Associação Nossa Cidade amplia apoio a iniciativas comunitárias com fundos regenerativos na Grande BH
Fundada em 2014, a Associação Nossa Cidade (ANC), organização com atuação em 34 municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, tem levantado fundos para apoiar ações com impacto socioambiental para populações minoritárias. Desde então, o modelo tem destinado microfinanciamentos de até R$ 3 mil para iniciativas locais de impacto social, ambiental e econômico, definidas por processos de governança participativa conduzidos pelos próprios moradores.
“Funciona assim, no fundo para as pessoas migrantes, quem escolhe os projetos que vão ser financiados são todos pessoas migrantes. No fundo para pessoas com deficiência são todas pessoas com deficiência; no fundo Brumadinho, são todas pessoas que moram em Brumadinho”, detalha um dos fundadores da associação, Renato Orozco.
Os projetos contemplados priorizam reconexão com a natureza, fortalecimento de vínculos e resiliência em territórios impactados por desastres e vulnerabilidades sociais. Uma das lideranças comunitárias de ANC, Marlúcia da Cunha Baesse, conhecida como Tia Malu, conta que desde que começou a atuar na associação desenvolveu um novo olhar sobre a filantropia.
“Eu era muito crítica das instituições que já haviam passado na minha favela por sempre trazerem algo novo ao invés de ouvir o que a comunidade precisava. Então, no modelo da ANC, que é uma Fundação e Instituição Colaborativa, mudei completamente meus conceitos. A ANC acredita e empodera as lideranças locais como solucionadoras do problema e não apenas como beneficiadas”, explica.
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A voz ativa das lideranças das comunidades é parte crucial para o desenvolvimento de projetos e construção de iniciativas. Para Marlúcia, o olhar colaborativo entre os principais participantes das ações faz toda a diferença. “Muda tudo. Não somos vítimas, não somos beneficiados. Somos agentes de transformação para um mundo melhor, mais equilibrado”, observa.
Modelo de funcionamento da Associação Nossa Cidade
A ANC opera predominantemente como grantmaker, financiando projetos em vez de executá-los diretamente. Além dos aportes financeiros, a associação oferece apoio técnico, capacitação e fortalecimento institucional a coletivos, organizações e lideranças comunitárias. Com o apoio dos moradores, a iniciativa promove filantropia descentralizada, voltada ao protagonismo local, e atende territórios com baixa inserção em editais tradicionais e dificuldades de acesso digital.
O incêndio florestal no distrito de Casa Branca é um exemplo de necessidade atendida com rapidez: a Brigada Voluntária Guará recebeu equipamentos de combate ao fogo em menos de 48 horas após solicitar o recurso.
A associação mantém os fundos Brumadinho e Grande BH e está estruturando três novas frentes: o programa de bolsas Nossa Cidade, com apoio financeiro e formação para lideranças comunitárias; o Fundo para Pessoas Migrantes; e o Fundo para Pessoas com Deficiência. O plano estratégico prevê alcançar dez fundos ativos até o fim de 2025.
Entre as ações recentes está o mapeamento das condições de vida da população migrante na Capital e Região Metropolitana. Dez bolsistas realizam entrevistas para construção de diagnóstico participativo, que será base para sensibilização social e criação de um fundo exclusivo destinado à pauta migrante.
Conheça algumas iniciativas
Projeto interdisciplinar em Contagem
O projeto Farmacinha EJA e Horta, desenvolvido com estudantes da Educação de Jovens e Adultos da rede pública de Contagem, no bairro São Joaquim, terá R$ 1.500 para compra de materiais como carrinho de mão, enxadas, pás, regadores, adubo e mudas. A iniciativa propõe recuperar práticas ancestrais e integrar agricultura urbana ao processo pedagógico, com objetivo de criar um ambiente terapêutico e fortalecer vínculos entre comunidade, educação e cuidado ambiental. A proposta é conduzida pela professora alfabetizadora Ivete, em parceria com a docente Rosa Lina.
Fundo Brumadinho destina R$ 3.360 ao projeto Aldeias Conectadas
O Fundo Brumadinho aprovou R$ 3.360 para a aquisição do kit Starlink de internet via satélite no projeto Aldeias Conectadas, elaborado pelo Instituto Awery com articulação das lideranças indígenas. O recurso será utilizado para levar conexão de alta velocidade às aldeias Xukuru Kariri e Kamakã Mongoió, em Brumadinho, com objetivo de garantir inclusão digital, ampliar canais de renda e fortalecer a comunicação comunitária.
A conectividade permitirá implementação de e-commerce de artesanato indígena, acesso à telemedicina e educação online, além de apoio às atividades culturais e turísticas. As despesas mensais e a manutenção do serviço serão responsabilidade das próprias aldeias.
Evento comunitário no Dia da Consciência Negra recebe R$ 2.500
Outra iniciativa aprovada pelo Fundo Brumadinho destinará R$ 2.500 ao evento 20 de novembro: Dia de Memória, Resistência e Futuro. A ação será realizada com quilombos da cidade em homenagem a Zumbi dos Palmares e ao Dia da Consciência Negra, agora feriado nacional. O valor será aplicado no almoço coletivo gratuito e na contratação de fotógrafos e videomaker para registro audiovisual do encontro.
A programação prevê apresentações culturais como congado, moçambique, corais e dança, além de teatro com crianças. A expectativa é reunir cerca de 350 pessoas entre quilombolas, moradores e pesquisadores. A proposta é coordenada por Janaína da Conceição Araújo, conhecida como Sarru.

Fundo Idealista financia ações comunitárias em Lagoa Santa
O Fundo Idealista recebeu duas iniciativas. O Café Decolonial realizará encontros formativos com vivência em quintal, leitura coletiva e práticas de plantio baseadas em ancestralidades indígenas e afro-brasileiras, com discussões sobre cosmovisões e decolonialidade.
O Encontro do Bem, previsto para ocorrer no Espaço Casa Sr. Tito, no bairro Palmital, em Lagoa Santa, receberá R$ 200 para compra de alimentos (biscoitos, bolos e pão de queijo). O evento será realizado com 20 participantes e busca apresentar o Fundo Lagoa Santa e o Dia Idealista à comunidade local. A proposta é organizada pela jornalista, terapeuta e horticultora orgânica Inêz Alves, moradora da cidade há quase 30 anos.
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