Terceiro setor debate jornalismo propositivo e notícias que ‘apontem soluções’

Mais do que só informar, buscar ir além, apontar caminhos e estimular soluções construtivas para a transformação social: essa é a proposta da comunicação propositiva, um dos conceitos abordados durante o Encontro Nacional do Terceiro Setor (Enats), realizado pela Federação Mineira de Fundações e Associações de Direito Privado (Fundamig) e pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), nesta quarta-feira (1º), em Belo Horizonte.
O evento, iniciado na segunda-feira (29) e encerrado nesta quarta, no Cine Theatro Brasil, contou com o apoio do Diário do Comércio, que adota como uma de suas premissas o jornalismo propositivo. No painel sobre o tema, a jornalista e presidente do Diário do Comércio, Adriana Muls, compartilhou suas experiências juntamente com os também jornalistas Patrícia Pinho, da Rede Minas e Flávio Tófani, do projeto Tio Flávio Cultural.
“A manchete do dia é sempre importante e necessária e a imprensa é fundamental em um país democrático. Mas a gente pode ir além disso: podemos trazer análises, provocar temas que não estão sendo debatidos, promover articulação tendo esse olhar de colaboração, de visão de futuro, sobre questões estruturantes da sociedade”, afirmou Adriana Muls. “É um grande desafio, pois é mudar um padrão. Falar de um jornalismo propositivo e transformador não é óbvio, não se fala”, completou.

A presidente do Diário do Comércio reforçou que a comunicação propositiva tem impactos na economia como um todo, já que fomenta a inovação e a atração de investimentos, e o terceiro setor não está inserido neste contexto. Ao apresentar problemas junto de soluções, a comunicação propositiva auxilia as organizações da sociedade civil (OSCs) na captação de recursos, melhora a visibilidade, ampliando a rede de apoio, inspira a multiplicação de iniciativas, entre outros benefícios.
“Esse é o nosso objetivo no Diário do Comércio: trazer uma perspectiva do que está vindo aí. Com tantos problemas tão intensos que a gente está vivendo, e no Movimento Minas 2032 a gente fala muito isso, que há crise em todo o lugar. Crise ambiental, social, guerra, política. Os conflitos são acirrados. Então, a perspectiva de uma comunicação propositiva é uma responsabilidade de mudar essa energia. Tem coisa boa acontecendo. Não é notícia ruim que vende e, se vende, deixa para lá, não é o nosso negócio principal. A gente precisa mudar essa lógica”, declarou Adriana Muls.
O Movimento Minas 2032 (MM2032), idealizado pelo Diário do Comércio e pelo Instituto Orior, é uma iniciativa intersetorial que visa mobilizar a sociedade mineira para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
Comunicação propositiva na TV

Apresentadora e editora do Brasil das Gerais, na Rede Minas, desde 2016, a jornalista Patrícia Pinho falou sobre a oportunidade de colocar em prática a comunicação propositiva no programa da televisão aberta e estatal. Segundo ela, a atração trata de assuntos diversos incluindo os desafios que estão em destaque na atualidade, mas há sempre espaço para propor caminhos e apresentar às pessoas comuns trajetórias de inspiração.
“Aprendo diariamente tentando falar do que está acontecendo no mundo, no Brasil, em Minas Gerais, mas também conhecendo pessoas, projetos, ideias, aprendendo com elas, mostrando caminhos, alternativas, soluções possíveis, mesmo que seja uma sementinha. A gente chega na casa de muita gente em BH e no interior de Minas e o que eu tento fazer é essa ponte e ser um ponto de luz. Eu tenho muito a agradecer a esse jornalismo de comunicação propositiva”, contou a apresentadora.
Patrícia Pinho também refletiu sobre a lógica do noticiário atual. “Muitas vezes há o viés do ruim, que é o que dá audiência em alguns casos. Se você quiser buscar esse tipo de notícia, esse recorte, você vai encontrar facilmente. Mas será que não dá para falar do que está acontecendo no mundo de uma forma alternativa, aprofundada, propositiva? Pensando não só em apresentar o problema, mas em tentar descobrir possíveis caminhos e soluções, mostrando exemplos que existem já hoje no nosso dia a dia”, questionou.
Tio Flávio Cultural: informação como pontapé

Professor e palestrante há mais de duas décadas, Flávio Tófani é o idealizador do Tio Flávio Cultural, uma rede voluntária de humanização, solidariedade e convivência que atua em escolas públicas, hospitais, casas de acolhimento para crianças e adolescentes, unidade prisionais, entre outras, criada em 2010. Segundo ele, a relação entre voluntariado e comunicação propositiva é muito importante porque envolve as pessoas na construção de soluções para os mais diversos problemas sociais.
“A gente precisa fazer com que a comunicação eduque a sociedade. E a comunicação propositiva tem esse papel: educar a sociedade para entender qual o lugar de cada uma das pessoas, seja governo, empresa, sociedade, indivíduo, sobre o que cada um pode fazer para termos um mundo melhor. Isso não é sonho, é uma necessidade da gente pensar e agir”, afirmou o jornalista.
De acordo com Tófani, todo o consumidor de informações e notícias, nos mais diversos meios, tem a função não só de absorver conteúdo, como também ‘trabalhá-lo’. “Não é só receber e ficar com elas paralisadas. Uma informação, quando é colocada em ação, gera mudanças. A gente tem que ser crítico com as informações. Temos que fazer as informações úteis serem usadas no dia a dia e colocadas para o bem comum”, encerrou.
Presente na plateia do evento, a gestora Alessandra Santos, da Plenum Brazil, empresa de formação e captação de recursos, comentou sobre a relevância da comunicação propositiva para o terceiro setor. “Falar sobre comunicação propositiva é importante porque nos leva a pensar sobre como o terceiro setor pode se comunicar e como é necessário mostrar para o empresariado a atuação dele, com números referentes a resultados, de forma a trazer viabilidade financeira para esses projetos”, disse.

Jornalismo propositivo é eixo do Diário do Comércio
O jornalismo propositivo, eixo do Diário do Comércio, é uma vertente do jornalismo que apresenta alternativas e soluções para os desafios sociais. Nele, mais do que noticiar problemas, há a busca por informar, inspirar e engajar o público na construção de mudanças positivas.
Características do jornalismo propositivo
- Foco em soluções: evidencia iniciativas que funcionam, seus resultados e impactos;
- Apuração rigorosa: baseia-se em dados, evidências concretas e múltiplas fontes;
- Abordagem completa: contextualiza os problemas sem ignorá-los;
- Função social: contribui para o debate público de forma construtiva;
- Engajamento: aproxima a audiência e estimula a participação cidadã.
Desafios do jornalismo propositivo
- Evitar otimismo ingênuo: reconhecer que nem todo problema tem solução clara;
- Manter neutralidade: evitar a impressão de partidarismo ou propaganda;
- Sustentabilidade: exige rigor, pesquisa aprofundada e tempo de produção.
Enats promove conexão intersetorial
A conexão intersetorial é um dos pilares do Encontro Nacional do Terceiro Setor (Enats). O objetivo é permitir que organizações da sociedade civil (OSCs), governo e empresas se articulem em prol de soluções conjuntas para os grandes desafios sociais.
Em 2025, o tema do Enats é “Filantropia Estratégica: unindo propósitos para o futuro que queremos”. O evento apresentou painéis, rodas de conversa e palestras que abordaram temas para a transformação social, conectados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
O Enats é uma correalização da Fundamig, junto ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Velamento de Fundações e às Alianças Intersetoriais (Caots), e tem o apoio do Diário do Comércio.
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