Confeitaria muda vida de mulheres pelo Brasil: conheça a história de Dani Formigueiro

Empoderamento feminino é o processo pelo qual as mulheres ganham poder, autonomia e confiança para tomar decisões e controlar suas próprias vidas, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. Esse processo envolve a superação de barreiras sociais, econômicas e culturais que limitam suas oportunidades e direitos. O empoderamento feminino busca promover a igualdade de gênero, garantindo que as mulheres tenham acesso a educação, emprego, recursos financeiros, participação política e social, e oportunidades de liderança. Em essência, é um movimento para assegurar que as mulheres possam viver de maneira plena e independente, exercendo seus direitos e potencialidades sem discriminação ou restrições.
Muito antes da palavra empoderamento se tornar popular, ela já empoderava outras mulheres. Com mãos de fada, transforma o que toca em “doces negócios”, começando pelo maior congresso anual de confeitaria do Brasil: o Confeitar Minas.
Na página temática dessa semana, sobre o setor de gastronomia, a mestre confeiteira Danielle Neves, ou melhor, Dani Formigueiro, fala sobre a carreira na confeitaria, empreendedorismo, trabalho social e, claro, seus doces preferidos.
Você hoje é conhecida no Brasil todo como a idealizadora do Confeitar, que é um evento nacional que acontece em Belo Horizonte e já tem versões espalhadas pelo País. Em 2017, você apareceu no Diário do Comércio em uma matéria sobre o mercado de confeitaria, com o projeto “empreendendo no lar doce lar”, que acontecia no Facebook. Pode nos contar como começou?
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Em 2016, passei por um período meio complicado depois que tive minha filha. Eu foquei em ser mãe, me anulei muito. Depois me deu vontade de ajudar outras pessoas com o meu conhecimento. Estava todo mundo reclamando do desemprego. Eu sempre enxerguei as crises como uma oportunidade. Sempre penso em como posso contribuir e é com o que eu sei fazer: a confeitaria. Tenho experiência na área de vendas e marketing, que é minha formação acadêmica. Vim do mercado e comecei a empreender em casa em 2001, com cestas de café da manhã. A confeitaria entrou em 2002. Quando vi que era possível gerar renda em casa, comecei a dar aulas nas comunidades, por conta própria. Pedia aos centros sociais para cederem um espaço para que eu pudesse ministrar cursos de bombons, de trufas para mulheres. Eles liberavam e divulgavam nas comunidades. Todo o material era meu e não cobrava nada. Foi aí que pedi para uma amiga fazer uma página no Facebook em março de 2016, mas eu comecei em agosto. Em quatro meses, eram 60 mil mulheres. No primeiro evento, em 2017, foram 125 mil. Aquela comunidade transformou a minha vida. Um dia uma moça falou assim: “Não tenho nada na minha geladeira, mas no meu quintal tem goiaba”. E aí as meninas começaram a dar dicas de doces com goiaba, de sucos. Não é que ela começou? Ganhou dinheiro, comprou outras frutas e hoje tem uma minifábrica de sucos. Tenho aprendido muito com elas.
Abrimos a entrevista falando de empoderamento. Muito desse espírito empreendedor e aguerrido vem da sua mãe, certo? Quais lições ela deixou para a Dani empresária?
Eu perdi minha mãe muito cedo, ela tinha 40 anos e eu 13. Minha mãe saía para trabalhar e eu precisava ficar em casa, quietinha. Claro que isso não deu certo. Eu pegava os cones de overloque para fazer de microfone e saía entrevistando as pessoas na rua. Depois dessa fase, eu saía com uma amiga para vender. Vendia qualquer coisa batendo de porta em porta. Um dia ninguém quis comprar nada e eu falei: “Vamos mudar de estratégia!”. Aí eu fui para a porta da minha casa e comecei a gritar. Com isso, minha mãe se viu obrigada a sair do emprego. E aí ela começou a empreender. A mesma butique que ela trabalhava, começou a fornecer roupas. Ela gostava de trabalhar com peças exclusivas. Ela sempre me motivou. Eu queria trabalhar e ela arrumou doces para eu vender. Na época o meu apelido já era formiga. Eu ia vender na escola, mas eu mais comia e não deu certo. E, com 12 anos, consegui um emprego em uma casa lotérica. Minha mãe nunca me limitou. Fui diagnosticada com TDAH, mas ela me colocava para frente. Dizia que eu era muito inteligente, que a nossa cor era linda. Ela sempre destacou os meus pontos fortes. Ela nunca falou “olha, Dani, você vai sofrer preconceito”. Eu nunca me enxerguei inferior. Consegui uma bolsa no Colégio Batista, um lugar, naquela época, de brancos. Em todos os anos eu fui chefe de turma, diretora esportiva. Sempre ocupei espaço de liderança e de destaque.
