Legislação

Municípios estão sendo pressionados a assinar acordo de Mariana, diz CEO de escritório que defende atingidos

Atualmente, 14 dos 49 municípios elegíveis aderiram à repactuação
Municípios estão sendo pressionados a assinar acordo de Mariana, diz CEO de escritório que defende atingidos
Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil

No último sábado (22), foi protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF) uma petição do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) pedindo a suspensão dos contratos celebrados entre municípios e terceiros que tenham por objeto a representação, a defesa ou o financiamento de ações em curso ou a serem ajuizadas perante jurisdições estrangeiras.

A entidade também pede que sejam suspensas as cláusulas que autorizam a cobrança de valores, sobretudo relacionados a honorários advocatícios e taxas básicas, em caso de celebração de acordo no Brasil, de pedido de desistência ou rescisão das contratações.

O Ibram argumenta que os contratos entre as prefeituras e o Pogust Goodhead, escritório que defende os atingidos pela tragédia de Mariana no processo contra a BHP, em Londres, têm cláusulas que pretendem frustrar tentativas de resolução amigável no âmbito nacional.

O Instituto menciona que os acordos preveem honorários de 20% sobre o benefício bruto recebido ou a receber e taxas básicas que podem chegar a 700 libras esterlinas por hora trabalhada em cenário de rescisão ou desistência da ação na Inglaterra pelo município.

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A petição foi registrada nos autos da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), ingressada pelo Ibram em junho de 2024, buscando que o STF reconheça a inconstitucionalidade da atuação de prefeituras em litígios judiciais no exterior.

Segundo o CEO e sócio-administrador global do Pogust, Tom Goodhead, a BHP financiou a ADPF com R$ 6 milhões e, em julho, a corte inglesa emitiu liminar para impedir que a mineradora continuasse auxiliando ou financiando a ação no STF.

CEO do Pogust Goodhead, Tom Goodhead | Foto: Tom Shaw/Divulgação Pogust Goodhead

Sobre a petição, o executivo afirma que é um exemplo de má-fé da entidade e que trata-se de mais uma tentativa das mineradoras de pressionar as prefeituras a aceitarem um valor indenizatório inferior ao que realmente deveriam receber, prejudicando a população.

“Não é coincidência que a data de adesão à reparação seja na quarta-feira de Carnaval, dia 6 de março. Isso faz parte de uma campanha organizada de lawfare (guerra jurídica, em português) das empresas de mineração, com a BHP começando isso e continuando agora, tentando privar os municípios da oportunidade de litigar no exterior e recuperar valores que correspondem às perdas reais”, disse em um encontro com jornalistas na segunda-feira (24).

Conforme Tom Goodhead, os municípios estão sendo pressionados para assinar o acordo de Mariana homologado no Brasil. Atualmente, 14 dos 49 municípios elegíveis aderiram à repactuação, sendo que cinco deles estavam no processo na Inglaterra: Bugre, Córrego Novo e Sobrália, de Minas Gerais, e Conceição da Barra e São Mateus, do Espírito Santo.

Procurado, o Instituto Brasileiro de Mineração disse que seu posicionamento a respeito da crítica do Pogust Goodhead é a petição e que não comentará sobre o tema.

Cláusulas contratuais existem, mas não serão acionadas contra as prefeituras

Em relação às cláusulas contratuais, o CEO diz que elas existem desde 2018, quando o litígio começou, e a recente atualização anunciada pelo escritório é para trazer proteção para que possam eventualmente cobrar os custos diretamente da BHP na corte inglesa.

Ele ressalta que o Pogust nunca processou cliente e não tem a intenção de cobrar honorários dos atingidos antes de um acordo ou uma sentença favorável em Londres.

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