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Assinatura do acordo UE-Mercosul é adiada para janeiro

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou a líderes do bloco nesta quinta-feira (18)
Assinatura do acordo UE-Mercosul é adiada para janeiro
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Após uma semana de tensas negociações, recados públicos e bravatas, a conclusão do acordo União-Europeia-Mercosul foi adiada para janeiro. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou a líderes do bloco nesta quinta-feira (18), já noite na Europa, que o tratado não seria mais assinado no sábado (20), no Brasil, na cúpula do bloco sul-americano em Foz do Iguaçu.


Von der Leyen e António Costa, presidente do Conselho Europeu, eram esperados em Foz do Iguaçu para assinatura do acordo, mas solicitaram o cancelamento da viagem.


O acordo, que começou a ser negociado em 1999, tem o potencial de criar um mercado comum de 722 milhões de pessoas, com economias que juntas somam US$ 22 trilhões, segundo o governo brasileiro.

Petróleo e derivados são os produtos mais exportados pelo Mercosul à União Europeia, que por sua vez vende principalmente produtos medicinais e farmacêuticos a Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.


Foi decisivo para o adiamento uma conversa telefônica entre Luiz Inácio Lula da Silva e Giorgia Meloni. Horas antes de Von der Leyen se pronunciar, o presidente declarou em Brasília que a primeira-ministra italiana havia lhe dito que era a favor do tratado, mas que precisava equacionar a pressão do setor agrícola de seu país antes de aprová-lo.


“Ela apenas está vivendo um certo embaraço político por conta dos agricultores italianos, mas que ela tem certeza de que é capaz de convencê-los a aceitar o acordo. Ela pediu para que, se a gente tiver paciência, de uma semana, 10 dias, de, no máximo um mês, a Itália estará junto com o acordo”, disse o petista durante a entrevista de fim de ano em Brasília.


Na véspera, Lula tinha ameaçado desistir definitivamente do acordo caso houvesse adiamento.
Em nota oficial, o gabinete de Meloni em Roma confirmou a conversa, trocando o prazo comentado por Lula por um “em breve”. Segundo o comunicado, foi “reiterado também ao presidente do Brasil, Lula, que o Governo Italiano está pronto para assinar o acordo assim que forem fornecidas as respostas necessárias aos agricultores”. Essas respostas, segue a nota, “dependem das decisões da Comissão Europeia”.

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Meloni passou o dia reunida com os outros chefes de Estado da UE em reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas. O acordo de livre comércio não estava na pauta do encontro, focado em uma polêmica ainda maior, para olhos europeus, sobre o uso de ativos congelados russos como empréstimo de reparação à Ucrânia.


O assunto, no entanto, não era evitado pelos mandatários. Emmanuel Macron, que lidera o grupo de oposição ao tratado, voltou a expor sua rejeição ao plano logo ao chegar à cúpula. “Quero dizer aos nossos agricultores, que manifestam claramente a posição francesa desde o início: consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado.”


O presidente francês fazia referência aos protestos que fecharam estradas durante toda a semana na França e que tinham alcançado Bruxelas na manhã desta quinta com seus tratores. Milhares de manifestantes enfrentaram o gás lacrimogêneo da polícia belga com batatas e esterco. O confronto ficou violento, com registro de feridos.


Macron, que até a semana passada caminhava para ser superado por uma maioria a favor do tratado liderada por Alemanha, Espanha e países nórdicos, virou o jogo no fim de semana. Na segunda-feira (15), o apoio decisivo de Meloni foi revelado pela agência Reuters. A adesão viabilizava uma minoria de bloqueio capaz de rejeitar a aprovação do acordo no Conselho da UE -quatro países que correspondam a mais de 35% da população do bloco.


Friedrich Merz e Von der Leyen pressionaram Meloni, mas não conseguiram demover a italiana do novo posicionamento. Em discurso no Parlamento alemão, o primeiro-ministro declarou que uma nova procrastinação, após 26 anos de negociações, teria consequências para a imagem do bloco.


Nesta quinta, Lula afirmou que “sempre soube” que a França era contra o acordo UE-Mercosul, mas que a “surpresa” foi a Itália. O petista afirmou que chegou até a conversar com a primeira-dama francesa, Brigitte, “para ela abrir o coração do Macron para fazer o acordo com o Brasil”.


“A França não tem muito a perder por causa da agricultura brasileira”, declarou o presidente, assertiva que estudos comprovam. Como no caso da Itália, a questão é muito mais política do que econômica. O país, maior potência agrícola europeia, vive uma crise institucional, em que a causa ruralista frequentemente é usada pela oposição para pressionar o governo.


Na quarta (17), em uma última tentativa de fazer o acordo andar, Parlamento, Conselho e Comissão Europeia se reuniram para inserir no documento salvaguardas votadas um dia antes pelos eurodeputados na tentativa de convencer os dissidentes. França e Itália, no entanto, consideraram que ainda falta abrangência e detalhamento nas cláusulas-espelho.


São elas que obrigam os produtos importados a seguir padrões sanitários e ambientas da UE.
O movimento gerou uma resposta do Mercosul nesta quinta (18). O chanceler Mauro Vieira declarou que o bloco sul-americano também iria rever suas exigências aos produtos europeus, mesmo depois de uma eventual aprovação do acordo.


O aceno de Meloni a Lula se explica também por pressão da indústria italiana, de olho nas exportações de máquinas, equipamentos e produtos agrícolas de alto nível. Na França, o único setor que se manifestou favorável ao acordo foi o de vinhos, que perdeu uma fatia de 12% do mercado neste ano com as tarifas impostas por Donald Trump.

Conteúdo distribuído por Folhapress

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