Movimento Minas 2032

Sustentabilidade dos negócios exige consumo consciente da água

Antes de chegar às casas, 40,3% da água tratada no País é perdida; em MG, índice é de 36,8% e, em BH, de 41,8%
Sustentabilidade dos negócios exige consumo consciente da água
O País detém cerca de 12% do total de reservas de água doce disponível na Terra, enquanto a população brasileira não chega a representar 3% nesse montante | Crédito: AdobeStock

O dia 22 de março foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Mundial da Água. A data foi criada para alertar a humanidade sobre a necessidade de que todos – governos, empresas e sociedade civil – cuidem, preservem e façam um uso racional desse insumo sem o qual a vida não é possível sobre o planeta. O objetivo de uma economia que preze pela sustentabilidade passa, necessariamente, pelo uso racional da água.

Esse tema deve ser ainda mais sensível aos brasileiros. O País detém cerca de 12% do total de reservas de água doce disponível na Terra, enquanto a população brasileira não chega a representar 3% nesse montante. Ao mesmo tempo, infelizmente, o Brasil ainda ostenta altos índices de desperdício de água. Dados do Instituto Trata Brasil mostram que 40,3% da água tratada no País é perdida antes de chegar às casas. Em Minas Gerais, esse índice é de 36,8% e, na Capital, 41,8% de perda. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), algumas cidades têm desempenho ainda pior. Betim e Contagem ficam acima de 50% e Ribeirão das Neves alcança a marca de 56,1%.

De tão importante, a Água ganhou um Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) só para ela. O ODS 6 diz: “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos”. Entre outros pontos ele preconiza até 2030: alcançar o acesso universal e equitativo à água potável e segura para todos; alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos, e acabar com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade.

Segundo a presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, a ideia de que o Brasil é um País rico em recursos naturais e que isso é o suficiente para que se desenvolva economicamente é um dos grandes obstáculos para que avance em políticas públicas e ações privadas de conservação e preservação da água.

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“O setor produtivo precisa ser parte da solução. A gente ainda vive na cultura da abundância e só damos valor à água quando não temos. Ainda estamos no início de uma conscientização sobre o uso da água. As pessoas estão sentindo os efeitos das mudanças climáticas. Em termos culturais, estamos no início dessa virada de chave. Precisamos entender que cada vez que eu uso a água de maneira incorreta, isso significa que estou captando, tratando, alterando a flora, fauna, regime de vazão do rio e perdendo essa água na distribuição. Precisamos investir na redução de perda”, explica Luana Pretto.

Grandes empresas já perceberam não apenas a própria necessidade de fazer um uso racional da água para garantir a sustentabilidade do negócio, como também para manter relações saudáveis com a comunidade do entorno, consumidores e financiadores.

Gerdau reaproveita 97,7% dos recursos hídricos por meio de sistemas de recirculação

Uma das maiores siderúrgicas do mundo, a Gerdau reaproveita 97,7% dos recursos hídricos por meio de sistemas de recirculação. Segundo a gerente geral de Meio Ambiente da Gerdau, Cenira Nunes, nos últimos anos, investimos mais de 800 horas em capacitação para líderes em todo o Brasil.

“Cuidar da água é uma questão de responsabilidade com o futuro. Trabalhamos a recirculação hídrica não só devido à legislação. A gestão da água faz parte da nossa estratégia de sustentabilidade. Em 2022 e 2023, passamos a reportar nossas ações na plataforma CDP Água, que mede a performance de resultado e o engajamento. Se a equipe reconhece esses indicadores, se existe uma governança que leve a organização a outros patamares, a ação está no caminho certo. A gestão hídrica vai ficar mais complexa com as mudanças climáticas. A CDP ajudou a nos avaliar e reconhecer o alinhamento das nossas equipes. Todas as operações têm as suas metas. Todos sabem os limites legais e a nossa ambição”, afirma Cenira Nunes.

Para alcançar as metas estabelecidas a indústria precisa, não só, identificar possíveis desperdícios, como ajustar processos, treinar equipes, trabalhar a cultura interna e promover inovação em máquinas e equipamentos.

“As mudanças climáticas têm trazido para a nossa experiência como cidadãos e como produtores de aço muitas reflexões e mudanças. Os extremos fazem a gente aprender na dor. O nosso comportamento com a água não pode ser mais o mesmo. A prioridade tem que ser o consumo humano, a indústria pode ficar sem ela para produzir. O uso da água tem a ver com a sustentabilidade do negócio, não se faz aço sem água. Quanto mais a gente consegue recircular, mais reduzimos os custos da produção. Temos que aprender a fazer mais com menos. A maior usina da Gerdau fica em Ouro Branco (região Central de Minas) e identificamos que o maior risco para a operação é a escassez hídrica. A partir deste estudo conseguimos reduzir 30% do uso na unidade”, destaca a gerente geral de meio ambiente da Gerdau.

