Profissionais com síndrome de Down são exemplos de inclusão no mercado de trabalho

Nesta sexta-feira, 21 de março, é celebrado o Dia Internacional da Síndrome de Down, uma data que convida à reflexão sobre a inclusão e o potencial de cada indivíduo. O trabalho, como um pilar fundamental para o desenvolvimento humano, profissional, além da integração social e da autonomia financeira, assume um papel ainda mais crucial na vida das pessoas com síndrome de Down.
Apesar dos desafios adicionais para o acesso ao mercado de trabalho, empregar pessoas com Down e outras deficiências intelectuais não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma oportunidade para as organizações enriquecerem seus ambientes com diversidade, inovação e um olhar humano mais profundo.
Para o advogado da área trabalhista e especialista em Diversidade e Inclusão, Miguel Prates de Assis, a inclusão no mercado de trabalho não só transforma a vida dos indivíduos com síndrome de Down, mas também fortalece o tecido social e econômico como um todo.
Ele reforça que uma das principais barreiras para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é a falta de preparo e infraestrutura adequada.
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“Essas pessoas geralmente necessitam do apoio de pessoas próximas, que também não têm facilidade de locomoção e necessitam de treinamento. Por isso, várias prefeituras mineiras têm trabalhado para tratar dessas questões e possibilitar mais oportunidades de capacitação para esse público, beneficiando todos”, pontua.
No Brasil, as empresas com 100 ou mais funcionários são obrigadas pela legislação federal a reservar vagas para pessoas com deficiência. A cota varia conforme o número de empregados:
- 2% para empresas com 100 a 200 funcionários;
- 3% para 201 a 500;
- 4% para 501 a 1.000;
- 5% para aquelas com mais de 1.001 empregados.
De acordo com a coordenadora do projeto HUB Incluo Empreendedorismo Social e Talento Apoiado do Instituto Mano Down, Marina Fontana, a abertura de oportunidades para pessoas com deficiência no mercado de trabalho é essencial para que estes profissionais demonstrem suas capacidades.
“Hoje, existe a Lei de Cotas que as empresas são obrigadas a contar com pessoas com deficiência no seu quadro de colaboradores. Contudo, a lei não define necessariamente o tipo de deficiência. No caso da deficiência intelectual, por exemplo, ela é uma das últimas lembradas pela lei. Dados do Ministério do Trabalho dão conta de que o número de empregados com esse tipo de deficiência é menor”, pontua.
Inspiração e zelo com o trabalho
Prestes a completar sete anos de contratação pela MRV & CO, Izabella Lisboa, de 27 anos, revela que é grata pelo cargo que ocupa de auxiliar administrativo na companhia, com sede em Belo Horizonte.
“Quando vim trabalhar aqui, as portas se abriram para mim. Roberto Goes é o primeiro chefe da minha vida, ele me mostrou como era a rotina aqui e realizei o meu sonho de trabalhar. Fico feliz”, conta emocionada.
A MRV possui um Comitê de Diversidade que tem atuação contínua tendo como base os pilares da equidade racial, equidade de gênero, LGBTQAIP+ e pessoas com deficiência.
Segundo a comunicóloga e especialista em Diversidade e Inclusão, Laura Machado, as empresas precisam compreender a necessidade de garantir postos de trabalho para um cenário de mais equidade. “É preciso que ofereçam treinamentos para que eles sejam inseridos no mercado de trabalho e isso vai provocar uma mudança radical na vida desses jovens”.
Ela acrescenta: “Eles são pessoas extremamente espontâneas, acolhedoras, muito amorosas e simpáticas. Tudo isso para quem vai trabalhar com atendimento ao público é muito bem-visto e positivo, afinal o mercado de trabalho precisa dessas características”, afirma.
Inclusão que começa na escola

