Sistema de franquias leva práticas ESG para o interior do Brasil

Considerado um modelo ágil e seguro de expansão, o franchising brasileiro, além de levar produtos e serviços para municípios de todos os portes e perfis e marcas brasileiras mundo afora, também dissemina boas práticas em gestão, tendências de mercado e conscientização por onde passa. As práticas ESG (responsabilidade ambiental e governança) também se valem das franquias para alcançar públicos diversos por meio de produtos, serviços e normas responsáveis diárias.
Os números do setor mostram o poder de disseminação de ideias que ele tem. Segundo a Pesquisa Trimestral de Desempenho realizada pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), o setor registrou alta de 11,4% no faturamento no terceiro trimestre de 2023, em relação ao mesmo período do ano anterior, com crescimento em todos os segmentos. No terceiro trimestre de 2023, a mão de obra empregada pelo franchising foi da ordem de 1.645 milhão de empregos diretos, em 191.346 operações em funcionamento.
Para o diretor de Marketing e Comunicação e diretor da Comissão de ESG da ABF, Rodrigo Abreu, o ESG é um tema que cada vez mais tem interessado às franqueadoras. As reuniões periódicas da Comissão têm sido, cada vez mais, um espaço para compartilhamento de experiências exitosas. No início de dezembro de 2023 a entidade lançou a sua cartilha de introdução ao ESG.
“Trabalhamos para tirar o rótulo de que o ESG é só para grandes empresas e que tudo é muito complexo. Encorajamos os franqueadores a mapear as ações. Assim eles percebem que já fazem muita coisa e que não é tão difícil como parece. Com a implantação da governança corporativa, o franqueador compartilha métricas, indicadores, conhecimento e certificações. A educação está na essência do franchising. A cada operação aberta, em média, são oito empregos diretos, sendo boa parte dele, primeiro emprego. Então, cada vez que agimos, estamos disseminando conhecimento e boas práticas por todo o País e para muita gente”, explica Abreu.
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Se é verdade que nunca é tarde para adotar práticas ESG, também é certo de que quanto mais cedo, melhor. Franqueadoras que já começam o seu plano de expansão não só praticando o ESG na sua área de produção, mas também levando conhecimento para os franqueados, tendem a ter resultados econômicos mais robustos.
Além de uma gestão mais ajustada pela aplicação de métodos de governança, ao agirem com responsabilidade socioambiental, as franquias melhoram processos, evitam desperdícios, reduzem consumo de insumos e energia, aumentam a diversidade das equipes, se tornam mais inovadoras e, com isso, ganham reputação, valor de imagem e, via de regra, atraem mais investimento e consumidores.
O vice-presidente da vertical de consultoria do Grupo 300 Ecossistema de Alto Impacto, Lucien Newton, trabalha diretamente na transformação de negócios em franquias.
“O ESG está cada vez mais presente entre as franquias, mas ainda assim há um grande trabalho de ‘evangelização’ para fazer, especialmente para os pequenos e médios empreendedores. O ESG levou um tempo para chegar até esse público e está acontecendo de fora para dentro, com a pressão principalmente dos consumidores e também dos investidores. Usamos um material da IFA (International Franchise Association) que ajuda a empresa a mapear nos três pilares o que a empresa já faz, o que não faz e o que ainda pode fazer. O ESG faz sentido quando tem impacto sobre o resultado dos negócios, mas ele é de longo prazo, então é difícil para essas empresas fazerem a mensuração. Por isso incluímos uma etapa de mapeamento presente e futuro já na formatação”, destaca Newton.

O franchising é caracterizado pelo compartilhamento de conhecimento e estrutura onde a franqueadora cede a sua expertise ao franqueado, mas não é só isso: o franqueado também compartilha os seus contatos, o conhecimento sobre a praça em que atua e seus conhecimentos e crenças.
O sistema de franquias é, então, uma via de mão dupla onde o ESG se fortalece. “O franchising como ecossistema de aprendizagem. A beleza do modelo é chegar a qualquer lugar e coletar o que está acontecendo na ponta. Ninguém sabe melhor o que acontece nas localidades do que o franqueado. São os pequenos negócios e pequenas cidades inspirando os grandes, principalmente no que diz respeito à responsabilidade social”, pontua o diretor da Comissão de ESG da ABF.
A força das franquias brasileiras e a qualidade da legislação que regula o setor – a chamada Lei de Franquias – criam um ambiente favorável para o desenvolvimento do ESG no setor, facilitando, inclusive, a internacionalização das marcas brasileiras.
“Desenvolver um modelo de franquia é uma estratégia de longo prazo. O planejamento é de 10 anos e por isso a gente tem que desenvolver um plano de ESG hoje. Temos um ambiente favorável para esse tipo de desenvolvimento da consciência. O mundo inteiro tem no ESG um critério para fazer negócio e consumir produtos e serviços. O Brasil é visto como um grande potencial numa economia global mais responsável e essa é uma oportunidade que o franchising brasileiro deve aproveitar”, completa o vice-presidente da vertical de consultoria do Grupo 300 Ecossistema de Alto Impacto.
Franquia de calçados infantis promove ESG há décadas
No mercado há 75 anos, a Bibi, franquia de calçados infantis, conquistou pela terceira vez a recertificação do Selo Diamante de Sustentabilidade, concedida pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assistencal), com objetivo de criar uma cadeia calçadista mais sustentável.
A conquista, porém, não é fruto de um trabalho de quatro ou cinco anos. De acordo com a presidente da Bibi, Andrea Kohlrausch, a empresa acredita que a sustentabilidade é um valor. E é a busca de equilíbrio com todos os públicos que precisa ser cultivada todos os dias.
“Historicamente acreditamos e agimos com responsabilidade socioambiental, mesmo muito antes da sigla ESG existir. Sustentabilidade não pode ser uma moda apenas. Por tratar disso há muitos anos, tivemos diversas evoluções. Desenvolvemos a cadeia de suprimentos e desafiamos os times internos para que busquem – mesmo trabalhando com produtos de moda, cujo ciclo de vida é curto – a trabalhar com as áreas produtivas, para a redução dos resíduos, melhores matérias-primas e reciclagem, por exemplo.”
No pilar Social, há mais de uma década a empresa realiza o “Fábrica de Talentos”, em parceria com o Senai nas suas plantas na Bahia e no Rio Grande do Sul. Em 2021, a empresa estabeleceu os 12 compromissos para serem alcançados até 2030. Com foco no meio ambiente, a Bibi almeja melhorar de forma contínua o sistema de gestão ambiental da companhia, desenvolvendo processos que resultem em ganhos de ecoeficiência e na redução dos impactos negativos gerados pelas operações. No âmbito de governança, o Grupo busca desenvolver projetos e ações que fortaleçam o propósito da marca, trazendo impacto positivo à sociedade. Já na esfera econômica, a empresa visa promover o crescimento em todas as frentes de negócio da Bibi (indústria e varejo) de forma sustentável, gerando impactos econômicos positivos na comunidade local por meio da geração de empregos e pagamento de tributos.
“A franquia é um caminho de compartilhamento que desenvolvemos a quatro mãos com os franqueados inclusive nas práticas ESG. Um ponto interessante é a maneira como damos importância ao nosso Código de Conduta e Ética e como ele permeia a nossa relação com os franqueados e os demais parceiros, inclusive nas nossas operações no exterior. Tudo isso é sustentabilidade”, avalia a CEO da Bibi.
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