Movimento Minas 2032

Minas Gerais alcança o 3º lugar no ranking nacional dos 17 ODS

Estado cai para a décima nona posição ao se considerar especificamente a ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes; neste 20 de fevereiro, é celebrado o Dia Mundial da Justiça Social
Minas Gerais alcança o 3º lugar no ranking nacional dos 17 ODS
Crédito: Adobe Stock

Nesta terça-feira (20) é celebrado o Dia Mundial da Justiça Social. A data, criada em 2007 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, marca a necessidade de ações voltadas para a resolução do cenário mundial de desigualdades sociais. Para fomentar essas ações, a ONU criou em 2012 os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). E Minas Gerais ocupa o terceiro lugar na implementação dos 17 ODS, de acordo com um ranking nacional.

O Estado figura com índice 49,39 – atrás apenas de São Paulo (55,49) e do Distrito Federal (59,40). Os dados foram compilados a partir de uma padronização de indicadores feita pelo Movimento Minas 2032 (MM2032), idealizado pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO em parceira com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG).

Ranking nacional das 17 ODS por Estado; Minas figura em terceiro lugar.
Ranking nacional das 17 ODS por Estado; Minas figura em terceiro lugar.

“A escala de 0 a 100 mede o alcance das ações dentro de cada Estado. Minas Gerais teve uma pontuação de 49,39, considerada baixa, dentro da escala, mas com uma margem pequena em relação aos dois primeiros colocados, variando 10% e 20% respectivamente”, explica Gabriela Martins, economista responsável pela padronização dos dados.

Apesar da posição favorável ao Estado no ranking geral, Minas Gerais cai para a décima nona posição ao se considerar especificamente a ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes. O Estado, nesse quesito tão ligado à temática da justiça social, tem um percentual de alcance de 49,35 – abaixo do índice do Brasil para esse ODS, que é de 51,07.

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Notas de Minas Gerais em cada um dos ODS das Nações Unidas.
Notas de Minas Gerais em cada um dos ODS das Nações Unidas.

O índice de pobreza de Minas Gerais, aliás, é maior que o Brasil, país em que a diferença entre ricos e pobres ainda é grande. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Gestão e Estatísticas (IBGE), em 2023 a pobreza no país alcançou 31,6% da população. Já Minas Gerais tem o índice de pobreza de 32,1%, considerado alto segundo especialistas.

“Figurar em décima nona posição no ODS 16, que inclui a justiça social, mostra que precisamos avançar. E só conseguimos perceber essa realidade porque o Movimento Minas 2032, junto à Fecomercio, trabalhou pela padronização dos indicadores. Esses dados ajudam a identificar, em números, o que precisa ser feito”, diz Adriana Muls, presidente e diretora editorial do DIÁRIO DO COMÉRCIO e coordenadora do MM2032.

O Terceiro Setor na promoção da justiça social

Para Mara Greide, socióloga, pesquisadora e assessora técnica de projetos, a efetivação da justiça social implica a promoção de ações que erradiquem a pobreza, garantam o acesso ao trabalho decente e permitam a constituição de sociedades mais igualitárias e diversas.

“A justiça social só é possível com o trabalho articulado entre Primeiro, Segundo e Terceiro setores. O Estado, os agentes econômicos e a sociedade civil organizada, atuando em parceria, podem e devem orientar a construção de políticas públicas de inclusão e efetivação da cidadania. Desta forma, justiça social se constrói por meio de um trabalho conjunto e transversal”, diz ela.

E o Terceiro Setor avança. Várias ações são feitas pelas Organizações da Sociedade Civil (OSCs), entidades privadas sem fins lucrativos, que trazem para si a responsabilidade de promover a justiça social através de educação, acolhimento, capacitação e reinserção no mercado de trabalho, pilares básicos para a sociedade atual. As mais de 80 mil OSCs realizam para os mineiros uma assistência fundamental no combate às desigualdades sociais.

Na esteira das ações sociais, o Sistema Divina Providência (SDP) é um exemplo de instituição que atua pela justiça social há mais de meio século. Presente na capital e em outras cinco cidades mineiras, atende cerca de 200 mil pessoas por ano.

Seus serviços incluem:

  • educação infantil,
  • ensino fundamental e médio,
  • cursos profissionalizantes em nove Centros de formação Profissional,
  • atenção completa ao idoso em Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPIs),
  • fornecimento de mais de 4 milhões de refeições a cada ano,
  • além de 2 programas e 17 projetos sociais.

Uma de suas 19 obras, a Cidade dos Meninos São Vicente de Paulo, é referência na cidade de Ribeirão dos Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte. E já ajudou a transformar muitas vidas. Como a de Fagner Silva, proprietário do Gulla Burguer. O empresário foi estudante lá e conta que a família era de origem muito pobre, com dificuldade na alimentação, educação e transporte, e que desde pequeno ele sempre pensava em como mudar sua realidade.

“Quando entrei para estudar na Cidade dos Meninos São Vicente de Paulo meus pais tiveram a tranquilidade de que eu estava em uma instituição séria que ia me educar e me acolher. Lá aprendi a ter disciplina e a aproveitar todas as oportunidades que a instituição oferecia. Hoje vejo a força e a necessidade do Terceiro Setor na vida de pessoas em situação de vulnerabilidade social, pois ele promove mudanças profundas. O Sistema Divina Providência me acolheu e o Terceiro Setor de meu uma oportunidade”, diz Silva.

Fagner Silva, proprietário do Gulla Burguer | Crédito: arquivo pessoal
Fagner Silva, proprietário do Gulla Burguer | Crédito: arquivo pessoal

Outro exemplo é o de Marcos Brey, sociólogo e produtor cultural. De sua experiência como professor de sociologia na Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG), decidiu criar o Instituto Cultural Semifusa, que atua na área cultural em Ribeirão das Neves. A ideia era promover a justiça social para si e para sua região.

“Quando abrimos o instituto, não tínhamos o conhecimento necessário do Terceiro Setor. Tivemos que aprender sobre políticas públicas, captação de recurso, prestação de contas, entre outros temas importantes sobre organizações não governamentais. Somente há dois anos conseguimos ter um espaço físico e, já no primeiro ano, trouxemos quatro jovens aprendizes para trabalhar no Semifusa, fruto de uma parceria nossa com a Cidade dos Meninos São Vicente de Paulo”, diz ele.

Brey conta que o Instituto oferece cursos na área de arte e cultura. O curso de moda foi o que teve mais êxito, revelando verdadeiros artistas. Em contrapartida, cursos que eles pensaram que teriam uma grande concorrência não foram bem acolhidos pela comunidade local.

“A parceria entre os três setores é muito importante. Enquanto o Primeiro Setor constrói as políticas públicas, o Segundo Setor aporta os recursos e nós do Terceiro Setor conseguimos chegar às necessidades da comunidade e atuar com decisões acertadas. Quanto mais instituições do Terceiro Setor aderirem ao compartilhamento de informações, como no caso do Semifusa e da Cidade Dos Meninos São Vicente de Paulo, mais assertivas serão as decisões de melhorias e inclusão social”, diz ele.

Ressignificação e fomento da dignidade humana

Mara Greide destaca que, historicamente, no caso brasileiro, o Terceiro Setor foi originado para o desenvolvimento de atividades assistenciais, mas, com a promulgação da Constituição de 1988, ele foi ressignificado e passou a ser um importante ator político para a promoção de políticas públicas necessárias para a justiça social.

Adriana Muls concorda: “Os exemplos da força do Terceiro Setor na redução das desigualdades comprovam que o caminham de seu fortalecimento é primordial.”

Para Dolores Bertila, superintende geral do SDP, todas as parcerias entre organizações do Terceiro Setor são importantes, porque convergem para o fomento da dignidade humana.

“Em um contexto tão desafiador como o atual, é fundamental reconhecer a importância da iniciativa de cada uma pela justiça social. Parcerias entre os setores público, privado e organizações são fundamentais. Fazemos nosso trabalho em nossas instituições. Estamos comprometidos no Sistema Divina Providência em oferecer assistência de qualidade para os mineiros. E estou certa que podemos mais. Todo mundo tem um pouco para colaborar e, neste 20 de fevereiro, convoco a todos a fazerem a justiça social, todos os dias promovendo a dignidade e a inclusão. Nosso trabalho visa impulsionar mudanças significativas em nossa sociedade, impactando vidas. Sabemos que isso só é possível por meio da colaboração mútua e do comprometimento com o bem-estar de todos”, diz ela.

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