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Eleições na Venezuela: governo e oposição declaram vitória; Brasil aguarda mais dados

O Ministério das Relações Exteriores disse nesta segunda-feira (29) que o governo do Brasil aguarda a publicação, pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, dos dados por mesa de votação da eleição
Atualizado em 29 de julho de 2024 • 12:16
Eleições na Venezuela: governo e oposição declaram vitória; Brasil aguarda mais dados
Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, celebra após eleições. Foto: Fausto Torrealba / Reuters - 29.7.2024

Caracas e Brasília – O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e seu rival da oposição, Edmundo González, reivindicaram vitória nas eleições presidenciais, enquanto Washington e outros governos estrangeiros lançaram dúvidas sobre os resultados oficiais que mantiveram o atual presidente no poder.

O Brasil aguarda mais dados para se posicionar (leia mais abaixo).

A autoridade eleitoral nacional disse, logo após a meia-noite, que Maduro conquistou um terceiro mandato com 51% dos votos – um resultado que estenderia um quarto de século de governo socialista.

Mas pesquisas de boca de urna independentes apontavam para uma grande vitória da oposição, depois de demonstrações entusiásticas de apoio a González e à líder da oposição María Corina Machado na campanha.

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González obteve 70%, disse Machado, que foi impedida de ocupar cargos públicos em uma decisão que ela diz ser injusta.

González afirmou aos seus apoiadores que regras foram violadas no dia da votação.

“Nossa mensagem de reconciliação e mudança pacífica continua de pé… nossa luta continua e não descansaremos até que a vontade do povo da Venezuela seja respeitada”, disse ele.

Não ficou imediatamente claro qual seria o próximo passo da oposição. González também afirmou que não estava convocando seus apoiadores a saírem às ruas ou cometerem atos de violência.

Mas incidentes isolados ocorreram em todo o país antes do anúncio dos resultados, incluindo a morte de um homem no Estado de Táchira e brigas em locais de votação em Caracas e em outros lugares. A polícia dispersou um protesto em Catia, tradicionalmente um bastião do partido governista no oeste de Caracas.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse que Washington tinha sérias preocupações de que os resultados anunciados pela autoridade eleitoral não refletissem os votos da população. A autoridade deveria ser um órgão independente, mas a oposição diz que ela age como um braço do governo de Maduro.

Caracas e Washington têm uma relação adversa há muito tempo, que remonta a era do populista de esquerda Hugo Chávez. Maduro – um ex-motorista de ônibus e ex-ministro das Relações Exteriores de 61 anos – assumiu o cargo pela primeira vez após a morte de Chávez em 2013 e sua reeleição em 2018 é considerada fraudulenta pelos Estados Unidos e outros, que o consideram um ditador.

Maduro presidiu um colapso econômico, a migração de cerca de um terço da população e uma forte deterioração nas relações diplomáticas, coroada por sanções impostas pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por outros países, que prejudicaram um setor petrolífero já em dificuldades.

O presidente argentino, Javier Milei, chamou o resultado oficial de fraude, enquanto a Costa Rica e o Peru o rejeitaram e o Chile disse que não aceitaria nenhum resultado que não fosse verificável.

O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, disse que os detalhes de todas as seções eleitorais deveriam ser apresentados para garantir resultados totalmente verificáveis. “Pedimos que a calma e a civilidade com que o dia da eleição foi realizado sejam mantidas”, declarou ele.

Rússia, Cuba, Honduras e Bolívia aplaudiram a vitória de Maduro.

O presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou Maduro e saudou a parceria estratégica entre os dois países, dizendo que eles continuariam seu trabalho conjunto em questões bilaterais e internacionais.

“Lembre-se de que você é sempre um convidado bem-vindo em solo russo”, disse Putin.

Cortando o bolo

Maduro reiterou sua afirmação de campanha de que o sistema eleitoral da Venezuela é transparente.

Ele assinará um decreto na segunda-feira (29) para realizar um “grande diálogo nacional”, afirmou ele enquanto comemorava com seus apoiadores antes de cortar um bolo de aniversário para seu falecido mentor Chávez, que teria completado 70 anos no domingo.

A Edison Research publicou uma pesquisa de boca de urna mostrando que González, um ex-diplomata de 74 anos conhecido por seu comportamento calmo, obteve 65% dos votos, enquanto Maduro obteve 31%.

A empresa local Meganalisis previu uma votação de 65% para González e pouco menos de 14% para Maduro.

A oposição e os observadores da pesquisa levantaram questões antes da votação para saber se ela seria justa, dizendo que decisões das autoridades eleitorais e as prisões de membros da oposição tinham o objetivo de criar obstáculos.

O que diz o Brasil sobre eleições na Venezuela

O Ministério das Relações Exteriores disse nesta segunda-feira (29) que o governo do Brasil aguarda a publicação, pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, dos dados por mesa de votação da eleição realizada no domingo no país vizinho, ao mesmo tempo em que saudou “o caráter pacífico” da votação e “acompanha com atenção o processo de apuração”.

“O governo brasileiro saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração. Reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados”, disse o Itamaraty em nota.

A chancelaria disse ainda que a publicação de dados desagregados por mesa de votação é um “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.

De acordo com uma fonte diplomática, o governo brasileiro considerou insuficiente a publicação do resultado pelo CNE e avalia como essencial a publicação das atas – o que até agora o Conselho não fez – para que o resultado possa ser crível.

Até o domingo da eleição, as informações que o Itamaraty recebia era de que a situação de Maduro era difícil e a oposição possivelmente venceria o pleito, o que leva a um ceticismo em relação à vitória declarada de Maduro sem a transparência da publicação das atas das mesas eleitorais, segundo a fonte.

Ainda de acordo com a fonte, a nota publicada pelo Itamaraty teve a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de ser publicada, mas ele pessoalmente não deve se manifestar diretamente por enquanto.

Apesar de ter tido uma relação próxima com o presidente venezuelano, Lula vem mostrando irritação e incômodo com a postura adotada por Maduro nos últimos tempos. Na semana passada, em entrevista a agências internacionais de notícias, Lula se disse “assustado” com a retórica do venezuelano, que chegou a falar de “banho de sangue” caso não fosse eleito.

Lula revelou ainda que conversou por duas vezes com Maduro e que disse a ele que a única chance de a Venezuela voltar a crescer era não haver dúvidas sobre a lisura e o resultado das eleição.

O Brasil enviou o embaixador Celso Amorim, assessor especial da Presidência, para acompanhar o pleito. Em declaração enviada a jornalistas, Amorim disse que o governo brasileiro continua acompanhando os acontecimentos para “poder chegar a uma avaliação baseada em fatos.”

“Como em toda eleição, tem que haver transparência, o CNE ficou de fornecer as atas que embasam o resultado anunciado. Também não vou endossar nenhuma narrativa de que houve fraude. É uma situação complexa e nós queremos apoiar a normalização do processo político venezuelano”, afirmou.

Amorim deve ter encontros nesta segunda com Maduro e com González para ouvir as posições dos dois lados, e também com observadores internacionais.

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