Comércio e serviços assumem responsabilidade no uso racional da água

No Brasil, a agropecuária é responsável por 72% de toda a água consumida no País. A atividade industrial vem em segundo lugar. Por fim, o uso doméstico e comercial são os que, proporcionalmente, menos consomem água, apresentando apenas 8% de todo o consumo médio. Ainda assim, talvez pela proximidade com o público final, cada vez mais atento às ações sustentáveis e menos disposto a engolir discursos falsos, comércio e serviços têm se dedicado a desenvolver processos e estabelecer metas de redução do consumo de água.

A T&D Sustentável, uma greentech do segmento de “Construção Civil e Sustentabilidade”, tem como propósito desenvolver tecnologias e serviços totalmente focados no combate ao desperdício de água.

A startup oferece um pacote de serviços integrados, que otimiza o consumo de água, realiza treinamentos de conscientização e boas práticas, gerencia diariamente o consumo, e também propõe projetos de eficiência e melhorias sem a necessidade de investimentos por parte dos clientes. O diferencial é que a empresa contratante paga sobre a economia gerada um percentual de 50%. 

Segundo o diretor nacional e sócio da T&D Sustentável, Felipe Mendes, a empresa já evitou o desperdício de mais de 580 milhões de litros de água, equivalentes a uma economia superior a R$ 18 milhões para clientes renomados de todo o Brasil, como Rede D’Or, Rede Guanabara, Unimed, Eleva Educação e multinacionais do setor de óleo e gás entre outros.

Em Minas Gerais, a startup tem clientes em Juiz de Fora, na Zona da Mata, e começou este mês a atender clientes da Rede D’Or em Belo Horizonte.

“Quando começamos, em 2018, os clientes vinham só pela economia financeira. Agora já percebem que a economia de água gera outros ganhos, como a redução de efluentes e uma menor geração de CO₂. Hoje disponibilizamos essas métricas sustentáveis com retorno financeiro. A Agenda 2030 da ONU ajudou muito, criando diretrizes para os países. Começaram a surgir leis e as estatais passaram a exigir ações sustentáveis dos seus parceiros. Mas ainda temos um quarto da população mundial sem água potável e, até 2030, isso não vai ser resolvido. Precisamos parar de desperdiçar”, afirma Mendes.

Shoppings são templos do consumo

No passado, apelidados de “templos do consumo”, muitos shopping centers também compõem o esforço coletivo por um mundo em que a água seja utilizada como um insumo essencial e cada vez mais escasso para a vida das pessoas e para a produção de bens e serviços.

Lucy Jardim: Shopping Cidade terá central de reúso de água | Crédito: Fabio Ortolan

Em 2010, o Shopping Cidade, no Hipercentro da Capital, instalou 15 caixas de reúso de água com 1,5 m³ cada (22,5 m³) no estacionamento. Elas captam a água de chuva, que é reutilizada na limpeza dos estacionamentos e nas descargas sanitárias. Este projeto representa 3% de economia no consumo de água nos períodos úmidos. É o equivalente ao consumo médio de 100 residências por mês.

De acordo com a gerente de Marketing do Shopping Cidade, Lucy Jardim, está em desenvolvimento o projeto de uma central de reúso de água que irá tratar toda a água servida oriunda das operações de alimentação, aproximadamente 3.000 m³ mensais. Esta estação irá atender ao consumo de água dos sistemas de ar-condicionado e dos processos de limpeza e da descarga dos sanitários. Uma redução equivalente ao consumo médio mensal de água de mais de 900 residências, totalizando uma economia de mais quase 50% do consumo mensal do mall.

“Essa é uma preocupação de muitos anos. As mudanças climáticas nos mostram a importância disso. Estamos no Centro da cidade, é uma região muito mais adensada e precisa de mais atenção sob o ponto de vista da responsabilidade ambiental. Temos, além disso, um papel de educação dos diversos públicos que passam por aqui. Recebemos mais de 50 mil visitantes por dia, sendo 25% de outras cidades. Então, o tempo todo promovemos campanhas, conversamos e mostramos na prática que a sustentabilidade do Shopping Cidade e a qualidade de vida de todos que passam por aqui está ligada ao bom uso que fazemos da água”, destaca Lucy Jardim.

O uso consciente da água é uma das premissas do Movimento Minas 2032 (MM2032) – pela transformação global. Liderado pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, o MM2032 propõe uma discussão sobre um modelo de produção duradouro e inclusivo, capaz de ser sustentável, e o estabelecimento de um padrão de consumo igualmente responsável, com base nos ODS.

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