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Gerações X e Z são as que mais apresentam burnout em cargos de liderança

Veja como a doença impactou a vida de uma profissional da geração Z e confira cinco formas de lidar com as adversidades da carreira sem perder o equilíbrio emocional
Gerações X e Z são as que mais apresentam burnout em cargos de liderança
Crédito: Reprodução Adobe Stock

Com o uso da Inteligência Artificial (IA), a Way Minder, startup mineira de soluções tecnológicas com foco em saúde mental, realizou uma pesquisa que revela que o esgotamento profissional (burnout) está presente em todas as esferas de lideranças no mercado de trabalho. No entanto, entre os líderes das gerações X e Z, o nível da doença é ainda mais alto.

O estudo foi realizado ao longo do ano passado com cerca de 600 funcionários de 17 organizações. Para isso, foi usada uma metodologia desenvolvida pela própria Way Minder, que inclui também uma diretriz da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, relacionada às áreas de prevenção de saúde emocional e mental, neurociência, inteligência emocional e psicologia positiva.

Com o uso de uma ferramenta de IA batizada de “Ellis”, a análise define a fase da doença por meio de um sistema de pontuação. Funciona assim:

  • casos nulos de burnout têm pontuação de 0 a 18;
  • nível baixo da doença, de 19 a 32 pontos;
  • moderado, 33 a 49;
  • alto, 50 a 59;
  • e grave, 60 a 75.

A pesquisa revela que, embora presente em todos os níveis de lideranças, o burnout tem nível de alerta mais alto entre os C-Level, ou seja, os executivos que ocupam as maiores posições nas empresas, como diretores e sócios.

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Dentro deste recorte, o estudo avaliou que os profissionais da geração X em ocupações C- Level apresentam uma classificação próxima ao nível elevado de burnout.

Confira a pontuação dos C-Levels por geração:

  • C-Level geração X (nascidos entre 1960-1980): 48,83 pontos
  • C-Level geração Y ou Millennials (nascidos entre 1980 e 1995): 33,93 pontos
  • C-Level Baby boomers (nascidos entre 1940-1960): 31,5 pontos

Já entre a categoria de gerentes e coordenadores, entra também a geração Z (nascidos a partir de 1995), que se destaca com nível elevado de burnout:

  • Geração Z: 41,8 pontos
  • Geração X: 36 pontos
  • Baby boomers: 34,5 pontos
  • Geração Y: 33,93 pontos

Superação e aprendizado: a vida após o burnout

Nem só em cargos de liderança as gerações mais jovens no mercado de trabalho sofrem com a pressão e a sobrecarga. Integrante da geração Z, a designer gráfico e publicitária Isabella Gonzaga da Silva foi diagnosticada com burnout em 2022, quando tinha 21 anos. Hoje, ela reflete que, apesar de ter passado por um momento difícil, aprendeu uma lição importante sobre o mercado de trabalho: “Eu não sou especial para eles. Se tivesse acontecido algo pior, eles me substituiriam em dois dias”.

Na época, a profissional trabalhava em home office como pessoa jurídica (PJ) em uma empresa, e fazia estágio em outra, além da faculdade. Com seu espaço de trabalho instalado no próprio quarto, não havia uma diferenciação entre a vida profissional e a pessoal. Além disso, era recorrente trabalhar fora do horário de serviço.

“Os sintomas foram muito similares aos da depressão. Era desesperador porque eu não conseguia nem olhar para os meus instrumentos de trabalho. Olhava para o meu celular e dava vontade de chorar. Não consegui nem avisar às pessoas que não teria condições de trabalhar, minha família fez isso por mim”, lembra. Mas esses eram apenas os primeiros sintomas.

Isabella desabafa sobre as demandas, que eram muitas, e acredita que o excesso de trabalho e de cobranças foram os principais fatores para a doença. Um dos desafios enfrentados por ela nesse processo confuso e doloroso foi a contínua cobrança de seus chefes.

“Durante o processo eu sentia raiva, estresse, cansaço e tristeza. Quando fiquei afastada do trabalho, ainda recebia mensagens dos meus chefes perguntando quando eu voltava, falando das demandas acumuladas e sugerindo que eu fizesse pelo menos algumas coisas”, lembra.

