Internacional

Primeira loja física da Shein em Paris abre com longas filas e protestos

Shein foi acusada de vender em seu site "bonecas pedófilas"
Primeira loja física da Shein em Paris abre com longas filas e protestos
Logotipo da Shein é fotografado em escritório da empresa no distrito comercial central de Cingapura | Crédito: Chen Lin/Reuters

Com longas filas e protestos dentro e fora da loja, a gigante chinesa do e-commerce Shein abriu nesta quarta-feira (5) sua primeira e polêmica butique física na capital francesa.


Vista por críticos como símbolo de um comércio online predatório, destruidor de empregos e do planeta, a Shein é alvo de protestos desde que anunciou a abertura de um espaço presencial de 1.200 m² no coração de Paris, no sexto andar da loja de departamentos BHV Marais, fundada em 1856.


A controvérsia piorou desde a semana passada, quando a Shein foi acusada de vender em seu site “bonecas pedófilas”, brinquedos sexuais com aparência infantil.


A reportagem visitou a loja nesta quarta, assim que foi aberta. A fila de espera dobrava o quarteirão. Havia policiais e seguranças particulares dentro e fora da BHV. Os manifestantes eram mantidos do outro lado da rua.


Isso não impediu um grupo de driblar a segurança e entrar na loja brandindo cartazes e gritando: “Cúmplices de pedofilia criminosa!” Foram rapidamente retirados pelos seguranças.


O dono da BHV é um jovem empresário francês, Frédéric Merlin, 34. Em 2023, ele comprou a tradicional loja de departamentos, em dificuldades financeiras. Analistas acreditam que o acordo com a Shein faz parte de uma estratégia para gerar notoriedade por meio da polêmica.


Questionado pela Folha sobre o interesse dos consumidores brasileiros pela marca Shein, Merlin disse que a prioridade não são os estrangeiros. “BHV é a grande loja dos parisienses, que são 85% dos nossos clientes. Mas é uma mudança de modelo, que permite buscar essa nova clientela”, admitiu.


Nem todos os fregueses ouvidos pela reportagem estavam felizes com os preços. “Estou decepcionada, vou embora sem nada”, afirmou a francesa Virginie. “Pagar 32 euros [R$ 200] por um suéter Shein, quando encontro pelo mesmo preço na Zara, não dá vontade de comprar”.


Porém, o casal de franceses Steven e Christine caminhava pelos corredores com os braços cheios de roupas. “Já gastamos 1.000 euros [R$ 6.200]”, comentou Steven. Ele explicou que era para aproveitar uma promoção de inauguração: cada euro gasto na Shein dava direito ao mesmo valor em compras em outras butiques da BHV.


A Shein e outras plataformas chinesas, como Temu e Aliexpress, são acusadas de inundar o mercado francês com produtos descartáveis e antiecológicos, feitos sob condições de trabalho abusivas e a preços que destroem a concorrência. Um levantamento mostrou que 25 milhões de franceses já fizeram compras nesses sites.


Algumas marcas anunciaram o fechamento de suas butiques dentro da BHV, em protesto contra a chegada da marca chinesa. Até aí, parecia ser apenas um choque entre o apego francês ao velho modelo das grandes lojas de departamentos francesas, herdado do século 19, e a ruptura representada pelas plataformas online do século 21.


Na semana passada, porém, o caso mudou de dimensão com a divulgação de que o site da Shein vendia bonecas sexuais. A Shein anunciou ter retirado o produto do catálogo e que vai colaborar com o inquérito aberto na França. O parlamento francês convocou representantes da empresa para uma audiência daqui a duas semanas.


Com os seios nus, como costumam fazer, ativistas do grupo feminista Femen se manifestaram na esquina em frente à BHV. Até candidatos à presidência foram às redes sociais opinar. “A indecência se instala no coração de Paris”, escreveu o político de esquerda Raphaël Glucksmann.


A Shein já anunciou a abertura de butiques em outras cinco cidades francesas, todas dentro de filiais de outra loja histórica, a Galeries Lafayette, que pertence em parte ao grupo de Frédéric Merlin.


A empresa foi criada em 2010 na China, como um site de venda de vestidos de noiva. Seu crescimento fulgurante levou a um faturamento de US$ 45 bilhões (cerca de R$ 240 bilhões) em 2023, segundo o jornal britânico Financial Times.

Conteúdo distribuído por Folhapress

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas