Gabinetes de crise se tornam essenciais

O ineditismo da pandemia do Codiv-19 para quase toda a população mundial, que jamais havia acompanhado uma crise sanitária de tamanha proporção e velocidade antes, é um dos grandes desafios enfrentados por quem está na linha de frente, seja no flanco da saúde ou da economia.
É certo que organização é um item básico para a constituição de equipes para o enfrentamento de qualquer crise, mas só isso não basta. Em evento on-line organizado pela Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), no dia 25, o sócio, McKinsey & Company, Elias Goraieb, discutiu a estruturação de “Crisis Nerve Centers”, ou “gabinetes de crises”, como uma abordagem para planejar e gerir as respostas a crises como a do Covid-19. Durante a apresentação foram abordadas a estrutura típica, a forma de operação e temas críticos a serem tratados, alavancando aprendizados da Ásia e Europa.
Para ele, ao final da crise, poderemos ter um grupo de grandes reflexões que levarão a mudanças estruturais. Será preciso “reimaginar” o modelo operativo dos negócios e, para isso, é fundamental garantir o fôlego das empresas para que a travessia seja feita.
“Tudo isso é muito sério e veio para ficar. Devemos preparar as empresas para algo que vai ser duradouro. Se todas as medidas de contenção da pandemia forem tomadas e forem efetivas, mesmo nos cenários mais otimistas, teremos um período de crise econômica bastante longo. Em cenários piores não teremos uma retomada real antes de 2023. Então, precisamos estar prontos para um novo normal. E esse novo normal será muito diferente do que vivíamos até duas ou três semanas atrás”, alerta Goraieb.
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Para ele, ter um gabinete de crise coordenado é o primeiro passo. Até aqui, a maior parte das crises era aguda, mas dessa vez é diferente, exigindo uma coordenação de longo prazo, diferente da abordagem tradicional. Criar uma fonte única e validada de informação dentro da gestão da crise auxilia na tomada de decisão. Em qualquer crise a hesitação pode custar caro.
Assim, a coordenação deve proteger seus empregados, viabilizando o trabalho remoto ou trabalho seguro. E também já pensar no longo prazo, com programas de recapacitação e gestão de desempenho, por exemplo. Também é importante criar capacidade de produção flexível, mantendo os ativos mais produtivos e mais caros funcionando. Proteger as margens, evitando a volatilidade e estabelecendo parcerias de longo prazo. E ainda cuidar da saúde financeira garantindo a visibilidade sobre agenda de pagamento de dívidas; oportunidades e ameaças de mercado.
O mercado mundial e o brasileiro estão passando por uma alavancagem do digital muito importante nesse período. “Se todo mundo falava que estava na transformação digital, agora estamos em um pré-teste de estresse para ver quem, de fato, está nessa transformação. Do ponto de vista operacional, estamos vendo uma demanda muito maior por uma mudança estruturante, que transforme o modelo de atenção o modelo comercial das empresas. É necessário revisitar todas as jornadas de venda que tinham alguns cotovelos que eram ainda do mundo físico”, avalia o sócio da McKinsey & Company.
Ele segue dando um exemplo do mercado financeiro: “Até aqui, 60% dos clientes eram digitais. De uma hora, passaram para 100%. Essa é uma mudança que vai ficar porque, uma vez ensinado para o cliente que ele tem um custo mais baixo e uma facilidade maior de atenção, ele não vai querer voltar. De outro lado, empresas digitais estão se beneficiando bastante desse movimento. Empresas de pagamento como a Pay Pal, que é mais digital que a Visa, está se saindo melhor na manutenção de despesas. Players nativos digitais estão melhor posicionados”, completa.
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