Internacional

Pedido de prisão de González é preocupante e há escalada autoritária na Venezuela, diz Amorim

“É uma coisa errada ao nosso ver", disse o assessor internacional da Presidência da República
Atualizado em 3 de setembro de 2024 • 16:50
Pedido de prisão de González é preocupante e há escalada autoritária na Venezuela, diz Amorim
Protesto contra Nicolás Maduro, em Maracaibo | Foto: Isaac Urrutia/Reuters

Brasília – O assessor internacional da Presidência, embaixador Celso Amorim, disse à Reuters que o governo brasileiro considera muito preocupante o pedido de prisão do candidato presidencial de oposição na Venezuela, Edmundo González, e vê uma escalada autoritária no País vizinho.

“É algo muito preocupante”, disse Amorim em entrevista à Reuters nesta terça-feira. “É uma coisa errada ao nosso ver. O Brasil tomou parte do acordo de Barbados, fizemos parte do processo de negociação, nos sentimos autorizados a criticar.”

O acordo de Barbados, entre a oposição e o governo venezuelano, negociado por Brasil, EUA, Noruega e Barbados, visava garantir que a eleição presidencial fosse justa e transparente.

“Não há como se negar que há uma escalada autoritária na Venezuela. Não sentimos abertura para o diálogo, há uma reação muito forte a qualquer comentário, temos notícias de várias prisões – o próprio governo anunciou mais de 2 mil prisões, não sei se para intimidar. Não há dúvida que há um autoritarismo”.

Amorim acrescentou que uma prisão de González poderia ser classificada como uma prisão política, já que ele é candidato presidencial em uma eleição que ainda não se resolveu.

“A situação da eleição na Venezuela não está resolvida, nós não vemos a vitória de um lado ou de outro. Seria uma prisão política, e não aceitamos presos políticos.”

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, reagiu mal por diversas vezes a críticas feitas pelo Brasil e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a sua postura nas eleições no país, o que terminou provocando um distanciamento entre os dois mandatários.

Logo depois das eleições, Maduro chegou a pedir um telefonema a Lula, que até hoje não aconteceu e continua sem previsão. Fontes disseram à Reuters que o presidente brasileiro só pretende falar com o venezuelano quando Maduro der sinais de estar disposto ao diálogo.

O governo brasileiro ainda pretende divulgar uma nota sobre a prisão de González.

De acordo com Amorim, o governo brasileiro ainda tenta manter uma abertura para buscar uma solução pacífica para a crise venezuelana.

“Alguns dizem que pode ser ingenuidade, talvez até seja mesmo, mas temos ainda esperança de uma solução negociada para a Venezuela”, disse, acrescentando: “Nós não queremos salvar o Maduro, queremos salvar a Venezuela. A Venezuela pegar fogo não é bom para ninguém.”

O governo brasileiro também mantém ainda uma coordenação com a Colômbia para tentar avançar em uma solução para a crise, mas diplomatas brasileiros admitem que a situação está cada vez mais difícil.

Um tribunal venezuelano emitiu na segunda-feira um mandado de prisão contra González, alegando que o candidato oposicionista foi chamado diversas vezes para depor e não compareceu. O candidato é acusado sem provas pelo governo de incitamento a violência e conspiração.

Desde pouco depois das eleições, González está em local incerto, protegido por oposicionistas, por temor de prisão.

Vários países da região condenaram a ordem de prisão contra González. Na Venezuela, é esperada uma declaração do candidato em algum momento no dia.

Conteúdo distribuído pela Reuters.

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