Movimento Minas 2032

Metodologia possibilitará criação de mapa digital

Metodologia possibilitará criação de mapa digital
Delegada observa monumento “feche a torneira do plástico” | Crédito: REUTERS/Monicah Mwangi

A restauração de ecossistemas é apontada como uma boa alternativa para sequestrar carbono e mitigar as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Basta lembrar que a ONU escolheu a pauta como assunto central de sua década temática (2021-2030).

“No entanto, não existe uma única receita para restaurar um ecossistema, da mesma forma que ainda temos muitas lacunas de conhecimento sobre como fazer isso com eficiência”, aponta o engenheiro agrônomo Pedro Brancalion, coordenador do projeto Restauração de vegetação nativa para sequestro de carbono – Restore C, realizado no Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI). “O objetivo do projeto é entender como funcionam essas diferentes formas para sequestrar carbono e identificar os componentes de custos desses processos”.

O primeiro passo do projeto é investigar essa questão a partir de dois biomas brasileiros altamente diversificados: o Cerrado e a Mata Atlântica. “O acúmulo de carbono varia entre os tipos de ecossistema. Na Mata Atlântica, tem-se grande quantidade de carbono na superfície por causa da profusão de madeira das árvores. Essa situação é diferente no Cerrado, onde há um número menor de árvores e a maior parte do carbono fica estocada embaixo da terra”, explica o pesquisador, que também é coordenador do laboratório de silvicultura tropical da Esalq/USP e vice-coordenador do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica.

Para entender quais conjuntos de espécies, arranjos de plantio ou de regeneração são capazes de tornar o processo de sequestro de carbono mais eficiente, o projeto vai instalar torres de fluxo na Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga (EECFI), no interior de São Paulo. Isso para checar a situação em contexto de Mata Atlântica. Já no caso do Cerrado, o local escolhido é a Chapada dos Veadeiros, em Goiás.

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“Vamos trabalhar com o que há de mais inovador e robusto em termos de metodologia”, diz o pesquisador. “A torre de fluxo é um equipamento importado e extremamente sofisticado capaz de mensurar o que é fixado e liberado de carbono para a atmosfera. Entretanto, ela nunca havia sido utilizada em áreas de restauração de ecossistemas. Nosso projeto é pioneiro no mundo e deve gerar dados inéditos”.

O projeto vai durar cinco anos e reúne uma equipe transdisciplinar composta por nove cientistas de instituições de pesquisa situadas no Brasil, França e Inglaterra. “Ao longo desse tempo vamos investigar outras regiões nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás para cobrir variações presentes nos biomas, a exemplo de solo e clima”, informa o pesquisador. “Além do trabalho de campo, vamos trabalhar com sensoriamento remoto e imagens de satélite. O projeto também tem um forte componente de modelagem: a partir da comparação de algumas áreas pesquisadas, é possível criar um modelo matemático para estimar o potencial de sequestro de carbono de outras áreas”.

A meta final do projeto é produzir um atlas digital, de livre acesso, que mapeie esses locais voltados para restauração de carbono. Ali estarão reunidos dados como o potencial de determinada área, os custos de restauração e a previsão de riscos para a perda de estocagem de carbono, que acontece em casos de acidentes naturais ou provocados pela ação do homem, a exemplo de seca e de incêndios. “O atlas pode ser uma grande ferramenta de apoio na tomada de decisão para quem deseja investir no sequestro de carbono por meio do reflorestamento”, diz o pesquisador.

De acordo com Brancalion, um elemento importante nessa tomada de decisão é conseguir calcular as relações entre custo e efetividade. “É pensar, por exemplo, não de forma absoluta, mas sim na quantidade de carbono sequestrado por unidade de investimento. Vamos supor que ao longo de 10 anos uma empresa possa obter por meio de um projeto de restauração 100 toneladas de carbono ao custo de R$ 10 mil por hectare. Outra opção seria sequestrar 50 toneladas, mas a um custo de R$ 2 mil por hectare. Nesse caso, vale mais a pena investir em áreas com o perfil da segunda alternativa e graças a soma delas conseguir sequestrar mais carbono com o mesmo investimento exigido pela primeira opção. O mapa ajudará na localização de quais são as áreas mais indicadas para determinado projeto”.

