WE ARE DUX – GUIA WEB3 | Metacommerce e o futuro do varejo

Quando Mark Zuckerberg, em outubro de 2021, anunciou com pompas de arauto romano a substituição do nome Facebook por Meta, dando início a um rebranding de bilhões de dólares que virou o Silício de ponta cabeça, a terminologia metaverso, como se revestida por um súbito e espesso banho de ouro, ganhou, do dia para a noite, interesse luzidio de um contingente maciço de pessoas.
Se antes o termo cunhado por Neal Stephenson, no romance Snow Ball, publicado em 1992, era conhecido apenas por um nicho de aficcionados por ficções distópicas coloridas pelo cyber punkismo, desde então ouve-se a palavra metaverso correndo por aí com curiosa familiaridade. Desembaraçadamente, o metaverso passou a ocupar a prosaica filosofia das mesas de bar de Santa Tereza, a constrangida conversa entre desconhecidos que partilham por segundos os elevadores dos prédios comerciais, o papo ofegante e entrecortado de senhoras e senhores que circundam desportivamente a Praça da Liberdade nos dias de domingo.
Acreditem, não há dono de café, petshop ou padaria que não tenha, ao menos uma vez, escutado a palavra que obteve segundo lugar na concorrida votação da Oxford University Press como a mais importante do ano de 2022. Da mesma forma, ventila-se – ainda que sem confirmação científica – que o termo metaverso tenha sido dito 265.387 vezes enquanto trinchava-se a sagrada proteína natalina. Com a mesma necessidade de advertência sobre a veracidade dos fatos, estima-se que, nos últimos 12 meses, 67% das crianças em idade pré-escolar, grande parte delas ainda aferroada ao bico, balbuciou metaverso nos intervalos do escorrega, para a orgulhosa audiência composta de pais e avós – que já vislumbram os pequenos precocemente admitidos nos pós-doutorados do MIT.
A despeito da penetração crescente do termo, é nítido que pouco se compreende da aplicabilidade do metaverso no mundo real. Prevalece mais a curiosidade especulativa e a futurologia de ocasião do que o debruçar aprofundado sobre o tema. De fato, propalar conjecturas é uma atividade lúdica que desde sempre acompanha comunidades humanas. Como formula François Hartog, exceder a prisão do presentismo e projetar horizontes temporais mais vastos é uma característica que, ao menos num narcísico Antropoceno, nos distingue dos demais seres que coabitam essa esfera rochosa.
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Nesse contexto – fornecendo fagulha para o rastilho dos balcões de boemia e saborosas papinhas para o inesgotável apetite por conhecimento dos nossos infantes -, o metaverso emerge como uma revolução paradigmática com potencial de transformar a forma como trabalhamos, compramos, viajamos, investimos, jogamos e nos relacionamos. O metaverso, como a princípio erroneamente muitos podem supor, não é um mero joguinho, uma diversão para aplacar o ócio dos Gen-Zers – não é o Roblox, o Minecraft, o Second Life ou mesmo, em um escopo web3, o Decentraland e o The Sandbox. Posto em síntese, o Metaverso pode ser descrito como infraestrutura essencial da próxima geração da internet. Ou, de modo a tangibilizá-lo com mais precisão, o metaverso habilita uma internet imersiva, espacializada e 3D.
Hoje a experiência do usuário que interage com a web é baseada na plenitude das telas, no deslizar dos dedos sobre a lisura dos ecrãs, na contemplação diuturna do aparato rígido dos monitores. Tal como acontece ainda incipientemente com os óculos de realidade virtual e as luvas e coletes hápticos, no futuro a interação com a rede será baseada em uma reprodução digital do nosso espaço físico e da nossa sensorialidade. Isto significa, por exemplo, que faremos compras em espaços virtuais especialmente projetados para receber meta customers globais. Podemos pensar, inclusive, em lojas virtuais que se adaptem ao gosto do cliente, alterando sua arquitetura, sua formalidade ou informalidade, o número de outros clientes visíveis, de acordo com os dados algoritmicamente coletados dos potenciais compradores. Em simultâneo, a era Phygital (portmanteau de Physical e Digital) nos permite supor que o mix de produtos das varejistas serão dotados de inteligência espacial e poderão ser visualizados também no mundo físico, rompendo, dessa forma, em definitivo a fronteira que distingue o real e o virtual. O meta commerce, em última instância, poderá conciliar uma experiência de compra baseada na conveniência, na velocidade e no pragmatismo – tal qual o e-commerce – sem abrir mão de uma wow experience.
Para que o setor varejista não se desconecte de uma das tendências com maior potencial disruptivo da nossa geração, é fundamental que visualize o metaverso – e tudo que dele deriva – como um mecanismo preponderante para criar relações mais profundas com seus consumidores. Não é papo de adolescente. É sobrevivência.
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