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A luta pela inclusão: conheça os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho

Apenas 25% dessa população conseguem manter um emprego formal ou sustentar um empreendimento por mais de 12 meses
A luta pela inclusão: conheça os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho
Foto: Reprodução/Adobe Stock

Imagine um país onde todos têm igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. A construção dessa realidade ajuda a promover ambientes de respeito, inclusão e progresso. Apesar de alguns avanços, a discriminação e o preconceito continuam a ser desafios persistentes para o acesso da comunidade LGBTQIA+ ao emprego formal.

Em todo o território nacional, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 65% de profissionais LGBTQIA+ relatam ter sofrido algum tipo de situação desconfortável relacionada ao preconceito ou discriminação.

Além disso, uma pesquisa do Fundo Positivo em parceria com o Instituto Matizes, revela que apenas 25% das pessoas dessa comunidade teve acesso ao trabalho formal no ano passado.

Para Letícia Eduarda Ortiz, uma profissional trans de 33 anos, moradora do bairro Bom Jesus, na região Noroeste de Belo Horizonte, a busca por emprego se tornou uma jornada desgastante.

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“Fui rejeitada recentemente por um escritório contábil por causa da minha identidade. Eu sei que na comunidade nós, trans, sofremos mais. Há um preconceito muito maior, mas a minha identidade não é um defeito, é minha força”, diz.

A alternativa, então, foi buscar oportunidades em outras empresas até ser contratada em junho deste ano pela rede de escolas CNA. “Hoje estou trabalhando, mas não vou esconder quem sou para ter que agradar outros”, acrescenta.

Mulher trans, Letícia Ortiz retornou ao mercado de trabalho neste ano | Foto: Arquivo Pessoal

Presentes em todos os lugares

O designer gráfico Rafaga Matos, de 29 anos, morador da região do Barreiro, na capital mineira, conta que em sua trajetória passou por empresas nas quais o volume de pessoas LGBTQIA+ era expressivo.

“Passei por telemarketings e lojas que, por ter muitos LGBTs, nunca foram ambientes difíceis, além de nunca precisar me esconder”, pontua.

Ele não se lembra de nenhuma iniciativa exclusiva nos lugares onde já trabalhou. “Talvez por ter eu e outros colegas LGBTs nessas empresas. Contratar pessoas da comunidade já é considerada uma iniciativa interessante”, observa.

Questionado se considera que há poucas vagas para a comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho, ele responde: “Imagino que existam áreas mais propícias para os LGBTs, como moda, educação e beleza. No entanto, também ocupamos espaços em tecnologia, saúde, direito e todas as demais áreas. A gente está presente em todos os lugares. Tem oportunidades, sim. Mas, às vezes, é preciso se fechar para caber nesse lugares”, relata.

Rafaga Matos afirma que é necessário se adaptar “para caber” | Foto: Arquivo Pessoal

O acesso ao mercado formal de trabalho

Uma pesquisa divulgada recentemente pelo Fundo Positivo, em colaboração com o Instituto Matizes, mostra que apenas uma em cada quatro pessoas LGBTQIA+ conseguiu um emprego com carteira assinada em 2023.

Ou seja, apenas 25% dos participantes entrevistados por organizações que participaram da pesquisa e desenvolvem ações de empregabilidade ou geração de renda, conseguem manter um emprego formal ou sustentar um empreendimento por mais de 12 meses.

O mesmo levantamento aponta que o número de projetos direcionados à geração de emprego e renda para a população LGBTQIA+ representou 63% entre 2021 e 2023.

Empresas perdem com falta de inclusão

Apesar dos esforços das organizações sociais, o mercado de trabalho formal aponta para dificuldades em absorver essa mão de obra qualificada. O gerente de Educação Profissional e Superior do Senai, Mateus Simões, no entanto, lembra que empresas comprometidas com ações inclusivas alcançam melhores resultados, graças à diversidade de perspectivas e habilidades.

O administrador de empresas e especialista em Gestão de Pessoas, Ricardo Mota, compartilha sua jornada de superação na comunidade e conta que, aos 56 anos, busca inspirar lideranças e equipes.

“As empresas buscam ser um lugar inclusivo e criativo para trazer melhores resultados. Quando estamos fora desse ambiente, a empresa e todos nós, como seres humanos, perdemos”, ressalta.

Ele pontua que um estudo publicado em 2020 pela Equal 2020 Pride com profissionais entrevistados em todo o mundo mostra que 31% dos colaboradores pertencentes à comunidade LGBTQIA+ se sentem seguros para assumir sua orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente corporativo. Entretanto, 69% deles não se sentem como parte de um ambiente seguro.

“São dados que mostram claramente que, mesmo com todos os movimentos para criação de um ambiente livre de preconceitos, a luta por respeito e pelo direito das pessoas de sentirem-se protegidas para ser quem são, ainda é apenas um desejo, um sonho e um objetivo”, conclui o especialista.

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