Legislação

Conflitos no campo crescem 23% no País

Conflitos no campo crescem 23% no País
Crédito: Marcelo Casal Jr/Arquivo/ABr

São Paulo – Levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), divulgado na última sexta-feira, revela que o Brasil registrou, em 2019, 1.833 conflitos no campo, o número mais elevado dos últimos cinco anos e 23% superior ao de 2018.

O dado reúne ocorrências relacionadas a disputas por terra, disputas por água e conflitos trabalhistas.

Segundo o relatório, no ano passado, houve recorde em disputas por terra, desde que os casos passaram a ser reportados pela entidade, em 1985. Em 2019, foram contabilizadas 1.254 ocorrências. A média foi de cinco casos por dia. De acordo com a organização, as disputas por terra impactaram a vida de 859.023 pessoas.

Além das propriedades de terra, a falta de acesso à água potável ou a iminência da falta estiveram no cerne dos conflitos, fazendo-se presentes em 489 deles. O índice foi 77% superior ao de 2018 (276). A CPT observa que as lutas em torno da água afetaram 279.172 pessoas, pertencentes a 69.793 famílias.

O relatório mostra que em 2019 o número de assassinatos chegou a 32, o que representa quatro casos a mais do que no ano anterior. Desse total, 28 estão associados a disputas por terra, três a conflitos trabalhistas e uma à disputa por água.

O total de tentativas de assassinato passou de 28 para 30, de 2018 para 2019. A diferença é de 7%, menor do que a variação de ameaças de morte, que subiram 22%, com o aumento de 165 para 201 casos.

Setor privado – O documento da CPT estabelece ligação de interesses empresariais com os conflitos por água, informando que o setor de mineração está envolvido em 189 casos (39%).

Hidrelétricas, por sua vez, têm conexão com 54 (11%), enquanto empresários e governos participaram, respectivamente, de 117 (36%) e 33 (7%) conflitos. Foram registradas 40 denúncias por parte da população, dado que inclui agressões, contaminação por mercúrio, ameaças de morte, danos, humilhação, intimidação e omissão.

“A gente, observando os conflitos por terra, vê que se concentram em regiões do agronegócio, das mineradoras, das madeireiras, das obras de infraestrutura, como barragens. Os estados mais conflitivos foram o Maranhão, o Pará, que sempre é o primeiro [na lista] e a Bahia, sobretudo o oeste do estado”, destaca Ruben Siqueira, da coordenação nacional da CPT.

Siqueira ressalta que a alta de ocorrências acabou sendo acompanhada por uma acentuada mobilização social. De acordo com a comissão, foram contabilizadas, em 2019, 1.301 manifestações que envolveram o engajamento de cerca de 240 mil pessoas. Ao todo, portanto, foram realizados 3,5 protestos por dia, em média, que representam um crescimento de 142% em relação a 2018, ano de 538 atos. Trata-se do maior volume já registrado pela organização.

Com 516 manifestações (40%), o Nordeste do país liderou a lista. Na sequência, estão Sudeste (251) e Sul (223). Quanto à adesão, o Nordeste foi a região que mais se destacou, com 106.451 manifestantes, seguida pelo Sul, em que 52.950 lutaram pelas causas.

“Cresceu o número de manifestações públicas, de rua, numerosas, ocupações de prédios públicos, acampamentos na frente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). O brasileiro tem uma história de repressão que está no seu DNA, eu diria”, afirma Siqueira.

Amazônia – O relatório aponta que, dos assassinatos registrados no ano passado, 27 (84%) ocorreram na região amazônica, aspecto também comentado por Siqueira. A região concentra ainda 22 (73%) casos de tentativas de assassinato, 158 (79%) das ameaças de morte e 71% das famílias expostas a conflitos. É também lá que se encontra mais da metade (57%) das 5.877 famílias despejadas de seus lares e 84% das famílias que tiveram suas casas ou terras invadidas.

A violência na Amazônia Legal é percebida no aumento de 36% no total de famílias abrangidas por conflitos e de 29% de famílias ameaçadas por pistoleiros. Nota-se, ainda, crescimento de 82% no número de despejos e 55% de invasões a terras ou casas.

Da edição deste ano do relatório Conflitos no Campo Brasil 2019 consta um texto da líder indígena Sônia Guajajara. No texto, Sônia declara que há “uma intensa e grave ofensiva contra os direitos dos povos indígenas no Brasil”.

Considerando-se que, de cada três famílias em conflito por terra, uma era indígena, foi atingido em 2019 o maior número de execuções de lideranças indígenas dos últimos 11 anos, um total de sete.

A comissão acrescenta que as disputas do ano passado resultaram na agressão de 11 pessoas de origem indígena. O grupo populacional também foi alvo de 39 ameaças de morte, 16 intimidações e nove tentativas de assassinato. (ABr)

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas