Chuvas e esgoto são principais desafios da Lagoa da Pampulha
A previsão de volume de chuvas acima da média em todas as regiões de Minas Gerais, do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) acende um alerta técnico: novos aportes de água pluvial podem carregar os sedimentos, esgoto e nutrientes que chegam pelo esgoto e resíduos sólidos vindos dos córregos da bacia da Pampulha. De acordo com pesquisadores, as melhorias recentes na qualidade da água em função do tratamento das águas da lagoa são anualmente afetadas no período de chuvas.
O alerta vem do geógrafo e professor adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diego Macedo, e acontece justo no período da retomada dos planos da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para reabrir a navegação na Lagoa da Pampulha, período em que a lagoa fica sujeita a maiores variações na qualidade da água e aporte de resíduos flutuantes.
Isso porque a Lagoa da Pampulha não é um lago isolado — faz parte da Bacia Hidrográfica da Pampulha, que se estende por cerca de 97 quilômetros quadrados (km²), abrangendo zonas de Belo Horizonte e Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A bacia conta com 507 nascentes e 44 córregos/afluentes, que drenam águas pluviais, esgoto, sedimentos e carga difusa de uma população estimada em até 400 mil habitantes. Oito desses córregos deságuam diretamente na lagoa que são considerados tributários.
Entre os tributários mais relevantes estão os córregos/rios: Sarandi, Ressaca — ambos com nascente e trechos em Contagem — além de Mergulhão, Tijuco, Baraúnas, Água Suja, o córrego da AABB e microbacias associadas.
Esse conjunto volumoso de cursos d’água, somado à elevada população, à urbanização intensa e às chuvas de verão, torna a bacia um sistema vulnerável que comprometeria a lagoa caso não houvesse um tratamento em curso.
Para otimizar os esforços em busca de soluções mais efetivas para o saneamento da bacia, foi instituído um sistema de governança e gestão — com participação das prefeituras de Belo Horizonte e Contagem e do governo estadual — para monitorar, planejar e executar ações de revitalização e gestão hídrica, o Comitê de Gestão Integrada da Bacia da Pampulha (CGI Pampulha) pela integração das ações pela Pampulha.
Este sistema foi implementado por recomendação do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE/MG), que realizou uma auditoria nas ações de recuperação da Bacia e da Lagoa da Pampulha. Para auditora de controle externo do TCE/MG e supervisora do monitoramento dos resultados da auditoria, Heloísa Helena Nascimento Rocha, atuar de forma integrada é primordial para otimização de recursos e solução completa do problema.
“A Lagoa e a Bacia da Pampulha estão localizadas em uma área urbana e sofrem pressão constante que afeta a qualidade da água. É necessária uma atuação integrada e permanente dos órgãos e entidades públicos responsáveis, juntamente com a sociedade, no sentido de revitalizar e preservar a lagoa. Por isso, foi proposta a criação de um sistema de governança e gestão que possibilite que todos atuem juntos, de forma efetiva, tempestiva e transparente”, reforça Heloísa Rocha, que participou da primeira audiência pública do GTI realizada em na primeira semana de dezembro de 2025 para apresentar o plano de trabalho integrado para os próximos anos e mobilizar a sociedade civil.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) atua na despoluição da Lagoa Pampulha há dez anos com a estratégia de redução de fósforo e biorremediação e já teve 100% das metas alcançadas pelo Consórcio Pampulha Viva, com manutenção dos parâmetros previstos.
Contudo, as chuvas, a dragagem da lagoa e o lançamento de esgoto no manancial ainda desafiam as autoridades. Desde 2016, a Hydroscience, empresa responsável pelo controle de fósforo na Lagoa da Pampulha, tem conseguido manter os índices dentro dos limites apropriados com a aplicação do Phoslock, produto para redução do fósforo na água. No entanto, a continuidade de entrada de esgoto na lagoa desafia a operação constantemente.
Nos últimos meses, esforços institucionais têm sido intensificados também pela Prefeitura de Contagem, que atualizou o diagnóstico das nascentes da bacia, reforçando a necessidade de proteção e recuperação dessas áreas.
Retomada da navegabilidade
Em 2025, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) anunciou planos de reabrir a navegação na Lagoa da Pampulha — com passeios turísticos e esportes náuticos previstos ainda neste ano.
Segundo o Executivo nunicipal e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), os resultados recentes de monitoramento — com o Índice de Qualidade da Água (IQA) que atingiu até 82 pontos em alguns pontos de medição — sustentariam a retomada da navegação.
Para o geógrafo e professor Adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Diego Macedo, a previsão de chuvas típicas do verão aumenta a suscetibilidade da lagoa, as variações de qualidade, pois as precipitações favorecem a entrada massiva de poluentes na Pampulha. Isso porque quando chove:
- A água pluvial arrasta lixo, detritos, sedimentos, matéria orgânica e coliformes de diversos bairros e microbacias, transportando tudo pelos córregos até a lagoa;
- Há risco de picos de carga poluente — nutrientes e matéria orgânica chegam de forma concentrada, o que pode sobrecarregar a capacidade de autodepuração da água e reativar processos de eutrofização que provocam novas florações, atrapalhando assim o tratamento preventivo feito pela PBH de sequestro de fósforo;
- Mesmo que índices de qualidade estejam favoráveis hoje, esses parâmetros podem mudar rapidamente após eventos intensos de chuva — o que torna desafiador a manutenção da qualidade da água e uso recreativo ou turístico do espelho d’ água.
O professor da UFMG, que também participou da audiência pública do Comitê de Gestão Integrada da Bacia da Pampulha (CGI), reforça ainda que “a recarga dos córregos na estação chuvosa representa um dos maiores desafios para a recuperação da Pampulha — sem redução da carga poluente que entra, qualquer tratamento de choque será apenas paliativo.”
Comitê de ações integradas
Para responder à complexidade ambiental, políticas públicas e pressões sociais, foi implementado um sistema de governança compartilhada: o CGI Pampulha, que reúne Estado, municípios (Belo Horizonte e Contagem), concessionárias, órgãos ambientais, de saneamento e reguladores.
Em recente visita técnica promovida pelo sistema de governança, foram vistoriados pontos estratégicos da bacia que atestaram a qualidade da água e ausência de metais pesados.
Para os especialistas, a ampliação da rede de coleta e tratamento de esgotos na bacia é o único caminho da despoluição completa e definitiva da Pampulha e esse é um passo importante de coalizão de todos envolvidos para que as ações sejam sistematizadas, feitas de forma conjunta e, por isso, mais eficazes.
Macedo destaca que “sem saneamento completo, sem preservação das nascentes, sem controle da carga poluente na bacia, os tratamentos de despoluição têm suas ações limitadas, pois reduzem os níveis de fósforo, florações de cianobactérias e coliformes fecais, mas não resolvem a entrada contínua do esgoto – que torna o sistema vulnerável a cada período chuvoso.”
E a população participar do processo. Está disponível a consulta pública on-line, na qual qualquer pessoa pode enviar sugestões até o dia 19 de dezembro. A proposta é ampliar o diálogo e aproximar o diagnóstico da realidade dos moradores.
Para participar, clique aqui. Os documentos e materiais técnicos que compõem o escopo do conteúdo da Consulta Pública estão disponíveis aqui para leitura.
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