Varejo e agro podem liderar pedidos de recuperação judiciais em 2024

A busca por processos de recuperação judicial tornou-se uma estratégia para a sobrevivência e a revitalização de muitas empresas em face a dificuldades financeiras. O termo, aliás, ganhou evidência em 2023, após uma série de marcas conhecidas Lojas Americanas, 123 Milhas e Oi buscarem o recurso para se manterem ativas no mercado. Neste ano, além do varejo, o agronegócio poderá estar mais sensível às crises financeiras, segundo especialistas.
Para a advogada e especialista em Direito Empresarial, Giulia Panhóca, até mesmo escândalos maiores e recentes foram deixados de lado pela magnitude das reestruturações das Lojas Americanas e da 123 Milhas. Conforme ela, devido o grande contato com o público geral, a repercussão desses casos superou processos de outras recuperações até mais relevantes sob a perspectiva de valores, como a do Grupo Odebrecht.
“Um fator importante em ambas as recuperações foram as percepções de que possivelmente houve fraude ou simulação por parte dos órgãos de administração das empresas que falharam em comunicar com precisão o grau de endividamento, criando uma certa crise de confiança”, observa a especialista.
Desafios ‘acendem’ alerta para empresas do setor agro
A alta dos preços dos insumos, assim como o baixo preço dos grãos, o alto custo do crédito e as influências climáticas podem levar empresas do setor do agronegócio a possíveis crises financeiras neste exercício. Especialistas afirmam que esses fatores têm movimentado o setor nos últimos meses e que há grandes chances de 2024 ser marcado por recuperações judiciais para quem depende dos negócios do campo.
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O especialista em Direito Empresarial, Filipe Denki, adverte que é necessário recorrer às reestruturações judiciais para contornar momentos que podem ficar mais adversos. Ele destaca a sensibilidade do setor às crises econômicas devido as margens de lucro reduzidas e afirma que “o setor do agronegócio enfrentará possíveis pedidos de recuperação judicial”.
“Dentre as causas da crise do produtor rural, que tem levado a um grande aumento de seu endividamento, por exemplo, destacamos a crise dos insumos agrícolas, crédito elevado, redução do preço da soja, do milho e do arroba do boi, além do aumento do arrendamento mercantil e da falta de armazéns”, cita.
Ele também lembra que dentro desse cenário, parte da concentração de matérias-primas, como é o caso dos fertilizantes e dos defensivos agrícolas utilizados nos campos brasileiros, são importados de parceiros comerciais como a China, a Rússia e a Índia. “Esses países vêm enfrentando obstáculos para manter o ritmo de produção, além de estarem limitando os embarques pela necessidade de priorizar o abastecimento local”, avalia.
Produtores de soja são os que mais recorreram aos pedidos judiciais

Neste sentido, pesquisa recente da Serasa Experian, aponta que de janeiro a setembro de 2023, cerca de 80 pedidos de recuperação judicial por parte de produtores rurais foram abertos no País. O detalhe que chama atenção é que todos esses pedidos são de produtores que atuam como pessoas físicas e com as maiores áreas de plantação de soja. O volume representa aumento de 300% na quantidade de requisições feitas no mesmo período de 2022, quando o órgão monitorou 20 pedidos apresentados.
De acordo com o levantamento, apesar da crescente, os números precisam ser relativizados, já que os solicitantes possuíam perfil de crédito mais arriscado. No entanto, a situação financeira de cada produtor rural piorou ao longo do tempo. Ainda segundo a Serasa, a recuperação judicial se torna uma alternativa para que os agropecuários possam voltar a produzir e fomentar a economia.
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