Nesse cálculo é preciso levar em conta uma série de variáveis em nome da melhor escolha de investimento. “Se o investidor já possui a terra, seu custo de implementação será plantar mudas e cuidar da manutenção da área. Mas há também o custo de oportunidade de uso da terra, que é o valor pago a terceiros para se usar determinada área para restauração. Por exemplo, se um proprietário rural lucra R$ 400 por hectare/ano com seu pasto, dificilmente vai ceder essa área por um valor menor do que esse. Com o mapa podemos calcular o custo total de sequestro de carbono ao cruzar os custos de oportunidade com os custos de implantação”.

Brancalion estuda a reconstrução de ecossistemas desde a graduação, concluída em 2006. Recentemente, ele foi apontado como um dos 21 pesquisadores altamente citados na lista elaborada pela empresa britânica Clarivate Analytics. “A restauração ambiental é uma área nova, que atrai muita atenção em tempos de mudanças climáticas. A situação em nosso País é preocupante. A Mata Atlântica vem sendo destruída desde a chegada dos portugueses no século XVI e hoje seus resquícios são ilhas isoladas em meio a áreas agrícolas. O Cerrado também possui níveis significativos de desmatamento e está mais quente, seco e propenso a grandes queimadas”, alerta o especialista para completar: “O mais gratificante nessa profissão é ver uma área degradada ganhar vida, é sentir que o trabalho está contribuindo para deixar um legado para as próximas gerações”.

ONU acata maior acordo verde desde Paris

Nairóbi – A Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou ontem um acordo histórico para criar o primeiro tratado global de poluição por plástico, descrevendo-o como o pacto ambiental mais significativo desde o acordo climático de Paris de 2015.

Os Estados membros conversaram por mais de uma semana em Nairóbi para concordar com o esboço de um acordo para conter a crescente poluição plástica, uma crise ambiental que se estende das fossas oceânicas ao topo das montanhas.

Autoridades governamentais aplaudiram e deram socos no ar após a adoção de uma resolução para criar um tratado legalmente vinculante sobre poluição por plástico, que deve ser finalizado até 2024.

“Estamos fazendo história hoje e todos vocês devem se orgulhar”, disse Espen Barth Eide, presidente da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unea). “A poluição plástica se transformou em uma epidemia. Com a resolução de hoje, estamos oficialmente no caminho da cura.”

A resolução, que a Unea chama de “o pacto ambiental mais significativo desde o acordo de Paris”, foi escrita em termos amplos e um comitê intergovernamental agora tem a tarefa de negociar um tratado vinculante que terá efeitos cascata em empresas e economias em todo o mundo.

Qualquer tratado que imponha restrições à produção, uso ou design de plástico afetará empresas de petróleo e produtos químicos que fabricam plástico bruto, bem como gigantes de bens de consumo que vendem milhares de produtos em embalagens de uso único.

Isso também teria um impacto significativo nas economias dos principais países produtores de plástico, incluindo Estados Unidos, Índia, China e Japão.

Embora as autoridades da ONU tenham se unido na celebração do acordo para um tratado de plástico, ainda há divergências sobre o que deve ser incluído em um pacto final, disse o embaixador da Suíça para o Meio Ambiente, Franz Perrez.

“Esta é uma divisão entre aqueles que são ambiciosos e querem encontrar uma solução e aqueles que não querem encontrar uma solução por qualquer motivo”, disse ele em entrevista coletiva em Nairóbi na terça-feira.

Há um apoio público esmagador para um tratado da ONU sobre poluição plástica, de acordo com uma pesquisa da Ipsos divulgada este mês, e os delegados foram rápidos em comemorar o que conseguiram em Nairóbi.

“Este é apenas o fim do começo, temos muito trabalho pela frente”, disse uma emocionada Monica Medina, chefe da delegação dos Estados Unidos. “Mas é o começo do fim do flagelo do lixo plástico para este planeta.” (Reuters)

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