Movimento Minas 2032

Solidariedade estratégica: quando empresas unem forças por um impacto social real

Tendência do mundo corporativo hoje é que essa atitude transcende a filantropia e ocupa o centro de planejamentos estratégicos dos negócios
Solidariedade estratégica: quando empresas unem forças por um impacto social real
“Escola Nota 10”, desenvolvida pela MRV em parceria com Alicerce Educação, foi criada para suprir lacuna na construção civil | Foto: Divulgação Nitro

Mais do que uma efeméride do calendário da Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Internacional da Solidariedade Humana, comemorado no dia 20 de dezembro, reflete uma tendência do mundo corporativo: a solidariedade transcende a filantropia para ocupar o centro dos planejamentos estratégicos. Em sintonia com essa agenda global, o Diário do Comércio aproveita a data para destacar como empresas mineiras, governo e terceiro setor têm unido forças para impulsionar compromissos com acordos internacionais e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), agenda do Movimento Minas 2032, liderado pelo veículo. Ao fortalecer parcerias estratégicas (ODS 17), essas iniciativas comprovam que a cooperação é uma ferramenta eficaz para reduzir desigualdades (ODS 10) e gerar impacto social real.

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Para além do cumprimento de indicadores, o engajamento crescente das empresas em projetos sociais e na agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) reflete, na opinião do coordenador do curso de Gestão de ODS da PUC Minas, Lúcio Flávio Machado, uma visão humanística de longo prazo.

Segundo o professor, que também é diretor da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE Minas), a solidariedade é o eixo que conecta os conceitos de sustentabilidade e responsabilidade social. “A solidariedade é um reconhecimento ético de interdependência humana. A empresa é construída por pessoas e a gente não pode deixar de fora esse reconhecimento humano”, explica Machado.

“A solidariedade, para mim, é o esteio disso tudo, é o que une, é o vínculo entre os CPFs que constituem o CNPJ”, se referindo ao Cadastro de Pessoa Física (às pessoas) e ao Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (às empresas).

Machado destaca que a amplitude da solidariedade na economia atinge de forma prática quase todas as ODS, como Erradicação da Pobreza (ODS 1), Fome Zero (ODS 2), Trabalho Decente (ODS 8), assim como o de Redução das Desigualdades (ODS 10).

O especialista aponta que a prática da solidariedade, embora por vezes confundida com filantropia pontual, é um princípio ético essencial para que uma empresa seja de fato ecologicamente e socialmente responsável. “A solidariedade é uma visão humanística. É o reconhecimento de um princípio que, para mim, é básico no ambiente da economia: o bem comum,” conclui Machado, ao citar a relevância de projetos reais que impactam positivamente a sociedade.

MRV e a “Escola Nota 10”: alfabetização nos canteiros de obra

Um exemplo de projeto neste sentido é o projeto “Escola Nota 10”, desenvolvido e liderado pela construtora MRV há 14 anos para alfabetizar trabalhadores da construção civil nos próprios canteiros de obras, em parceria com a Alicerce Educação.

O projeto, que já alfabetizou mais de 5 mil trabalhadores, foi recentemente reconhecido com o Leão de Bronze no Cannes Lions 2025 – o festival internacional de criatividade na França – e nasceu para suprir uma lacuna diagnosticada na empresa. De acordo com o diretor executivo de Relações Institucionais da MRV, Raphael Lafetá, a construção civil é tradicionalmente uma porta de entrada para uma mão de obra menos qualificada.

“Essa mão de obra, muitas vezes, vem sem acesso à educação básica e a interação com este trabalhador fica mais prejudicada nas áreas de segurança do trabalho, nas instruções de leitura de planta ou de placas. Na medida que tínhamos este problema, procuramos dar mais do que oportunidade de emprego, mas também dignidade e inclusão por meio da educação,” comenta Lafetá.

Em 2025, a MRV investiu R$ 1 milhão no projeto e certificou 308 colaboradores em alfabetização, ensino fundamental e médio. Atualmente, o programa conta com 180 alunos ativos em 32 escolas em funcionamento, sendo que quatro deles realizaram a prova do Enem.

