Bienal discute memória e futuro da gastronomia em BH
A segunda edição da Bienal de Gastronomia de Belo Horizonte chega ao fim celebrando a cultura alimentar da cidade, com uma programação de eventos descentralizados e imersivos em mercados e espaços urbanos. Entre os destaques da programação, o Fórum Internacional de Gastronomia, dedicado aos profissionais e entusiastas do setor, reuniu profissionais do Brasil e do exterior. O objetivo era celebrar a memória da gastronomia reverenciando o seu lugar de base do que é feito hoje e que precisa ser preservada e como ela pode ser um alicerce para um futuro sustentável e que ajude a desenvolver os territórios.
Na programação, assuntos como cultura alimentar em transformação; comida como patrimônio cultural e histórias e comidas que inspiram, entre outros temas.
De acordo com a presidente da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), Bárbara Menucci, o Fórum de Gastronomia se propõe a ser um espaço de encontro e partilha, reforçando o protagonismo feminino e a gastronomia como expressão cultural, social e política, capaz de conectar identidade, território e futuro.
“Na Bienal, queremos olhar para a gastronomia na esfera da cultura alimentar. Em toda a programação, queremos mostrar a gastronomia como espaço de transformação, a cultura alimentar como espaço de dignidade e inclusão e olhar para esse setor trazendo a sustentabilidade como transversal”, explica Bárbara Menucci.
O evento buscou também oferecer um espaço para celebrar a alimentação, gastronomia e culinária, importantes ativos de Belo Horizonte – reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Cidade Criativa da Gastronomia – e explorar as últimas tendências e avanços do segmento, com o compartilhamento de boas práticas, experiências e memórias que perpassam por temas atuais e relevantes.
Para a cofundadora e gestora do Gastronomia Periférica, Adélia Rodrigues, o que liga as diferentes periferias e as suas gastronomia é o elemento humano capaz de movimentar a estrutura social por meio da gastronomia como ferramenta e memória.

“Existe um ser humano que não pode ser destituído da sua humanidade, esteja ele dentro de uma cidade ou num contexto mais rural. A gente só consegue causar transformação social e pensar na possibilidade de futuro – muitas vezes negada a quem é periférico – quando investimos em educação. Precisamos apresentar possibilidades de escolha para trazer dignidade e autoestima que são necessárias para dar o próximo passo”, analisa.
O projeto Gastronomia Periférica, que tem unidades físicas em São Paulo e Brasília e ensino remoto em 23 estados, é um centro de excelência dedicado à formação de novos talentos na área gastronômica. Oferecendo cursos que abrangem desde técnicas básicas de cozinha até a alta gastronomia, a escola proporciona uma educação completa e disruptiva, que olha para o desenvolvimento do ser humano, para além da cozinha. Um dos próximos objetivos é ter uma turma presencial em Belo Horizonte.
“Na escuta de Belo Horizonte a gente percebe que a cidade merece o título de criativa através das pessoas, do que elas podem produzir. Só quando elas são bem cuidadas é que podem, de fato, colocar o que elas têm de potencial nessa idéia de criatividade que é coletiva. Espero poder me conectar ainda mais com esse povo daqui”, pontua a gestora do Gastronomia Periférica.
Segundo a chef executiva da Cozinha Interativa Itambé por Cumbucca, Fabiana Rodrigues, muito mais do que a comida em si, a gastronomia é um conjunto de experiências, que vão do lugar onde é produzida às histórias vividas.
“A gastronomia é criativa e é de todo mundo. Nós temos pertencimento. Ela é a nossa fala, tudo que é importante que engloba Minas Gerais e agora a gente tem dado valor a isso. E que nós possamos passar para as próximas gerações, imaterializando os modos de fazer da nossa cozinha. É um patrimônio que precisa da nossa união para protegê-lo e perpetuá-lo. A inovação é necessária, mas tem que ser feita com cuidado e respeito pelo o que somos e o que queremos mostrar, servir. Cozinha é serviço. Quando a gente transforma um prato, traz o contemporâneo para uma cozinha que é patrimônio, trazemos novidades que, quem sabe, no futuro, também passem a ser um patrimônio nosso”, avalia Fabiana Rodrigues.
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