Para a pedagoga e especialista em psicologia escolar Maria Eduarda Guimarães, a missão fundamental de institutos e escolas é cultivar e desenvolver o potencial máximo de cada indivíduo, com a finalidade de que estejam prontos para exercer o ofício profissional nos mais diferentes setores econômicos.
Ela faz uma comparação que mostra os avanços para as pessoas com deficiência no mercado de trabalho nos últimos 35 anos.
“Se retrocedermos à década de 1990, o cenário era drasticamente diferente. Naquela época, o nível de alfabetização era inferior a 10% e a expectativa de vida era de apenas 25 anos, contrastando com os atuais 60 anos. Quando se fala em mercado de trabalho, a presença das pessoas com deficiência na década de 90 era praticamente invisível e hoje temos outro cenário”, compara.
Para a coordenadora do Núcleo de Práticas Inclusivas (NuPI) da Escola Balão Vermelho, Flávia Papa, cada vez mais, políticas públicas, avanços na neurociência e na tecnologia, bem como um olhar mais atento aos direitos das pessoas com deficiência, têm garantido acessibilidade e oportunidades.
“As pessoas com síndrome de Down têm demonstrado, com grande impacto, sua capacidade de aprendizado e adaptação em diferentes contextos. Na escola, por exemplo, práticas pedagógicas inclusivas vêm garantindo que estudantes com esse perfil tenham um ensino significativo, que respeita as individualidades e fortalece as possibilidades acadêmicas e profissionais”, explica.
Segundo ela, a diversidade não deve ser vista como um obstáculo, mas sim como um fator que enriquece o conhecimento da sociedade. “Para isso, é fundamental que todos possam compreender e respeitar as diferenças, sem discriminação ou preconceito, garantindo que eles tenham acesso às oportunidades necessárias para alcançar seus objetivos. A escola, junto com os profissionais da educação, alunos e famílias, tem um papel essencial neste processo”, diz.
Comemorações do Dia da Síndrome de Down

O Dia da Síndrome de Down é uma data que vai muito além do esforço pela conscientização. É um momento para celebrar a diversidade e reconhecer o talento e o potencial inato de cada indivíduo. Eventos e iniciativas por Belo Horizonte serão realizados em série de eventos para lembrar a data.
É dentro dessa missão que o Instituto Viva Down, com sede no bairro Cidade Nova, na região Nordeste de Belo Horizonte, vai levar os assistidos para o Minas Shopping onde vão realizar um desfile de moda praia para encerrar o Verão. O evento será aberto ao público, às 19h30, em frente à praça de alimentação, no Piso 2 do mall.
Segundo a gerente de Marketing do Minas Shopping, Ana Paula Alkmim, receber o projeto batizado de ‘Passarela da Inclusão’ é importante para promover um espaço de visibilidade e reconhecimento para todas as pessoas. “Continuar abrindo espaço para eventos como este reforça nosso compromisso com a inclusão e a diversidade”, diz.
No Instituto Mano Down também vão acontecer diversos eventos no âmbito cultural, esportivo e informativo, visando conscientizar a sociedade e celebrar as conquistas das pessoas com síndrome de Down. Neste ano, o tema é o “Suporte para quem precisa. Todos juntos, apoiando a inclusão. Seja rede de apoio”, seguindo a orientação definida pela organização Down Syndrome International.
Por lá, está prevista a realização do show ‘Mano Convida’ com Leila Pinheiro e Dudu do Cavaco, além do Simpósio Internacional da Trissomia 21, que teve início no último dia 20 e que se encerra neste sábado (22). Já no dia 30 de março está prevista uma caminhada pela inclusão.
A programação ainda contempla atividades internas, como rodas de conversas e cursos voltados para famílias e educandos, e uma campanha de arrecadação de doações para expansão da infraestrutura e capacidade de atendimento do instituto, que atualmente atende mais de 1,1 mil pessoas com síndrome de Down e outras deficiências intelectuais, oferecendo atividades e atendimentos que contemplam toda a jornada de vida.
De acordo com o presidente e fundador do Mano Down, Leonardo Gontijo, as atividades programadas para março visam impactar milhares de pessoas sobre a causa da inclusão. O objetivo é dar protagonismo às pessoas com síndrome de Down, promovendo discussões e reflexões importantes sobre seus direitos, capacidades e potencialidades, além de abordar políticas públicas e redes de apoio.
Já a Escola Balão vermelho realiza nesta sexta-feira (21) a campanha ‘Meias Coloridas’ para simbolizar a diversidade. A ideia é que alunos e colaboradores participem das atividades do dia usando meias coloridas, uma forma de enfatizar a importância do respeito e da diversidade.
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