Legislação

Pedidos de patentes de propriedade industrial de softwares têm alta de 19,8%

Inpi recebeu 4.395 solicitações de registro de propriedade industrial de programas de computador em 12 meses
Pedidos de patentes de propriedade industrial de softwares têm alta de 19,8%
AS concessões emitidas pelo Inpi registraram expansão de 35,4% em janeiro e fevereiro | Crédito: Acácio Pinheiro/Agência Brasil

Rio de Janeiro – O número de pedidos de registro da propriedade industrial de programas de computador cresceu 19,8% nos últimos 12 meses. De março de 2023 a fevereiro de 2024 foram 4.395 solicitações. Esses registros funcionam como se fossem uma espécie de patentes, o que reforça o direito dos criadores dos programas.

Os dados fazem parte do boletim mensal do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), divulgado nesta sexta-feira (8), no Rio de Janeiro. No acumulado dos dois primeiros meses de 2024, a expansão de pedidos calculada pelo órgão – ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços – é ainda maior: 35,1% na comparação com o primeiro bimestre de 2023. Foram 628 depósitos.

Assim como cresceram os pedidos, aumentaram também as concessões emitidas pelo Inpi, ou seja, a certificação da propriedade industrial. Em janeiro e fevereiro, foram 643, expansão de 35,4% na comparação com o mesmo período de 2023. Em 12 meses, a alta é mais expressiva – 59,1% – atingindo o recorde de 5.842 concessões.

A concessão de propriedade industrial para programas de computador é válida por 50 anos. Além de jurisdição no Brasil, os registros valem para 181 países signatários da Convenção de Berna, na Suíça, que trata de direitos autorais.

O conceito de programa de computador engloba, entre outras, criações como aplicativos de celular, jogos eletrônicos e funcionalidades de eletrodomésticos, por exemplo, como um programa de lavagem de uma máquina de lavar.

A maior parte dos registros é feita por instituições nacionais, com destaque para universidades federais. A Petrobras é outra grande depositante de pedidos. Em 2024, pessoas físicas responderam por 30% dos pedidos.

Diferentemente de invenções que precisam ser patenteadas, os programas de computador, por serem protegidos pela legislação de direito autoral, não precisam, necessariamente, de registro no Inpi. Mas o chefe substituto da divisão responsável pelo registro de software do Inpi, Joelson Gomes Pequeno, explica que há vantagens em formalizar as propriedades no órgão. Software é um programa que permite realizar tarefas específicas em um computador.

“Serve como facilitador da identificação do proprietário do software”, disse à Agência Brasil. Ele faz analogia com uma união estável. “Quando ela não é registrada e a pessoa necessita comprovar (a posteriori), é bem mais difícil, é bem mais burocrático. É a mesma coisa com registro de computador”, garante.

Facilidade

Na avaliação do Inpi e da indústria de softwares, o número de pedidos e concessão de programas de computador cresceu consideravelmente a partir de 2018 por causa de uma mudança do Inpi, que passou a receber os requerimentos por meio de arquivos enviados pela internet. Antes disso, era necessária a entrega de documentação impressa. Entre 2018 e 2023, o total de pedidos saltou de 2.511 para 4.232, alta de 68%.

Nesse período, a média anual de concessão de registros é de 3,9 mil. O recorde de 5.842 nos últimos 12 meses se explica porque o órgão fez uma força-tarefa para analisar pedidos que estavam sem decisão desde a época em que as entregas eram feitas por vias impressas.

“Hoje, com cliques de computador, você faz tudo, preenche até a guia das custas que vão ser pagas, você faz o envio do programa na plataforma on-line. O processo está bastante simplificado e muito rápido. Em menos de dez dias, recebemos um certificado de registro”, afirma o diretor jurídico da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), Manoel dos Santos.

A mudança implementada pelo Inpi em 2018 fez com que o prazo médio para concessão de registros caísse de até quatro meses para sete dias corridos. Além de menos tempo, os desenvolvedores gastam menos recursos. Os custos, que beiravam cerca de R$ 400, há seis anos, caíram para R$ 185.

Divulgação de serviço estimula a demanda

Para o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), uma ação que contribuiu para o aumento do número de registros de programas de computador foi a divulgação do serviço. “Juntamente com essa mudança de paradigma do papel para o eletrônico, a gente vem focando muito a disseminação desse registro, dando palestras e usando as redes sociais do Inpi para fazer disseminação”, ressalta o chefe substituto da divisão responsável pelo registro de software do Inpi, Joelson Gomes Pequeno.

A associação das empresas de software elenca mais motivos que justificam a maior procura por pedidos de registros. Um deles é o crescimento da indústria de programas de computador em si, que tem apresentado evoluções anuais acima de 10%.

“A cada cinco anos, dobra o número de programas comercializados no País. O mercado cresce e novos programas são lançados. Então, a proporção do crescimento (de pedidos de registro) de programas é proporcional ao crescimento do mercado”, avalia o diretor jurídico da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), Manoel dos Santos.

Ele aponta também o efeito de legislações que, para ele, acabam incentivando desenvolvedores a buscar registros no Inpi. Ele cita a Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133) e o Decreto nº 11.890.

A Lei 14.133 determina que, nas situações em que apenas um fornecedor é apto a oferecer um produto ou serviço, é permitida a inexigibilidade (não exigência) de licitação por parte do poder público. Já o Decreto 11.890 dá preferência para fornecedores nacionais frente a estrangeiros, quando há similaridade nas condições de ofertas de um produto ou serviço.

“Se você conseguir provar que o software foi totalmente desenvolvido no Brasil, se o seu preço for até 10% maior que o do software de origem externa, o ente público é obrigado a contratar esse software”, detalha Santos.

“Isso tem estimulado as empresas a obter o registro no INPI para comprovar que o software foi desenvolvido no País. São empresas tentando obter vantagem competitiva”, ressalta.

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