Para além do café e do azeite: Minas e Portugal fortalecem comércio e turismo de negócios

Minas Gerais e Portugal têm estreitado cada vez mais seus laços econômicos, impulsionando o comércio bilateral e criando oportunidades para empresas dos dois lados do Atlântico. Com superávit comercial consistente para o Estado brasileiro, a relação ganha um novo fôlego com o trabalho da Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil – Minas Gerais, presidida pelo diplomata e ex-diretor da Embratur, Miguel Jerónimo.

A atuação da câmara e os dados mais recentes reforçam o potencial dessa conexão: em 2024, Minas exportou cerca de US$ 62,3 milhões para Portugal, com destaque para o café, que representou quase metade desse volume.

“O café continua a ser uma das maiores exportações, como também de Portugal, o azeite. São grandes áreas que nós queremos alargar e intensificar”, explica Jerónimo.

A pauta de exportações inclui ainda querosene de aviação, preparações capilares e produtos industriais. Em contrapartida, os produtos portugueses mais comprados pelos mineiros são azeite, vinhos, peixes congelados e itens têxteis.

“Portugal é certamente a porta de entrada para outros países da União Europeia”, afirma o diplomata, destacando também a conexão com os demais membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), como Moçambique, Cabo Verde e Timor-Leste.

Desafios e visão de futuro para Minas Gerais

Para Jerónimo, o desafio ainda é mudar o “mindset” de parte do empresariado mineiro e do poder público. Um dos entraves, segundo ele, é a burocracia, que ainda trava investimentos e projetos estruturantes.

“As pessoas estão muito viradas para dentro e não conseguem olhar mais além. Nós temos que ser mais audaciosos, temos que arriscar, temos que acreditar. Minas Gerais e a cidade de Belo Horizonte têm um enorme potencial que ainda não foi explorado e descoberto”, aponta.

Segundo ele, Minas possui vários produtos importantes, que merecem destaque e podem entrar na lista de exportação para o país europeu. “Os vinhos mineiros estão a começar a ganhar alguma marca. O próprio azeite de Minas é muito bom. O queijo mineiro tem vários prêmios”, observa.

Nova gestão e reestruturação da Câmara Portuguesa em Minas

Desde que assumiu a presidência da Câmara em maio de 2024, Miguel Jerónimo reestruturou a entidade, antes praticamente inativa, e instituiu um plano de ação ambicioso. Comitês voltados para relações institucionais, jurídicas, turismo, educação, sustentabilidade e finanças foram criados para fomentar uma atuação estratégica.

“Eu pretendo dinamizar as relações da câmara e as relações comerciais entre Portugal e Minas Gerais. Tem que haver esse intercâmbio, juntar forças”, pontua.

A câmara já firmou acordos de cooperação com o Governo de Minas, o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e diversas universidades, com o objetivo de aproximar a academia e o setor produtivo.

“Eu acredito em aproximar a academia às universidades do mundo empresarial. É através desse diálogo, desse intercâmbio com os novos formandos que a nova comunidade profissional de estudantes vem depois exercer o seu cargo na sua nova profissão. A minha ideia é exatamente aproveitar estes jovens para formá-los como os próximos dirigentes da câmara”, destaca.

Turismo de negócios como meta

Além das conexões comerciais, o presidente aposta alto no turismo de negócios. Para ele, Minas tem potencial para sediar convenções internacionais de setores estratégicos como saúde e inovação.

“Trazemos essas pessoas que vêm aqui fazer a sua convenção anual, e muitas vezes, ficam tão entusiasmados que chamam suas famílias. Isso faz girar a economia e traz divisas para o Estado. Esses eventos trazem gente, giram a economia, movimentam hotéis, restaurantes e fazem Minas ser conhecida”, destaca.

A previsão é de que a entidade mineira sedie, em 2026, o segundo Encontro de Associativismo Luso-Brasileiro, que teve sua primeira edição este ano no Ceará. Para Miguel Jerónimo, esse será mais um passo rumo à consolidação de Minas como um hub de negócios, inovação e cultura no relacionamento com Portugal e com o mercado europeu.

Interiorização das relações entre Minas e Portugal

“Nós temos que levar Minas Gerais para Portugal, mas temos que trazer Portugal para Minas Gerais. A Câmara pode e vai organizar missões empresariais de Minas Gerais com empresas que tenham interesse em investir em Portugal ou abrir uma empresa irmã”, afirma Jerónimo.

A câmara também tem investido em interiorizar suas ações. Já foi criado um polo em Montes Claros, e novos núcleos estão previstos para outras cidades mineiras. “Vamos abrir agora o polo de Barbacena, Juiz de Fora também já quer abrir um polo. Tem que haver uma razão para abrir esse polo, tem que ter algum significado em termos das relações comerciais”.

Prêmio internacional valoriza projetos sustentáveis

Outro marco importante é o Prêmio Internacional de Sustentabilidade Brasil–Portugal, iniciativa inédita organizada pela câmara mineira com apoio da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

A cerimônia de entrega será em outubro e vai reconhecer projetos nas áreas de meio ambiente, governança e impacto social. O projeto vencedor na categoria “Master” será premiado com uma missão internacional de intercâmbio entre empresas de Minas e Portugal.

“Vivemos ainda num mundo, em muitos casos, de uma economia linear, mas os recursos naturais não são infinitos. Então temos que começar a fazer a passagem por um modelo de economia circular. O prêmio é para projetos inovadores na área da sustentabilidade, do ambiente, da economia circular”, destaca.