Legislação

Licença de alteamento de barragem da Anglo American em Conceição do Mato Dentro é suspensa

TCE exige reassentamento de famílias de Zona de Autossalvamento, área de maior risco em caso de rompimento, antes de qualquer avanço
Licença de alteamento de barragem da Anglo American em Conceição do Mato Dentro é suspensa
Foto: Reprodução / TCEMG

O Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) decidiu, por unanimidade, suspender o processo de licenciamento ambiental da mineradora Anglo American para o 2º alteamento da barragem de rejeitos do Sistema Minas-Rio, em Conceição do Mato Dentro, na região Central do Estado. A decisão foi tomada na sessão plenária desta quarta-feira (13) e paralisa imediatamente qualquer avanço no projeto de expansão da barragem.

A principal razão para a suspensão é a presença de famílias da comunidade tradicional de São José do Arrudas na Zona de Autossalvamento (ZAS), área de maior risco em caso de rompimento da estrutura. Segundo o TCE-MG, a presença de moradores nessa zona torna ilegal a concessão de licença ambiental, conforme a Lei Estadual nº 23.291/2019, conhecida como “Mar de Lama Nunca Mais”, criada após os desastres em Mariana e Brumadinho.

O que diz a lei?

A decisão cautelar, assinada pelo conselheiro Agostinho Patrus, determina que o licenciamento só poderá ser retomado após o reassentamento das famílias e o cumprimento de todas as exigências legais. O tribunal também proibiu que órgãos públicos tomem qualquer medida que permita a continuidade do processo enquanto a situação não for regularizada.

Para o relator, a prevenção de riscos deve acontecer no início do processo de licenciamento e não pode ser deixada para depois. “Antes da decisão, foram avaliados os possíveis impactos econômicos e financeiros da suspensão. Ainda assim, ela é necessária para garantir que o direito à vida e à segurança das comunidades seja respeitado antes da continuidade de qualquer atividade de alto risco”, afirmou Patrus.

O TCE-MG alertou que o descumprimento da decisão poderá gerar multas diárias entre R$ 3 mil e R$ 12 mil aos gestores públicos responsáveis.

Anglo American diz que tomará providências cabíveis

Em nota enviada à reportagem, a Anglo American informou está analisando o conteúdo para tomar as providências cabíveis.

“A empresa está analisando a decisão e tomará as providências cabíveis. A Anglo American ressalta que segue todos os ritos legais do processo de Licença Prévia (LP) do alteamento – que visa a aprovação da localização e a concepção do projeto, verificando sua viabilidade ambiental – e permanece em diálogo constante com o poder público, as comunidades locais e demais partes interessadas para sempre assegurar a conformidade de todas as exigências.”

Sobre o reassentamento das famílias, a empresa afirmou que já há um plano em andamento:

“A Anglo American formalizou um acordo em 2024, que consolidou um Plano de Reassentamento para as comunidades inseridas na Zona de Autossalvamento (ZAS), construído de forma participativa com as comunidades, com o Ministério Público e com os poderes públicos estadual e municipal. A partir de 2025, a empresa iniciou a implantação do Plano de Reassentamento, com cronograma previsto de realocação das comunidades até 2028 – data esta anterior à instalação do alteamento da barragem.”

Denúncia apontou riscos e irregularidades

A suspensão do licenciamento foi motivada por uma denúncia da deputada estadual Bella Gonçalves (Psol), que apontou problemas como:

  • Suposto fracionamento irregular do licenciamento (tratando partes do projeto de forma separada);
  • Descumprimento de condicionantes ambientais anteriores;
  • Ausência de um reassentamento efetivo para a comunidade de São José do Arrudas.

A parlamentar também mencionou que já há uma decisão judicial vigente proibindo novas licenças enquanto as famílias não forem reassentadas e não houver um plano coletivo aprovado.

Além disso, o aumento da altura da barragem, de 700 para 725 metros, é visto como uma nova intervenção e, por isso, estaria sujeita a um processo completo de licenciamento ambiental conforme exige a legislação vigente.

Comunidade quer permanecer no território

Segundo documentos técnicos no processo, a própria Anglo American reconhece que, com o alteamento, a mancha de inundação – área que seria atingida caso a barragem se rompesse – passará a abranger São José do Arrudas. Ainda assim, nenhum reassentamento foi concluído até o momento.

Conforme o TCE-MG, os moradores da comunidade já manifestaram diversas vezes o desejo de permanecer em seu território de origem, recusando propostas anteriores por entenderem que não atendem às necessidades socioculturais da população local.

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