Agronegócio tem grandes desafios relacionados aos ODS
O agronegócio ainda enfrenta vários desafios quando o assunto é sustentabilidade ambiental. Mas a preservação dos recursos naturais e as tecnologias modernas e, em muitos casos, não tão modernas assim, podem fazer a diferença para mitigar os impactos ambientais e promover práticas mais sustentáveis.
Ao completarem 10 anos, em 2025, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ainda servem de guia para o agronegócio em Minas Gerais. De acordo com o analista de Sustentabilidade do Sistema Faemg Senar, Guilherme Oliveira, a entidade conta com diversos programas, abrigando também o de inclusão, para fomentar os ODS no agronegócio. Ele aponta que o principal desafio é continuar levando informações, por meio de ações, para que o produtor rural dissemine, cada vez mais, essas práticas e ajude na implementação dos objetivos.
Liderança, saúde, fome zero e meio ambiente: objetivos do Sistema Faemg/Senar
“No rol de ações entram a Faemg Mulher e a Faemg Jovem, por meio das quais trazemos esses dois grupos, para mostrar a eles a possibilidade de liderança dentro do agronegócio, nos sindicatos e nas comunidades. Outra meta dos ODS é a fome zero e, por isso, levamos ao campo, por meio do Senar, programas de assistência técnica e gerencial, com acompanhamento, para que a propriedade rural seja assistida e melhore o desempenho, aumentando a produtividade e a renda, além de orientar o produtor nas questões ambientais”, enumerou.
Outra meta dos ODS no agronegócio que é preocupação da entidade é a questão da saúde e bem-estar. “Temos o programa ‘Família na Praça’, que leva uma cesta de produtos ao interior, onde o produtor e sua família contam com um espaço de recreação para as crianças. Também temos o ‘Caminhão da Saúde’, que oferece consultas médicas, principalmente para a realização de exames de mama, Papanicolau e próstata para os homens. Além de ofertar, em alguns casos, e em parceria, serviços odontológicos. É o olhar sobre os ODS ligados à saúde e ao bem-estar no agronegócio”, destaca.
Proprietários rurais preservam, em média, 30% de suas áreas
De acordo com Oliveira, tanto em Minas Gerais quanto no Brasil, as legislações nas áreas ambiental e de recursos hídricos são bem rigorosas. “O produtor tem que preservar, no mínimo, 20% da sua propriedade, que é destinada à reserva legal, obrigatória por lei. Fora isso, ainda existem as áreas de preservação permanente. Então, hoje, em Minas, os proprietários rurais preservam, em média, mais de 30% das suas áreas com vegetação nativa, que é abrigo da fauna, flora e das nascentes de água”, aponta.

Outro ponto destacado pelo analista são as práticas de cultivo, que vêm sendo aprimoradas. “Nos últimos 30 anos, foram bem desenvolvidas, como o plantio direto, que já vem sendo adotado pela grande maioria dos produtores de culturas anuais e é realidade no setor. Trata-se de plantar em cima da palhada da cultura do ano anterior e, com isso, evita-se o revolvimento do solo, diminuindo as chances de erosão. E isso influencia diretamente no manejo do solo, que vai ajudar na infiltração de água”, explica.
Oliveira ressalta também a integração de atividades, como a lavoura, pecuária e a floresta (ILPF). “Em uma mesma área, o produtor rural planta soja, milho, e, depois da colheita, entra com a pastagem. Assim ele vai fazendo, a cada ano, em um talhão diferente. Muitos produtores, hoje, estão plantando eucalipto ou qualquer outra árvore junto com a pastagem, e isso traz melhor ambiência animal, criando um microclima mais propício e fresco para os animais, além de gerar sombra”, explica.
Manejo integrado reduz uso de defensivos
Outra ação que tem feito a diferença nas propriedades é o manejo integrado de pragas e doenças nas lavouras, com o produtor tendo uma visão da propriedade como um todo. Ele faz o monitoramento das pragas e só faz a aplicação de algum defensivo agrícola nas áreas onde, realmente, é necessário, reforça o analista.
“A ação gera uma redução no uso de defensivos agrícolas nas propriedades. Outro aspecto importante é a fixação biológica de nitrogênio para o cultivo de plantas leguminosas como o feijão e a soja, dispensando a utilização da adubação nitrogenada e gerando uma economia de adubo muito grande. O Brasil conseguiu desenvolver bactérias que, associadas às plantas, fixam o nitrogênio do ar e o fornecem diretamente para a planta, por ser associada na raiz”, explica.
A utilização de bioinsumos, principalmente nos últimos anos, com o desenvolvimento de fungos, bactérias e até insetos que são inimigos naturais de pragas e de algumas doenças da lavoura, vem dispensando o uso de defensivos. “A utilização é feita por meio de um outro organismo vivo. Por exemplo, no caso da broca da cana-de-açúcar, produzimos uma vespa que, ao ser solta na lavoura, cuida de 100% do controle desta praga da cana”, disse.
“Apesar de serem bem difundidas em algumas regiões, em outras, as práticas ainda não chegaram. A manutenção desse trabalho de divulgação, de orientação aos produtores, de capacitação, cada vez mais são importantes para conseguirmos alcançar os ODS. Mas, a burocracia nas áreas, tanto de licenciamento ambiental, de recursos hídricos e trabalhista, apesar avanços, ainda é um dificultador, porque o produtor acaba enfrentando um caminho muito longo para conseguir regularizar a propriedade”, conclui.
Emater-MG: variações climáticas são um grande desafio
De acordo com o coordenador técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), Bernardino Cangussú, o grande desafio para o setor é enfrentar as variações climáticas, mas a Empresa já vem, há alguns anos, atuando para buscar a sustentabilidade. Um dos programas voltados para minimizar o problema é o ‘Construindo Solos Saudáveis’, que já tem cinco anos e conta com mil unidades demonstrativas.
“Toda a base de abastecimento de água que existe é feita pelo solo, que é a maior caixa d’água existente. Retornar o equilíbrio do solo com toda a vida dele é de extrema importância, pois vai se perdendo ao longo dos anos, seja pela extração de nutrientes pelas plantas ou, em alguns casos, por conta de queimadas”, afirmou.
Segundo Cangussú, mesmo as práticas agronômicas, que são conservacionistas, exigem uma certa regularidade de clima, uma vez que as temperaturas, principalmente as mais altas, causam muitos distúrbios fisiológicos nas plantas.
“Mas é possível amenizar os problemas. Ao se plantar soja, milho, ou outro alimento, é possível colocar um mix de sementes com raízes em diversas profundidades, com várias funções. Após cortar a planta, essa matéria orgânica é incorporada em profundidade e as raízes apodrecem, criando canais e matéria orgânica no solo. Outro benefício é que a raiz extrai nutrientes que estavam lá no fundo e os joga para cima, os deixando disponíveis para as plantas. Além disso, gera matéria orgânica, que ajuda a diminuir a temperatura do solo”.

