Movimento Minas 2032

Aperam fecha contrato para vender crédito de carbono

Esta é a primeira operação deste tipo na América Latina
Aperam fecha contrato para vender crédito de carbono
Empresa comprovou uma remoção de 1.122 toneladas de CO2e com a aplicação de Biochar as florestas | Crédito: Daniel Mansur/Divulgação

Cumprir as metas de redução das emissões de carbono acordadas internacionalmente com o objetivo de frear as mudanças climáticas é uma missão que se mostra cada vez mais difícil. Em setembro passado, pouco antes da COP 26, realizada em Glasgow, na Escócia, a Agência Internacional de Energia (AIE) alertou que o corte nas emissões globais de carbono ficaram 60% abaixo da meta de carbono zero para 2050.

A organização disse, ainda, que a diferença entre os planos atuais e a mudança necessária para atingir a meta de carbono zero era “gritante”, exigindo até US$ 4 trilhões em investimentos apenas na próxima década.

Diante da urgência climática, apenas deixar de emitir CO2 não basta. É preciso desenvolver tecnologias e metodologias capazes de retirar carbono da atmosfera. Em Minas Gerais, as operações da Aperam South America comemoram o primeiro contrato fechado na América Latina para a venda de créditos de remoção de carbono para a empresa canadense Invert Inc, especializada na remoção e compensação de emissões de CO2. Localizada no Vale do Jequitinhonha (nos municípios de Capelinha, Turmalina, Itamarandiba, Veredinha e Minas Novas), a Aperam BioEnergia está dedicada ao cultivo de florestas renováveis e produção de carvão vegetal utilizado para a produção do Aço Verde Aperam, na usina de Timóteo, no Vale do Aço, capaz de produzir 900 mil toneladas de aço líquido por ano.

A tecnologia utilizada foi a do Biochar, desenvolvida no Brasil. O Biochar é obtido do carvão, por meio da separação de faixas específicas de tamanho. Aplicado ao solo, o material ajuda a reter água e a condicionar a terra, auxiliando na disponibilização de nutrientes, garantindo também a retenção do carbono por centenas de anos, evitando sua liberação para a atmosfera.

Anteriormente o produto era utilizado como combustível que, ao ser queimado, acabava liberando carbono para a atmosfera. Agora ele tem uma utilização mais nobre e rentável.

De acordo com o presidente da Aperam South America e da BioEnergia, Frederico Ayres Lima, a siderúrgica comprovou uma remoção de 1.122 toneladas de CO2e com a aplicação de Biochar no solo das florestas da Aperam BioEnergia. A perspectiva é chegar, num futuro próximo, a 40 mil toneladas de biochar por ano, o que representaria um potencial valor entre R$ 38 milhões a R$ 40 milhões.

As vendas de Certificados de Remoção de CO2e (CORCs) retirados da atmosfera foram emitidas e transacionadas em uma plataforma dedicada a esse mercado, com enorme potencial de crescimento. O CORC referente ao volume de 1.122 t de CO2e comercializado pela BioEnergia foi negociado a um valor de 112 mil euros.

“Utilizamos apenas o carvão vegetal produzido por nós mesmos de forma sustentável. Uma pequena parte dele, porém, por razões físicas não serve para os nossos autos-fornos. Vimos que se essa parte for incorporada no solo, ela captura um CO2 que não vai voltar para a atmosfera. E adicionalmente temos ganhos na melhoria da qualidade do solo. Dessa forma, nossa floresta plantada se torna ainda mais eficiente e produzimos um carvão de melhor qualidade com menor custo”, explica Lima.

A BioEnergia é a primeira do mundo em seu segmento a obter a neutralidade em carbono nos escopo 1 – Emissões diretas de gases de efeito estufa (GEE) provenientes de fontes que pertencem ou são controladas pela organização -, e escopo 2 – emissões indiretas de GEE provenientes da aquisição de energia elétrica que é consumida pela organização.

A venda de créditos, porém, só é possível porque toda a operação é auditável e mensurável.

“Somos auditados para ver se o Biochar foi produzido de forma sustentável, depois auditados na incorporação dede o solo e o benefício que isso traz. Assim, comprovo que consegui mitigar e tenho a certificação da remoção do CO2. A produção de aço sustentável é uma ‘jabuticaba’. O Brasil tem uma oportunidade de ter um forte protagonismo na descarbonização da siderurgia. Ninguém vai conseguir produzir tanto carvão sustentável por hectare como o Brasil. Temos uma matriz de energia elétrica muito mais favorável do que a China, por exemplo, que é a maior produtora mundial de aço. Em Timóteo, usamos carvão vegetal e ganhamos eficiência. Esse é um duplo ganho para os negócios e também para o planeta. Nas outras unidades do grupo para tornar a produção mais ‘verde’, a aposta é na reciclagem de sucata. Acontece, porém, que não existe disponibilidade de sucata suficiente para a produção necessária”, afirma.

Mercado bilionário

Estima-se que o setor de remoção de carbono movimente US$ 2,1 bilhões no mundo em 2022, valor que pode parecer pequeno diante dos US$ 800 bilhões de todas as transações envolvendo CO2e no planeta. Porém, o que chama a atenção é a estimativa de que esse montante de US$ 2,1 bilhões salte para US$ 7 bilhões nos próximos seis anos, com um crescimento médio anual estimado em 20%. As projeções são da Fortune Business Insights.

Mas como o enfrentamento às mudanças climáticas é urgente e desafiador, novas soluções complementares e integradas precisam ser desenvolvidas o tempo todo.

“Isso não para. Vamos continuar melhorando nossos processos para produzir o aço em menor geração de CO2 possível O objetivo é entrar no escopo 3 (refere-se a todas as emissões pelas quais a empresa é indiretamente responsável, tanto a montante como a jusante da sua cadeia de valor), muito em breve. E já sonhamos ser carbono negativos. Como grupo, a meta é reduzir 30% até 2030 no escopo 1 e 2 e neutralizar até 2050 e vamos alcançá-la”, completa o presidente da Aperam South America e da BioEnergia.

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