O processo de diagnóstico ainda demorou a acontecer, e a publicitária também experimentou sentimentos de angústia, apatia, tristeza profunda e insatisfação. Somente meses depois seu psicólogo entendeu o quadro e o diagnóstico: burnout.

Entender que não era uma máquina e sair de um dos empregos foi a principal mudança adotada pela profissional que, agora, também impõe os seus horários de entrar e sair no trabalho, mesmo em home office.

“Antes eu tinha muito medo de me impor para os chefes. Não falava que as demandas estavam pesadas ou sobre situações que não estavam legais. Hoje, já consigo dizer o que não dou conta de fazer. Foi apenas quando consegui passar por isso que aprendi a me limitar e entendi que minha saúde mental vai estar sempre acima de qualquer trabalho ou demanda profissional”, diz.

É preciso respeitar os limites físicos e mentais

O burnout tem um sério impacto na saúde mental, no bem-estar e nos níveis de estresse no local de trabalho dos funcionários. Para a psicóloga e fundadora da clínica especializada em saúde mental Ame.C, Mônica Machado, pode ser difícil admitir que o trabalho é a principal fonte de estresse e ansiedade.

“Especialmente em tempos de mudanças ou incertezas, a empresa é o último lugar onde queremos que percebam nossas fragilidades emocionais. Em contrapartida, se você não respeitar seus limites físicos e mentais, não terá condições de desempenhar as tarefas profissionais nem pessoais”, explica.

‌A psiquiatra Danielle Admoni, supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM), ressalta também a importância de validar os sintomas negativos o quanto antes para impedir que eles evoluam para transtornos graves e incapacitantes.

‌“Claro que não há uma fórmula universal que funcione para todas as pessoas, afinal, cada indivíduo é único e tem recursos e situações particulares. Mas é possível se reinventar, elencar suas prioridades e fazer escolhas certas, sem correr riscos mal calculados em nenhuma das esferas de sua vida”, pontua.

A seguir, as especialistas elencam algumas formas de lidar com os desafios no mercado de trabalho e manter a saúde mental.

Homem recebendo várias demandas no trabalho
Crédito: Adobe Stock

5 formas de lidar com as adversidades da carreira sem perder o equilíbrio emocional

Reconhecer sentimentos

Nem sempre é fácil admitir que a saúde mental está comprometida. Muitas vezes, a pessoa finge não perceber que há algo de errado com seu emocional.‌

Perfeccionismo e a autocrítica geram um círculo vicioso. É comum, neste casos, viver tentando se proteger das situações capazes de expor defeitos ao mundo. Quando entendemos que a perfeição não existe e nos acolhemos exatamente como somos, torna-se mais fácil admitir que não está tudo bem e buscar ajuda.

Respeitar o momento de descanso

O universo corporativo obscureceu as fronteiras entre trabalho e casa, e as mudanças para o modelo remoto/híbrido causadas pela pandemia afrouxaram ainda mais os limites entre vida pessoal e profissional.

Períodos de desconexão são essenciais para o bem-estar. Esqueça um pouco o checklist, olhe para si e faça algo que não esteja vinculado a responsabilidades, mas ao prazer e ao conforto que tanto lhe falta. Sua mente ficará mais descansada e até mais produtiva‌.

Desista de querer dar conta de tudo

Quando não dão conta de tudo, as pessoas se sentem frustradas. A ideia de desacelerar se torna cada vez mais impensável. Saber delegar ou compartilhar funções é fundamental, caso contrário, é provável que a qualidade das tarefas fique comprometida, além de gerar exaustão desnecessária.

Defina o que pode ser feito por outras pessoas, o que só pode ser feito por você e elimine de vez tudo que só te faz perder tempo‌.

Converse com seu superior

Apesar de uma situação delicada e intimidadora, especialmente quando as empresas estão querendo produzir mais com menos gente, é importante expor sua realidade.‌

É natural ter receio de como isso pode impactar na sua imagem e fazer seu chefe duvidar de sua capacidade, portanto, ao abordá-lo, não leve apenas o “problema”. Estruture um diálogo que esclareça os motivos do seu estresse, mas, principalmente, sua preocupação em buscar soluções.

Saiba quando pedir ajuda profissional

Nos casos em que o esgotamento chegou ao limite, é fundamental buscar auxílio médico especializado para avaliação do quadro e orientação quanto ao tratamento.

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