como a autoridade monetária procede sua comunicação no Brasil e mencionou a ata e comunicado do Copom, enfatizando que o País está em meio a um ciclo de aperto nos juros – e repetindo que a magnitude desse aperto será determinada pelo compromisso com a meta. “A magnitude total de tal ciclo será determinada pelo compromisso firme de alcançar a meta de inflação, e a meta é de 3%. Não é um intervalo, é 3%, e dependerá da dinâmica da inflação”, disse.

Ele também reiterou que as expectativas de inflação se desancoraram mais recentemente, ficando fora do intervalo. Sobre a comunicação, ele reiterou que o BC primeiro tentou entender por que as expectativas de inflação se desancoraram, depois passou a dizer que, pela desancoragem, era preciso agir.

Guillen também mencionou o hiato do produto, ponderando que é sempre difícil mensurá-lo. “No Brasil, nos últimos, digamos, quatro ou seis trimestres, passamos de um hiato negativo para um positivo, então a atividade tem surpreendido positivamente, crescendo acima do potencial. Também mudamos nossos métodos para estimar o hiato do produto, e isso foi destacado na comunicação. Agora, vemos o hiato do produto como positivo, e achamos que ele vai crescer abaixo do potencial, indo para um hiato negativo daqui a seis trimestres, e isso é necessário para levar a inflação de volta à meta”, disse.

Reportagem distribuída pela Estadão Conteúdo

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