Campo absorve custos com inovações
Entretanto, nem tudo são flores no caminho do produtor, aponta Cangussú. “Existem custos com insumo e pessoal para implementar as técnicas, que não são repassados. Se fizer um cantinho de café na propriedade, utilizando essas técnicas, vai ter um custo maior de produção, pelo menos, inicialmente. Terá que desembolsar mais capital para um setor que está tendo alta de insumo e também de mão de obra. Esse é também um grande desafio”, aponta.
Quanto às possíveis soluções, o coordenador da Emater-MG sugere que a inovação está sendo trabalhar algumas práticas que foram até esquecidas, para alcançar o equilíbrio agronômico daquela lavoura.
“Equilíbrio agronômico é não promover o esgotamento do solo, passando a equilibrar a parte de adubação, de resíduos, com a capacidade de produção daquela área. É equilibrar o conjunto de práticas, pois ter uma isolada não adianta. Se não houver gestão e condução daquela propriedade, sem recurso para manter, sem uma máquina correta para processar, fica mais difícil, porque a agricultura existe ali. E esse conjunto de práticas para trazer esse equilíbrio é custeado pelos produtores rurais”, observa.

As práticas existem e a ciência disponibiliza, diz Cangussú. “Agora, como vamos implementar? Quem vai pagar por essa implementação? Como vai ser orientado? Porque o produtor muitas vezes também desconhece. São desafios de médio e longo prazos. Tem que começar a trabalhar, criar ambientes novos. E você não cria um ambiente do dia para a noite. O solo vem sendo degradado, às vezes, há anos, mas temos que começar a implantar algo”, afirma.
Um ponto levantado pelo coordenador é a questão do impacto do campo na cidade. “Poucas no mundo foram bem planejadas. Práticas agronômicas são feitas no campo para que o excesso de água não chegue na cidade e isso implica em responsabilidade nesse custo. As cidades recebem uma água limpa que não possuem; portanto, deveriam participar. A construção de uma estrada rural bem feita, que não leve à erosão e com vegetação bem tratada, vai gerar um menor volume de água chegando aos rios, mas vai ter menos consequências nas cidades onde a grande população está. A solução está no campo, ou passa por ele, pelo menos”, reforça.
Empresas investem em operações verdes
De olho nesse setor, a empresa CJ Selecta conquistou sua primeira operação “verde” (PPE) com a instituição financeira J.P. Morgan, líder global em serviços financeiros. A transação com o J.P. Morgan apoiará e fortalecerá os esforços da CJ Selecta em áreas como sementes não transgênicas, originação de bioma não amazônico, produção de etanol de soja, redução da pegada de carbono e, assim, atingir a meta de 100% de rastreabilidade até 2025.
Existem outras empresas, como a JBS, que também tem ações de sustentabilidade em Minas Gerais, como o programa Escritórios Verdes, que oferece assessoria gratuita a produtores rurais. A empresa também participa do programa ‘Óleo Amigo’, que coleta e transforma óleo de cozinha usado em biodiesel.
Já a Futura Agronegócios, uma empresa com 21 anos de expertise em Minas Gerais, é comprometida em impulsionar o crescimento sustentável do agronegócio por meio de soluções inovadoras e excelência em serviços.
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