Audiência pública discute impacto da Stock Car; relatório mostra prejuízo para vacinas da UFMG
Um relatório técnico apresentado na manhã desta terça-feira (16) em audiência pública aponta que os impactos causados por ruídos de alta intensidade, como os gerados durante o Campeonato Brasileiro de Stock Car, podem afetar pesquisas desenvolvidas pela UFMG, como a produção de vacinas da Covid-19, Doença de Chagas e malária, além de estudos de diagnóstico e tratamento para doenças como diabetes e câncer.
A audiência na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) foi promovida pela Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia e teve como objetivo debater os impactos negativos da realização Stock Car no entorno do Mineirão.
Segundo o relatório, a grandiosidade do evento, que tem a previsão de ocorrer entre os dias 15 e 18 de agosto deste ano, em vias próximas à instituição, pode interferir diretamente nas atividades de ensino, pesquisa e extensão.
“Nós não somos contra o evento. Se ele é importante para a cidade, entendemos que ele precisa ser viabilizado em local adequado para ser realizado. Ali nas imediações da UFMG, por ser uma zona hospitalar e uma zona residencial, não é um local para isso”, argumentou a reitora da universidade, Sandra Almeida, presente na audiência.
Além da representante da UFMG e alguns membros da comunidade acadêmica, foram convidados para a audiência pública os organizadores do evento, o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), e o vereador Gabriel Azevedo, mas eles não compareceram.
Biotério Central seria um dos mais impactados
A audiência foi um encaminhamento da visita técnica que a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia realizou no último dia 21 de março, que levou à produção do relatório.
“Inicialmente iríamos visitar vários locais da UFMG que terão o impacto, porém, diante da magnitude, nós focamos na importância estratégica do Biotério Central da UFMG”, disse a deputada Beatriz Cerqueira (PT), responsável por conduzir a mesa de debates na audiência.
O Biotério Central da UFMG, ao qual a deputada se refere, é um equipamento científico instalado dentro da universidade e próximo ao estádio do Mineirão. O local é destinado à criação de ratos e camundongos isogênicos e heterogênicos para pesquisas.
No mesmo espaço há a atuação para estudos científicos de esfera internacional, possibilitando aos aproximadamente 200 pesquisadores da UFMG e de outras instituições do País acesso a animais com tratamento de alta qualidade, indispensáveis para obtenção de resultados científicos mais robustos, confiáveis, homogêneos e reprodutíveis.
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Um dos pontos abordados pela universidade durante a audiência foi a sensibilidade auditiva dos animais sob cuidados da UFMG.
“A poluição sonora pode chegar a níveis insustentáveis. Já pensou 31 carros emitindo ruídos de grande intensidade, de 110 decibéis numa área hospitalar? A área hospitalar tem regras próprias, não podendo ter mais que 50 decibéis, de acordo, inclusive, com uma resolução municipal. Nós temos ali na região hospital veterinário da universidade e o biotério que tem a mesma fragilidade”, discursou a reitora da UFMG, Sandra Almeida.
Barreira acústica permanente
Sandra Almeida ainda criticou a proposta de barreira acústica permanente que foi apresentada à UFMG, que poderia reduzir os ruídos emitidos pelas corridas da Stock Car nas imediações da Federal:
“A proposta de barreiras acústicas permanentes não atende técnica, conceitual e eticamente os interesses da UFMG e da sociedade. Nós não queremos ser separados por uma barreira. Não queremos construir muros na cidade“.
Durante a audiência, foi defendido que, pelo fato de a UFMG ser uma instituição federal, cabe aos órgãos federais também uma atuação conjunta com a UFMG para garantir a escuta e alteração do local do evento. Solicitações foram distribuídas para agentes federais.
O que diz o relatório técnico?
Beatriz Cerqueira explicou que o relatório técnico feito na UFMG apresenta um histórico relatando que a universidade não foi considerada um agente importante a ser consultado pelo poder público ou pela organização do evento.
“O relatório faz um contexto importante de que a universidade soube da realização desse empreendimento somente pela imprensa, além de fazer um resgate sobre a luta contra o corte das árvores”, disse a deputada.
Ela afirma que, no relatório, há também o relato da reunião realizada com a Comissão de Meio Ambiente na Assembleia Legislativa e ainda um resgate sobre a situação fundiária do Mineirão e do Mineirinho.
“Tem gente que traz informações desconectadas da realidade, não sabendo que eventos realizados dentro do Mineirão e na esplanada trazem impactos completamente diferentes”, pontua a deputada.
Durante a audiência foram apresentadas as seguintes recomendações após as visitas e relatório técnicos:
- à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) a recomendação para que ela proceda com a mudança de local do Stock Car;
- aos empreendedores responsáveis pelo campeonato para que promovam a alteração do local;
- à Advocacia Geral da União (AGU) para que promova a proteção necessária ao Biotério Central da UFMG;
- à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, da PBH, para que ela se posicione mediante a necessidade de licenciamento ambiental e urbanístico do Stock Car;
“Todas as instituições citadas já receberam o relatório da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia com o nosso posicionamento, com toda a avaliação técnica e as recomendações”, diz Beatriz Cerqueira.
Requerimento virtual contra o Stock Car
Com a finalidade de obter o apoio do parlamento estadual, um requerimento será aberto no sistema virtual da ALMG para que os 76 deputados da Casa possam assinar e se posicionar com relação à realização do Stock Car no entorno do Mineirão. Tendo em vista uma maioria de assinaturas contra o evento, pode-se obter a possibilidade de um projeto que pressionará pela mudança de local do evento.
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