Direcional Engenharia e o “Recomeçar”: reinclusão social

Outro projeto com foco em parcerias para o desenvolvimento social e redução das desigualdades é o “Recomeçar” da Direcional Engenharia, voltado à empregabilidade e inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade, privadas de liberdade (Recomeçar Reclusos), migrantes ou refugiadas (Recomeçar Refugiados).

Projeto “Recomeçar”
Projeto “Recomeçar” é direcionado para pessoas em situação de vulnerabilidade, das privadas de liberdade e também de migrantes ou refugiados | Foto: Divulgação Direcional

No caso do “Recomeçar Reclusos”, o programa funciona em parceria com a Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais, oferecendo a pessoas em regime semiaberto a oportunidade de trabalhar nos canteiros. A cada três dias trabalhados, o participante tem a redução de um dia da pena, conforme esclarece a Superintendente Administrativo de Obras da empresa, Gláucia Brasileiro.

“Atualmente são 150 reclusos em regime semiaberto trabalhando nas nossas obras. Mas, no período de março a novembro de 2025, demos oportunidade de trabalho formal para mais de 320 pessoas privadas de liberdade,” afirma Gláucia Brasileiro.

A superintendente explica que o programa oferece treinamentos, integração e acompanhamento permanente. Segundo ela, a iniciativa é uma forma de oferecer “oportunidade de reintegração social, redução de pena e um ambiente estruturado que contribui para a construção de novas perspectivas de vida. Além disso, a iniciativa fortalece o processo de ressocialização e contribui para redução da reincidência”, comenta.

Para imigrantes e refugiados, o programa oferece emprego formal e acolhimento. “Já empregamos mais de 180 pessoas da Venezuela, Haiti, Angola, Bolívia e Peru, com atuação no Amazonas, São Paulo, Minas Gerais e no Distrito Federal. É um programa que promove dignidade, autonomia e reconstrução de trajetória ao dar acesso ao mercado de trabalho, acolhimento, apoio documental, treinamento, integração, oportunidade de ascensão profissional e inclusão produtiva”, detalha Gláucia Brasileiro.

Instituto Localiza: capacitação e porta de entrada

No Instituto Localiza, mantido pela Localiza&Co, o foco está na capacitação técnica e o projeto já beneficiou mais de 80 mil jovens em todo o Brasil. O destaque é a Academia de Capacitação do Instituto, que conta com a parceria do time de voluntários da Localiza&Co, que compartilham sua expertise profissional em jornadas práticas de aprendizagem.

Ao final dos cursos, os jovens participantes são integrados aos processos seletivos da companhia. Dos formados, aproximadamente 20% tornaram-se colaboradores da própria Localiza&Co, enquanto os demais conquistaram oportunidades em outras empresas ou ampliaram sua renda e condições de trabalho.

Alessandra Peixoto
Diretora do Insituto Localiza: reforço na postura de empresa cidadã | Foto: Pedro Vilela / Agência i7

A assistente de compras da Localiza&Co Stephanie Silva, foi aluna do programa de Formação em Compras e conta que a oportunidade foi um divisor de águas na vida dela. “Aprender com profissionais experientes contribuiu para a minha rede de relacionamentos. Isso me deu confiança para participar do processo seletivo da companhia e hoje tenho a alegria de fazer parte da equipe, com quem continuo aprendendo. O curso me permitiu aumentar minha renda e me deu o impulso para fazer a faculdade de Administração”, conta.

Stephanie Silva
Assistente de compras, Stephanie Silva fala em divisor de águas | Foto: Pedro Vilela / Agência i7

A diretora do Instituto Localiza, Alessandra Peixoto, pontua que o investimento social da empresa no Instituto reforça a postura de empresa cidadã. Segundo ela, acreditar no potencial da juventude sobretudo num momento em que o País caminha para uma transição demográfica, com a população envelhecendo mais rapidamente, reforça a importância de incentivar a população jovem do País a se qualificar e se colocar em oportunidades de trabalho e renda, contribuindo com os indicadores de uma população ocupada.

“Preparar o jovem e conectá-lo com oportunidades de trabalho e renda é contribuir para que ele tenha autonomia, qualidade de vida, para que ele possa apoiar o crescimento de sua família e de sua comunidade. Dessa forma, contribuímos para deixar um legado para a sociedade que vá além do entregue por seu próprio negócio”, finaliza.

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