Transição de carreira: veja dicas de especialista para que o processo ocorra de forma segura

Ao longo da carreira, muitos profissionais passam por verdadeiras transformações e até sacrifícios. No entanto, nem sempre estes esforços são recompensados como eles gostariam. Alguns, sequer, têm estabilidade no emprego. E quando menos se espera, o mercado de trabalho pode exigir uma verdadeira reviravolta nessas carreiras.
Foi assim que Ana Paula Figueiredo, de São José da Lapa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), decidiu migrar da sua função de especialista em grãos para a área de nutrição.
“No final de 2022, tinha acabado o meu contrato com uma empresa de Varginha que hoje não existe mais. Naquela situação, vi a necessidade de buscar outras alternativas. Aquele ambiente de trabalho já não era mais um dos melhores para mim. Apesar de ter excelente condição e estrutura para trabalhar, continuar ali já não me dava tanta satisfação como no início. Me via desgastada e sem ânimo. Foi aí que experimentei a nutrição”, relembra.
Ela conta que precisou mudar de ocupação de forma gradual, trabalhando como analista de projetos, enquanto se especializava na nova área de atuação, para dar o próximo passo.
A professora associada da Fundação Dom Cabral (FDC), Rosangela Pedrosa, que também é especialista em assuntos relacionados à transição de carreira, explica que é natural que a insatisfação dos profissionais seja o motivo que os leva a considerar uma mudança.
Segundo ela, a primeira reflexão que deve ser observada é a razão que motiva essa transição. “Quando a atividade atual não traz mais energização e não preenche suas necessidades mais profundas, a insatisfação se torna evidente”, afirma.
Para Rosangela Pedrosa, o desencontro entre os valores pessoais e os da organização é um grande motivador para sair do lugar comum.
“Muitos executivos e profissionais em geral sentem uma grande insatisfação ao perceber essa desconexão e decidem que não querem mais trabalhar na mesma empresa. Outros profissionais, aqueles mais maduros, por exemplo, especialmente acima dos 50 anos, começam a pensar mais em legado e propósito”, comenta.
Ela propõe uma reflexão: “O que realmente importa para mim?”
A especialista também menciona uma pesquisa realizada por estudiosos da Stanford University, que aponta que apenas 27% das pessoas costumam seguir a área de atuação na qual se formaram. “É comum que jovens se sintam presos à sua formação, mas também que desejem mudar quando não encontram satisfação pessoal em suas profissões”, diz.
Como identificar o momento da transição de carreira
Para aqueles que se questionam qual é o momento certo para mudar de carreira, a especialista sugere a reflexão sobre algumas perguntas-chaves.
“Todo profissional deveria se perguntar periodicamente se está pronto para ascender em sua carreira ou se precisa fazer uma transição”.
Qual o tempo necessário para a transição?
A especialista destaca que a transição de carreira não acontece da noite para o dia. “É um processo que pode levar, segundo um estudo de Hermina Ibarra, entre dois e cinco anos. É fundamental também reconhecer que muitas vezes precisamos do trabalho atual para questões financeiras”, pontua.
A docente da FDC também enfatiza a importância de começar a desenvolver um plano paralelo para não ser pego de surpresa quando decidir mudar. “O ideal é que [o profissional] comece a pensar em transição de carreira, antes de mesmo de já ter iniciado a transição”, observa.
Como construir uma nova identidade profissional?
Rosangela Pedrosa menciona o conceito de “nova identidade profissional”, trazendo exemplos inspiradores, como o de um médico que se tornou monge budista e uma executiva financeira que se transformou em coach. “Essa transição exige tempo e reflexão sobre qual profissional deseja ser a partir de agora”, lembra.
Investimento no futuro
Para aqueles que já têm vontade de empreender ou explorar novas áreas, é crucial começar a investir tempo e esforço paralelamente ao trabalho atual. Não deixar para a última hora é uma estratégia inteligente, sugere a especialista.
Segundo ela, ao realizar essa transição, é vantajoso contar com a ajuda de profissionais especializados. A própria Fundação Dom Cabral, por exemplo, oferece programas como o Trekker, que ajuda a mapear a carreira e a definir um futuro desejado.
Nesse aspecto do autoconhecimento, Rosangela Pedrosa afirma: “Saber onde estamos e qual a visão de futuro que queremos é essencial. O autoconhecimento é um negócio que parece balela e que parece superficial, mas é muito profundo”, alerta.
Ela cita: “Uma pesquisa de Harvard recente, de 2019, revisita toda a literatura sobre o desenvolvimento de liderança. Eles confirmaram que algumas coisas continuam sendo cruciais. Uma delas é o processo de autoconhecimento. Então, não é uma balela. Dessa forma, para construir a carreira, a gente não deve escutar pessoas apenas, mas procurar mentores”, pontua.
Embora seja possível fazer essa transição sozinho, a especialista alerta que isso pode ser mais difícil e demorado. Um apoio profissional pode ajudar a refinar o entendimento sobre o que é realmente valioso para cada um, facilitando a jornada.
“É o mesmo que ter um bússola interna para não comprar o projeto do outro. É preciso ter crivo para realizar escolhas certas”, conclui a professora.
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