Gestão

Jovens levam pais a entrevistas de emprego e revelam nova ansiedade geracional

Pesquisa mostra que cerca de 20% dos jovens já recorreram ao apoio dos pais durante processos seletivos no mercado de trabalho
Jovens levam pais a entrevistas de emprego e revelam nova ansiedade geracional
Foto: Freepik

Um fenômeno curioso tem chamado a atenção do mercado de trabalho: candidatos do final da Geração Z e também da Geração Alfa têm sido acompanhados pelos pais para entrevistas de emprego. Um estudo da Intelligent, realizado nos Estados Unidos com 800 empregadores, revelou que cerca de 20% dos jovens dessas gerações já recorreram ao apoio dos pais durante processos seletivos.

Embora incomum em gerações anteriores, a prática pode simbolizar tanto o comportamento protetor das famílias quanto a insegurança dos jovens diante de entrevistas presenciais e de sua entrada no mundo profissional.

“É um retrato da forma como esses novos profissionais encaram o mercado. Eles cresceram em um ambiente altamente conectado, mas, por outro lado, mais distantes de interações humanas importantes, o que, em alguns casos, dificultou o desenvolvimento de autonomia e habilidades interpessoais fora de seus grupos sociais”, analisa a CHRO do Infojobs, HRTech do grupo Redarbor, Patrícia Suzuki.

As novas gerações, especialmente entre 16 e 29 anos, cresceram em estreita relação com a tecnologia, habituadas a resolver quase tudo pelas telas – muitas vezes de forma individual. Esse cenário favoreceu o desenvolvimento de autonomia e de diversas habilidades técnicas. No entanto, a entrada no mercado de trabalho e o contato com grupos sociais mais formais podem desencadear ansiedades, sobretudo em contextos avaliativos, como entrevistas de emprego.

A falta de autonomia no início da vida profissional pode gerar desafios relevantes para os jovens que ingressam no mercado de trabalho. Entre os pontos mais recorrentes estão:

• Dificuldade de expressão em interações presenciais;
• Maior propensão à ansiedade social;
• Menor prática de comunicação interpessoal em situações formais;
• Falta de preparo para processos seletivos e rotinas de trabalho;
• Sensação de insegurança, síndrome do impostor e comportamentos de autossabotagem.

“Para muitos jovens, a presença dos pais em momentos importantes da carreira pode oferecer apoio emocional e confiança. No entanto, é fundamental encontrar o equilíbrio: quando esse acompanhamento se estende a processos seletivos ou decisões profissionais, pode ser interpretado por muitas empresas e recrutadores como falta de autonomia ou de preparo para assumir responsabilidades”, afirma a executiva do Infojobs.

A boa notícia é que existem técnicas simples para lidar com a pressão do início da carreira:

• Preparar-se bem: pesquisar sobre a empresa e a vaga aumenta a confiança;
• Treinar antes: simular entrevistas com amigos ou mentores ajuda a reduzir o nervosismo;
• Visualizar o sucesso: imaginar-se respondendo com confiança pode melhorar o desempenho;
• Rede de apoio: buscar apoio da família é importante para construir confiança, mas é fundamental manter limites claros de participação.

O que os jovens pensam

O fenômeno da empregabilidade e do comportamento dos jovens nos processos seletivos também precisa ser analisado em um contexto mais amplo. Situações como levar os pais a entrevistas de emprego refletem não apenas questões de autonomia, mas também a importância que essa geração atribui à segurança emocional e ao alinhamento de valores.

Pesquisa do Infojobs mostra que 71,6% dos jovens deixariam um emprego caso a cultura organizacional não estivesse em sintonia com os seus princípios. Entre as prioridades da Geração Z, segundo o levantamento, estão: salário e estabilidade financeira (70%); equilíbrio entre vida pessoal e profissional (49,4%); oportunidades de crescimento (48,2%) e capacitação e desenvolvimento contínuo (41,7%).

O que o mercado espera

Para os novos profissionais, o alerta é claro: entrar no mercado é um momento novo e desafiador, mas suas habilidades e personalidade devem falar por si mesmas. Trabalhar a confiança, a autonomia e o controle do nervosismo é fundamental para demonstrar responsabilidade e capacidade profissional.

“Como recrutadores e empresas, não podemos subestimar essa geração que tanto está agregando ao mercado. Precisamos entendê-la. Eles são críticos, seletivos e querem coerência entre discurso e prática, mas possuem vivências e trajetórias totalmente diferentes das gerações anteriores. O nosso papel deve ser guiar esses processos para ajudá-los a mostrar do que são capazes”, aconselha a CHRO do Infojobs.

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