Você sempre fala sobre a importância da imagem, da apresentação, não só do produto, mas do próprio empreendedor. Você pode falar um pouco sobre isso?
Temos ouvido falar bastante sobre posicionamento. Nesta semana uma das meninas me chamou para contar que tem um produto excelente, que só trabalha com matéria-prima de qualidade e que ninguém valoriza o produto. Mas tudo começa com o nosso posicionamento, não do produto. Se eu não me posiciono como A, eu não vendo para A. Minha mentalidade, minha postura, meu posicionamento conversa primeiro com o meu público e depois vem o meu produto. Se você não acredita, você não pertence e não consegue passar a mensagem. Comece com o que você tem, mas na primeira oportunidade, invista em você. Cuide primeiro do seu CPF, depois do CNPJ. A sua apresentação você chega primeiro, chega antes do seu produto.
Você começou na confeitaria em 2001, em uma época em que a gastronomia e a confeitaria, principalmente, não tinham tanto glamour. Acompanhando os realities, é possível perceber o pânico que muitos chefes formados têm da confeitaria. Fazer doce é mais difícil que salgados?
As pessoas não valorizam a confeitaria, essa do dia a dia, que paga a faculdade. A confeitaria do bolo do pote, do bombom, da trufa, do pão de mel não ganha holofotes. Quando colocam alguma confeitaria em um programa de TV, dão destaque para a confeitaria francesa. As faculdades têm muito pouco de confeitaria. As pessoas dizem que é preciso dom. É preciso mais técnica do que dom. Tem chef que faz pratos maravilhosos, mas apanha da temperagem. A alta gastronomia precisa enxergar mais a confeitaria. Não é à toa que estão surgindo mais realities de confeitaria, mas falta preparo. A confeitaria está nas pequenas aulas, pequenos cursos, com as professoras que dão aulas em casa ou nas lojas de festas.
O Brasil tem uma enormidade de frutas, cores, texturas. A nossa gastronomia é muito rica. O cupcake original, por exemplo, tem uma carga de manteiga, de gordura muito grande e a gente reduziu. Nós estamos no caminho. Eu tenho esperança. Os eventos e as feiras estão crescendo. Uma feira, em São Paulo, recebe 40 mil confeiteiros. No ano passado, foram 1.500 pessoas no Congresso Confeitar Minas. Todo mundo de rosa na frente do Minascentro.
Uma pergunta que não pode faltar: qual o seu doce preferido?
Gosto de tudo, mas de preferência algo que tenha chocolate. Até a minha canjica tem chocolate. Mas também gosto de um bolo, de uma torta bem molhadinha. Eu amo doce de outras confeiteiras. Mas o paladar a gente muda muito. Eu não gostava de pistache, agora eu estou gostando.
Além do brigadeiro, que é infalível, o que você não pode tirar de jeito nenhum do seu portfólio?
O meu carro-chefe é o pão de mel. Eu comecei com as trufas. Mas se for para dar uma dica para quem está começando, eu apostaria no brownie, que está ganhando um espaço. Além desses, os caseirinhos. Sou a favor de tudo que é prático, que posso produzir em escala. Com um bolo em pasta americana, eu não consigo, mas eu escalo no brownie, no cookie, no pão de mel. Eu tenho mais condições de soltar um volume maior.
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