CEOs já veem resultados da IA, mas falta de mão de obra ainda é preocupação para 2025

Empresas de todo o mundo já começam a colher resultados financeiros com a utilização de Inteligência Artificial (IA), mas a falta de mão de obra qualificada segue como um gargalo para a expansão dos negócios, inclusive para o uso da nova ferramenta. É o que mostra 28ª edição da Global CEO Survey da PWC, pesquisa que ouviu 4.700 líderes empresariais de mais de 100 países.
A pesquisa aponta que os CEOs brasileiros consideram a falta de mão de obra qualificada como a principal ameaça para perdas financeiras para este ano. Esta é a preocupação de 30% dos líderes, seguida de instabilidade macroeconômica (27%), riscos cibernéticos (26%), inflação (24%) e disrupção tecnológica (21%). Essa inquietação é mais acentuada no país do que no cenário global. Já a instabilidade macroeconômica surge como a segunda principal ameaça no Brasil e a principal no mundo.
“A questão dos talentos qualificados é uma queixa recorrente, por exemplo, das áreas de tecnologia das empresas, entre várias outras. Uma vez que se pensa em expandir o uso da IA generativa e colocá-la no centro das estratégias dos negócios, faz sentido que essa preocupação tenha chegado aos CEOs”, comenta o sócio-presidente da PwC Brasil, Marco Castro.
O estudo indica uma estabilidade em relação às oportunidades de emprego. CEOs no Brasil e no mundo (13%) dizem ter reduzido o quadro de profissionais devido à IA generativa, enquanto uma parcela um pouco maior (21% no Brasil e 17% no mundo) relata um aumento nas contratações devido aos investimentos na tecnologia.
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Inteligência Artificial generativa já dá resultados
Dois anos após a Inteligência Artificial generativa surgir como prioridade na agenda dos executivos, um terço dos CEOs do Brasil e do mundo aponta que a tecnologia contribuiu para o aumento de receita e lucratividade das suas empresas. No Brasil, o nível de confiança na integração da IA aos processos essenciais da empresa é significativamente maior do que no mundo: 51%, ante 33% globalmente.
“Não há alternativa: é preciso acelerar a reinvenção. Caso contrário, resta apenas acreditar que ajustes marginais sustentarão a sobrevida dos atuais modelos. Se de fato temos compromisso com a sobrevivência dos negócios e com a sociedade onde operamos, é preciso encarar de frente as oportunidades da IA generativa e promover ações que de fato permitam a transição para uma economia de baixo carbono. As dinâmicas de valor de mercado serão completamente diferentes”, diz Marco.
Mais da metade dos CEOs no Brasil (52%) e no mundo (56%) indica que a IA generativa resultou em ganhos de eficiência no uso do tempo dos funcionários, enquanto cerca de um terço identifica aumento de receita (34% no Brasil e 32% no mundo) e lucratividade (31% no Brasil e 34% no mundo).
Embora esses resultados estejam abaixo do que havia sido projetado pelos CEOs na edição anterior da pesquisa, o otimismo persiste: 61% dos CEOs no Brasil e 49% no mundo esperam que a IA generativa impulsione a lucratividade de suas empresas.
“A diferença entre expectativa e realidade não deve ser encarada com pessimismo. É nítido que a IA é uma tecnologia que as companhias continuam aprendendo a usar e há indícios claros de ganhos relacionados à sua aplicação”, comenta Marco. “O desafio para os CEOs é manter suas empresas concentradas no objetivo, em meio à euforia que costuma acompanhar toda grande inovação tecnológica”, diz.
Em relação ao futuro, os CEOs indicam as maiores prioridades nos próximos três anos para integrar a IA (incluindo a generativa) são:
- Integração a plataformas tecnológicas (69% no Brasil e 47% no mundo);
- processos de negócios e fluxos de trabalho (56% no Brasil e 41% no mundo).
Reinvenção dos negócios
De acordo com estudo da PwC, a urgência na reinvenção dos negócios, tanto no Brasil como no mundo, continua no topo da agenda dos CEOs. No Brasil, a preocupação aumentou: 45% dos líderes acreditam que seus negócios não serão viáveis nos próximos dez anos se mantiverem o rumo atual – um aumento em relação aos 41% do ano passado. No mundo, este percentual é de 42%, ante 45% na pesquisa anterior.
“A necessidade de reinvenção já havia aparecido antes, mas agora se torna mais urgente. Por exemplo, 52% das empresas que estavam listadas na Fortune 500 em 2003 deixaram de existir porque faliram, foram adquiridas ou passaram por fusões. Mesmo se o negócio está próspero agora, é essencial avaliar os riscos e se posicionar para a reinvenção necessária para o futuro”, afirma Marco.
Perguntados sobre as principais ações de reinvenção promovidas nos últimos cinco anos (considerando apenas respostas “muito” e “extremamente”), 51% dos CEOs do Brasil disseram que buscaram uma nova base de clientes para as empresas que lideram (em contraste, essa é a resposta de 32% dos respondentes globais).
Entre os brasileiros, 47% responderam que suas empresas desenvolveram produtos ou serviços inovadores (38% na média global), 34% investiram em novas estratégias de mercado (25% na média global), 33% fizeram parcerias com outras organizações (26% na média global) e 31% implementaram novos modelos de precificação (24% na média global).
“Grandes disrupções exigem processos de tomada de decisão bem fundamentados. Tanto no Brasil quanto globalmente, as decisões estratégicas estão se baseando em resultados e não na qualidade e abrangência do processo. Ainda que faça sentido, resultados também são influenciados por fatores fora do controle dos tomadores de decisão, e o único elemento que se pode controlar completamente é a qualidade do processo decisório”, observa Marco.
Investimentos climáticos como estratégia de negócios
Ao perguntar aos CEOs sobre o impacto financeiro dos investimentos com baixo impacto climático nos últimos cinco anos, a pesquisa indica que a probabilidade de aumento da receita é seis vezes maior que a possibilidade de perdas com estes investimentos. Além disso, cerca de dois terços dos executivos no Brasil e no mundo destacam que investimentos desse tipo levaram à redução de custos ou tiveram impacto irrelevante nas despesas.
“Um terço dos CEOs do Brasil afirma que investimentos climáticos aumentaram as suas receitas, enquanto apenas um quarto diz que estes mesmos investimentos geraram aumento de custo, uma diferença que mostra o valor das ações em alinhamento com a agenda do clima”, avalia Marco Castro.
O sócio-presidente da PwC Brasil aponta que esses resultados sofrem influência de regulamentações e incentivos específicos de cada país. Na China continental, 60% dos CEOs afirmam que esses investimentos geraram novas receitas, em comparação com 30% no Brasil. Mas no país asiático, 46% dos líderes dizem que houve incentivos governamentais adicionais, ante apenas 13% dos executivos de empresas brasileiras. Cerca de metade dos CEOs na Alemanha e na França avalia que os investimentos climáticos aumentaram custos, enquanto apenas no 25% Brasil e 20% nos EUA relatam o mesmo.
Apesar dos desafios e do cenário global de tensões geopolíticas e comerciais, 68% dos CEOs no Brasil esperam que o crescimento da economia global acelere em 2025. O resultado significa um forte aumento em relação aos 36% da pesquisa de 2024 e aos 17% de 2023. Na média global, a tendência é a mesma, mas menos acentuada: 58% acreditam no crescimento da economia global, enquanto em 2024 este percentual foi de 38%.
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