Mulheres estudam mais que homens para a gestão de negócios, mas não garantem oportunidades iguais

A maior escolaridade não garante às mulheres oportunidades iguais no mercado de trabalho e, muito menos, na gestão de negócios. E, por isso, elas estão indo atrás de formação específica para serem melhores empreendedoras e comandar o próprio negócio ou o de terceiros.
Maior parcela da população (51,5%), as mulheres são maioria também no ensino superior, representando 59% das matrículas em 2025 e sendo a maioria dos concluintes de cursos de graduação em 2022 (60,3%). Dados do Censo 2022 indicam que 20,7% das mulheres com 25 anos ou mais tinham o ensino superior completo, contra 15,8% dos homens, e que elas têm uma média de anos de estudo maior.
A necessidade continua sendo o grande estímulo para que as mulheres se aventurem no empreendedorismo, mas essa decisão é cada vez mais uma escolha estratégica e consciente. Em vez de apenas sobreviver ao mercado, essas empresárias querem escalar. E sabem que, para isso, precisam estar preparadas.
Segundo uma pesquisa nacional realizada pelo Grupo X com empreendedoras de diversas regiões do Brasil, 41,7% apontam que seu principal objetivo ao investir em educação empresarial é estimular a inovação e se adaptar melhor às exigências do mercado. Essa virada de mentalidade é reflexo direto do amadurecimento do ecossistema empreendedor feminino.
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Áreas como planejamento estratégico (29,2%), além de marketing e vendas (23,6%), gestão financeira (23,6%) e liderança e gestão de pessoas (23,6%) aparecem empatadas como os pilares mais urgentes de desenvolvimento.

De acordo com o CEO do Grupo X, Jorge Kotz, a pesquisa não traz nenhuma novidade quanto aos desafios enfrentados pelas mulheres no mundo corporativo, mas indica a necessidade de uma comunicação feita para elas durante a formação.
O medo de falhar é o maior desafio para 39,7% das empreendedoras, seguido da dupla jornada (25,9%), burocracia (17,2%) e dificuldade de acesso ao crédito (17,2%). Além disso, 74,4% afirmam já ter enfrentado preconceito ou resistência por serem mulheres no mercado de trabalho.
“Comecei a reparar que havia mais mulheres nos treinamentos que fazíamos, mas que elas ficavam mais acuadas. Então foi preciso criar estratégias para trazê-las pra perto. É uma conversa para que elas entendam a sua real potência”, diz.
Kotz ressalta que o mundo é machista, no qual homens são mais aceitos em cargos de comando. Percebi que não poderia ser feito por homens. “O treinamento é feito por mulheres para mulheres. A gestão do tempo é mais complexo para as mulheres. O nosso papel é também entender o que ela quer realmente e mostrar que isso vai exigir sacrifícios. No X-Woman muitas mulheres levam os filhos. Criamos metodologias para que isso seja possível, com conteúdos intensos em poucos dias”, explica.
Para atender à crescente demanda por formação voltada à realidade das pequenas e médias empresárias, especialmente aquelas fora dos grandes centros urbanos, o Grupo X promove projetos X Woman e Mulheres Exponenciais, que se propõem a oferecer não apenas formação técnica, mas também espaços de escuta, networking e troca entre mulheres que enfrentam desafios semelhantes no mundo dos negócios.
O X Woman funciona como uma porta de entrada para conteúdos e debates sobre liderança e posicionamento no mercado. Já o Mulheres Exponenciais aprofunda essa jornada com trilhas de capacitação que priorizam o desenvolvimento estratégico e a construção de autonomia.
“As mulheres que buscam conhecimento estão aprendendo a gerir uma empresa, mas não é só isso, elas estão reivindicando espaço, construindo autoridade e abrindo portas para outras que virão depois. Não só no empreendedorismo clássico. Empreender não é só ter um negócio, é ter liderança onde estiver. É sobre como saber se comportar em diferentes ocasiões. O protagonismo dessas mulheres não é uma promessa futura. É uma realidade que já está em curso”, avalia o CEO do Grupo X.
Criada há 49 anos em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a Fundação Dom Cabral (FDC) está no seleto grupo das dez melhores escolas de negócios do mundo, segundo o ranking do Financial Times. Lá, as mulheres também ocupam cada vez mais espaço.
Segundo a diretora de relações institucionais e sustentabilidade da FDC, Marina Spínola, no mundo inteiro, durante muito tempo, as escolas de negócios refletiram o que acontecia nas empresas. Então, se elas tinham poucas executivas nos seus quadros, poucas mulheres participavam dos programas de capacitação e, assim, a baixa representação feminina no mundo corporativo se mantinha. A situação começou a mudar nos últimos dez anos.
“É incômodo ver que as mulheres têm um nível de escolaridade maior, mas que nas empresas ainda existe um gap de gênero. As mulheres estão menos representadas nos cargos de decisão e recebem remunerações menores. Isso tem melhorado, mas ainda está longe da paridade”, observa.
Marina Spínola destaca que a situação se reflete na sala de aula da FDC. “O número de mulheres nos nossos programas não passa de 30%. Nos nossos MBAs, por exemplo, foi de 25% nos últimos três anos. Até uns dez anos, as escolas de negócios entendiam que não havia mulheres nas escolas e que era assim mesmo. Agora entendem que existe o que fazer e que a escola tem responsabilidade. No caso da fundação, tem havido uma mudança de entendimento e isso tem muito a ver com os programas de equidade e inclusão”, explica.

Várias ações têm sido implementadas para estimular as mulheres a participarem dos diferentes cursos da FDC. No campus São Paulo, desde 2024, elas têm direito a um desconto de 30% na taxa de inscrição para os MBAs. Isso levou a um aumento de 73% de mulheres inscritas em relação à turma anterior, resultando em um aumento de matrículas de 33%.
O mestrado, em Nova Lima, oferece bolsas para mulheres e tem condições acadêmicas especiais para mães e gestantes, como flexibilidade de prazos, por exemplo. Ao mesmo tempo, a fundação tem feito uma constante revisão dos critérios de seleção para não cair na “armadilha da meritocracia”, que são critérios construídos socialmente e historicamente, que reconhecem e valorizam determinadas competências e experiências de grupos privilegiados.
No segmento “educação social”, em que atende empreendedores periféricos, jovens e lideranças sociais, a plataforma Pra Frente da FDC mais de 70% dos alunos são mulheres.
“Trazer as mulheres para os cursos de gestão não é fácil e exige ações objetivas como a implementação de políticas e programas de equidade e inclusão e outras mais sutis como a revisão da bibliografia das disciplinas e a inclusão de autoras mulheres. É preciso também tocar as lideranças”, diz.
Ela acrescenta que é impossível fazer essa mudança sem envolver os homens e contar com o engajamento deles. “E é importante lembrar que nada disso é incompatível com o negócio. Essas ações fazem com que tenhamos mais inscrições, turmas mais diversas e, com isso, mais interessantes e a fundação ganha também em reputação”, destaca a diretora de relações institucionais e sustentabilidade da FDC.
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