Conheça as vantagens para as empresas em contratar refugiados

No ano de 2023, o Brasil recebeu cerca de 140 mil solicitações de refúgio e acabou acolhendo 42 mil refugiados de aproximadamente 100 países. Com o índice de emprego voltando a crescer, fica uma pergunta: qual a principal vantagem para as empresas em contratar um refugiado?
O consultor empresarial Mauro Antônio Filho responde. Para ele, a diversidade é a maior contribuição na hora de contratar profissionais imigrantes. “Quando você, gestor, diretor ou dono do seu próprio negócio decide trazer uma pessoa de um outro país e de uma outra realidade para dentro da operação, o time aprende e ganha com outros costumes, culturas e análises”, pontua.
A economista e socióloga da PUC Minas Camila Pirola Souza vai além:
“Falar da diversidade empresarial, dentro do aspecto da realidade dos refugiados no mercado de trabalho, é uma questão de conhecimento. Conhecimento que é adotado ou adquirido pela interação com essa outra pessoa. Temos sim a questão da diversidade, mas vai além disso. Há empresas que se beneficiam com a entrada desses profissionais para se comunicarem com outras línguas, por meio de uma expansão, ou até mesmo de lançarem novos produtos ou produtos personalizados para novos mercados”.
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A assessora de Meios de Vida da Agência da ONU para Refugiados (Ancnur), Vanessa Tarantini, ressalta que, no Brasil, segundo estatísticas da própria entidade com base em dados oficiais do governo federal, são mais de 730 mil pessoas deslocadas à força ou com necessidade de proteção internacional.
“Apesar da situação de vulnerabilidade e necessidade de proteção, elas trazem seus conhecimentos, experiências, saberes e cultura para as empresas, aspectos muito valiosos para o mercado de trabalho. São profissionais que frequentemente dominam mais de um idioma e possuem conhecimentos, experiências e qualificações variadas”, diz Vanessa Tarantini.

Ela pontua que, conforme pesquisas já realizadas, as empresas costumam relatar vários benefícios na contratação de pessoas refugiadas. “Elas relatam mais diversidade ao ambiente de trabalho, e que os migrantes motivam os demais colegas, demonstram alto comprometimento com suas funções e costumam ficar mais tempo em seus cargos, resultando em menores taxas de rotatividade“, menciona.
Supermercado investe em contratação de migrantes desde 2010
A diversidade no ambiente de trabalho tem sido uma das iniciativas da rede supermercadista Verdemar. Por lá, foi criado o programa ‘Verdemar Sem Fronteiras’, com o propósito de romper as barreiras culturais, minimizar ações que reforçam o rótulo da intolerância e incluí-lo no ambiente de trabalho.
O superintendente de RH do Verdemar, Leandro Souza de Pinho, explica como o programa foi pensado e colocado em prática.
“O desenvolvimento do projeto se deu por meio da análise do cenário da crise imigratória no Brasil, agravada pela situação econômica e social da Venezuela. A empresa investe continuamente em parcerias para a busca destes profissionais, realiza um processo seletivo personalizado para atendê-los e possui psicólogos que atuam in loco para ajudá-los na adaptação”, detalha.

Segundo ele, a primeira etapa do programa foi reunir as equipes multidisciplinares do Verdemar que envolvem os setores de Superintendência de RH, Treinamento e Desenvolvimento, Recrutamento e Seleção, Segurança e Medicina do Trabalho, Jurídico e Gestores Operacionais, para planejamento.
“A partir daí, foram estabelecidas as diretrizes do projeto, entendendo os benefícios e desafios dessa inclusão. A contribuição dos profissionais de diferentes áreas permitiu a construção de um projeto de inclusão pautado nos pilares da saúde, justiça, educação e trabalho”, diz Pinho.
Pinho relembra que foi feita uma sensibilização e o desenvolvimento de todos os profissionais envolvidos no projeto para que estivessem aptos a lidar com as particularidades desse público. “Em seguida, o setor de Treinamento e Desenvolvimento, com a participação de psicólogas do Verdemar, preparou alguns módulos de treinamento para todos os líderes para orientar sobre a importância humanitária da inserção de migrantes no mercado de trabalho, suas principais limitações e dificuldades de adaptação, tais como a comunicação, isolamento social e formas de acolhimento”, pontua.
As contratações de imigrantes no Verdemar acontecem desde 2010, após o terremoto no Haiti e a migração de parte daquela população para o Brasil. Entretanto, com a crise migratória agravada pela situação econômica e social da Venezuela, entre 2018 e 2019 o programa ganhou ainda mais força.

“Atualmente, são 45 migrantes de sete nacionalidades diferentes, como Venezuela, Haiti, Chile, Moçambique, Marrocos, Argentina e China, que compõem, com dedicação, o quadro de funcionários Verdemar. Desde o início do projeto já passaram pela rede mais de 150 profissionais que vieram de outras nacionalidades”, diz o superintendente da rede de supermercados.
Incentivo nacional
Para incentivar mais empresas a contratarem pessoas refugiadas, a Acnur e o Pacto Global da ONU – Rede Brasil criaram em 2021 o Fórum Empresas com Refugiados, rede de mais de 100 empresas e organizações empresariais. A iniciativa continua atuando em todo o País e de forma gratuita, com treinamentos, capacitações e apoio à contratação.
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